domingo, 16 de março de 2014

Peso da solidão



A ausência dos filhos gera uma sensação de solidão, de desamparo que não me abandona. Impossível viver qualquer minuto do dia sem trazê-los à memória. Presença constante. Cada detalhe uma lembrança. “Ah! Depois você se acostuma.” Engano total. No meu casão não funciona. O tempo vai ficando para trás e a face dos filhos aparece em cada canto da casa. Vejo-os chegando, andando pela casa ou espalhados pelo chão assistindo a um bom filme. Risos, falas altas, gargalhadas. E, a todo o momento: “Mãe!” Domingo estão, quando estávamos  juntos o dia todo, desassossego em dobro.
Nesse domingo, a solidão foi mais pesada. Filhos fora, esposo viajando. Que eu me lembre, nunca havia passado um domingo sozinha. Como havia algumas tarefas inadiáveis, não pude pedir asilo onde tivesse companhia. Fiquei completamente só. O coração cresceu e apertou o peito.
O horário do almoço foi sombrio. Olhei pelos lados, nos armários. Nada servia. Carne pronta na geladeira. Nem cheguei a abrir a porta. Precisava comer algo. Preparei uma omelete e sentei à mesa. A primeira porção cresceu na boca. O estômago reclamou. A garganta se fechou. As lágrimas pediram espaço. Uma figura amada apareceu bem à frente. Os ouvidos ouviram longe, outros tempos, os meninos disputando para ver qual ia se sentar próximo a mim. A cachorrinha apareceu devolvendo-me a lucidez. Um pouco mais de esforço e alguns pedaços foram consumidos.
O tempo livre foi ainda mais denso. A televisão não me prendeu. O pensamento não quis acompanhar a leitura de um livro. – Bem que tentei. – Nada nas redes sociais. Resolvi, então, traduzir em palavras aquilo que o coração teimava em me dizer.
Ficar a sós alguns momentos é bom para refletir, tomar decisões, colocar a cabeça no lugar. Mas sentir-se só é muito triste. O ser humano não foi criado para a solidão. Como deve ser triste a vida de quem fica o dia todo sem falar com ninguém. Sem ter alguém que lhe escute os gritos da alma. O dia passa, a noite vem, logo rompe a aurora e nada foi dito, nem ouvido, nem dividido.
Penso na realidade e constato que, por necessidade ou capricho do destino, há muita gente vivendo só. Sei também que muitos escolhem viver assim. E penso que um dia, quem sabe, possa ser eu a viver nessas circunstâncias. Mas não será por livre escolha, isso eu tenho certeza. Gosto de sentir a presença do outro. Ter alguém com quem conversar, dividir as alegrias e tristezas, as certezas e as dúvidas. Sair de casa e saber que tem alguém esperando  minha volta. Ou, ao contrário, esperar a hora do almoço ou o final da tarde e saber que tem alguém para chegar.
A tarde começa a se despedir. As primeiras sombras caem sobre a terra. Entre lembranças, saudades e apertos no coração, alegro-me ao saber que, em breve, alguém vai chegar e preencher pelo menos um pouco dos meus espaços vazios.
Luisa Garbazza
16 de março de 2014

3 comentários:

  1. Prezada Luisa. Dia 22 de março é o aniversário do Padre Robson Teixeira. Sou prima dele e, como não posso cumprimentá-lo pessoalmente, peço a você que lhe transmita o meu abraço de parabéns. Agradeço-lhe muito. Maria Zuleika.

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  2. Terei o maior prazer, Zuleika.
    Padre Robson é muito querido aqui.

    Obrigada pela participação no meu blog.
    Abraço.

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    1. Eu é que agradeço pelos belos textos que você escreve para o entretenimento de seus leitores. Ficarei feliz com a sua visita ao meu blog www.literaturadazu.blogspot.com.br
      Grande abraço.
      Zuleika.

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