No
início da tarde desta terça-feira quente de final de verão, andando pelo centro
da cidade, encantei-me com uma cena inebriante: uma menina sentada no cantinho
do beiral da porta de uma loja. Loirinha, cabelos cacheados, pernas curtas,
espalhadas pelo passeio. No colo, pesavam-lhe vários cadernos. No olhar, um
misto de ansiedade e indiferença. Ansiedade pela espera de alguém; indiferença,
pois não se importava com o grande movimento, próprio do horário de início das
aulas. Os braços, cruzados por cima dos cadernos, ocultavam o uniforme. Não consegui
identificá-lo. Pela aparência, devia ter uns seis anos. Não resisti ao desejo
de parar por alguns minutos e observar aquela criaturinha. Sorri sozinha,
reparando a inocência ali contida, sem me importar com os olhares curiosos dos
passantes. Em minha mente, surgiu outra menina, com sete anos de idade, em
situação extremamente idêntica.
Era
o meu primeiro dia de aula. Morava longe da cidade, por isso quase não a
conhecia. Minha mãe foi me levar até à escola, que ficava em plena Praça da Matriz. Não tinha nenhum material escolar. Então,
ela deixou-me perto da escola, sentada no beiral da porta de uma loja – exatamente igual à cena
por mim presenciada neste dia – e disse-me que iria à “Gráfica Piraquara”, a única
papelaria da época, para comprar-me um caderno. Minha mente tão jovem e ingênua
estimou uma distância tão grande que fiquei com medo de perder o horário de
entrada. Fiquei sentada ali, completamente imóvel, observando o fluxo de
crianças e pais, na gostosa correria de início de ano escolar. Gritos se
misturavam com choros e conversas num vai e vem interminável. Tudo para mim era
novidade. Estava muito ansiosa para entrar para a escola e entender esse
universo tão esperado.
Não
tardou muito e minha mãe retornou trazendo-me um caderno – sem pauta – um lápis
preto e uma borracha. Era só o que cabia em seu orçamento. Meus olhos se
iluminaram. Pela primeira vez eu tinha um caderno só meu. As páginas em branco
multiplicaram-se em sonhos e anseio de saber. Abri uma sacolinha de plástico transparente,
que havia pedido na loja, e coloquei cuidadosamente o material.
O
toque da sineta anunciou o momento da entrada. Segui, levada por aquelas mãos
firmes e amigas, até o portão da escola. Soltei-me devagar e dei os primeiros
passos naquele novo universo.
Luisa Garbazza
11 de março de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário