segunda-feira, 20 de junho de 2016

Cheia



Cheia é a lua que invade o céu 
e nos presenteia com seu brilho.
Certeza de coração sensibilizado, alma leve
e olhar de admiração.

Cheia é a alma que carrega o amor 
e espalha alegria e paz.
Certeza de alegria, solidariedade, harmonia
e nada de solidão.

Cheia é a vida de quem se doa 
e se põe a serviço.
Certeza de dias movimentados, irmãos acolhidos
e muita oblação.  

Cheia é a água que vem de repente 
e enche os rios.
Certeza de terra fértil, colheita garantida
e mesa cheia de pão.

Cheia é a boca que se satisfaz 
e eleva ao Pai uma prece.
Certeza de fartura, de família reunida
e pura gratidão.

Luisa Garbazza
20 de junho de 2016

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Santa devoção


Um dos pontos altos da fé católica é a devoção aos santos: almas puras que evangelizaram com a própria vida e foram agraciadas aos olhos de Deus e dos homens. Temos inúmeros exemplos de santos que fazem parte dos altares no mundo inteiro. Cada país, região ou comunidade dedica uma veneração mais acentuada por este ou aquele santo, celebram com fé sua presença e pedem intercessão nos momentos de dificuldade.
No dia 14 de maio, pude presenciar momentos de exteriorização da devoção a Santa Rosa de Lima, no Engenho do Ribeiro. Fomos convidados para a missa nessa comunidade às 18 horas. O que presenciamos, mais que uma simples missa, foi uma grata surpresa.
Chegamos à praça, em frente à igreja, às 17h45: portas fechadas, duas moças sentadas na beirada do passeio, umas três pessoas mais afastadas. Sentamo-nos em um dos degraus para aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Vimos as pessoas chegarem, aos poucos, e aglomerarem-se na longa escadaria. E tudo foi acontecendo: abriu-se a porta da igreja para dar passagem a um belo mural com a estampa de Santa Rosa; duas meninas, em um contínuo vai e vem, distribuíam folhetos e sorrisos; algumas pessoas distribuíam bandeirinhas; alguém se aproximou de nós convidando para fazer uma leitura; ouviu-se ao longe o barulho das buzinas que anunciavam a chegada da santa: a imagem peregrina, que está visitando as famílias da comunidade.
Ao som de hinos, os fiéis abriram uma passarela para deixar a padroeira passar. No alto da escadaria, permaneceu a santa, que, só depois de o povo todo entrar, foi levada para o interior da igreja. Seguiu-se a procissão para a Santa Missa: uma celebração bonita, bem participada e coroada com as sábias palavras do Padre Mundinho em uma homilia digna de Pentecostes.
Após a celebração, outra família retirou a imagem de Santa Rosa de Lima para nova peregrinação. Uma saída festiva, com cantos e alegria. Uma fila considerável de carros acompanhava a imagem, que seguia ao som das buzinas – manifestação da fé.
A chegada à casa que ia acolher a imagem peregrina revelou o entusiasmo daquela família e a preparação para aquele momento, o que podíamos perceber pelos enormes arcos de bambus enfeitados com flores coloridas, colocados estrategicamente nas porteiras, para adornar nossa passagem. Ao som de fogos, cantos e palmas, a imagem foi levada para a varanda da casa e colocada no altar. Ali, no aconchego daquele lar, as pessoas se reuniram em torno da santa para um momento de espiritualidade: uma oração feita pelo padre; cantos em louvor a Santa Rosa; depoimento de uma graça alcançada. Uma palavra da família que se despedia da santa, outra da família que a recebia: uma fala simples, despreocupada, que, na sua simplicidade, revela a grandeza de Deus. Uma fala dirigida à “gente de casa”, como se fôssemos uma só família. E o somos: família dos cristãos. O canto e a oferta de rosas encerraram o momento de oração.

Não havia maneira melhor de concluir essa peregrinação: a dona da casa convidou a todos para apreciarem um delicioso caldo. Lembrou-me do Ano da Misericórdia e suas obras: abrir as portas e acolher os peregrinos, o que essa família fez tão bem. Tomara Santa Rosa de Lima possa continuar abençoando abundantemente essa comunidade, para que possa florescer na fé e frutificar na partilha e no bem comum, como os primeiros cristãos.
Luisa Garbazza

Publicação do Jornal "Paróquia N. S. do Bom Despacho"
Junho de 2016

domingo, 5 de junho de 2016

Risco de lembrança



Um olhar para o céu, outro para as lembranças:

Éramos crianças, então.

O olhar sempre se espichava rumo ao céu.

Víamos a linha de luz que riscava o espaço, 
refletia o sol,

e, na ponta, a brilho do avião que singrava os ares.

Seguia, lentamente, sem se desviar.

A reta era traçada em riscos brancos sobre o espaço azul.

O vento e o tempo se encarregavam de misturar as cores.

Em instantes...

os rastros se esvaíam, e o azul dominava outra vez.

Os olhares se perdiam no infinito.

Depois voltavam-se para a terra.

Iam-se as horas e a cena se repetia.

Decorávamos os horários: várias vezes ao dia.

Em dias úmidos, a cena era mais completa:

o ar da manhã fortalecia a fumaça que marcava o céu.

E os rastros demoravam um pouco mais para se dissiparem.

Fim de semana, pela manhã, mais alegria.

Todos em casa, criançada reunida,

correndo pelo terreiro e pelos pastos.

Mal o avião se mostrava ao longe, alguém logo anunciava.

O céu era o alvo do olhar.

A imaginação corria solta.

Os olhos brilhavam.

A alma se enchia de expectativa.

Na ingenuidade pura da infância, dizíamos em coro:

_ Avião, joga um neném para nós!
Luisa Garbazza
5 de junho de 2016