segunda-feira, 17 de julho de 2017

A poesia da vida


A poesia da vida,
em versos livres traçada,
sem tempo definido
no compasso do ter,
revela momentos,
tem a alma desnudada,
palavra por palavra
na finitude do ser.

A poesia da vida,
nos versos escritos
vividos, sentidos
de dor ou prazer.
A palavra ditada,
marcada, rasgada,
nas páginas deixada
a essência do viver.

A poesia da vida
nas letras misturadas,
palavras formadas.
Sentimentos que gritam
no verso que brota,
que rasga a alma
no vão desespero
de algo que acalma

Poesia da vida,
na folha do tempo,
explode em contrastes,
traduz os momentos
de dor e tormentos:
o medo absurdo
que cala profundo
no peito apertado
sem chão sem alento.

Poesia da vida,
no livro da alma,
vem decidida
o espírito abater.
Tropeça em palavras
da dor revelada:
o temor profundo
de vidas perder.

Luisa Garbazza
17 de julho de 2017

Esta é para você, Neiva.
Escrevi no momento do medo. Não esperava que se tornasse realidade assim, tão depressa.
É o tempo de Deus.   

domingo, 16 de julho de 2017

Vida de bolha



Leve, leve,
suave e breve,
lá vem a bolha.

Lá vem a água,
o copo e o sabão,
o sopro no canudo,
que trago na mão.

Lá vem a bolha.

Lá vem o brilho,
a transparência
a dança das cores,
a bela essência.

Lá vem a bolha.

Lá vem a doce luz
no olhar da criança
que, entre sorrisos,
entra na dança.

Lá vem a bolha.

Lá vem o vento,
em seu balançar,
levando a bolha
em seu breve bailar.

Lá vai a bolha.


Luisa Garbazza
16/07/2017

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Celebrar o padroeiro



A caminhada do cristão precisa ser feita em linha reta, com um único objetivo: a santidade. Nessa busca incansável, Deus – uno e trino – é nosso ideal maior. Mas Ele não é egoísta: reconhece o esforço desmedido de alguns de seus filhos e filhas e a eles concede a graça de ajudá-Lo na tarefa de santificar o mundo. E a Igreja os torna santos. Na caminhada da Igreja, os santos de maior devoção são escolhidos como padroeiros. Aqui em nossa paróquia, estamos muito bem protegidos por Nossa Senhora: padroeira da América Latina – Nossa Senhora de Guadalupe –; padroeira do Brasil – Nossa Senhora Aparecida –; padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da piedade –; padroeira da paróquia – Nossa Senhora do Rosário. E ainda temos a força e a proteção dos santos padroeiros das comunidades de fé: Nossa Senhora do Rosário, Santa Ângela, São João Batista, São Judas Tadeu, Jesus Misericordioso, São Pedro e São Paulo, São Bento, Imaculado Coração de Maria. Assim, com o exemplo de força desses homens e mulheres de Deus, temos a oportunidade de dar passos mais equilibrados.
Muito sublime e carregado de significado é a comemoração do santo padroeiro em cada comunidade. Ano após ano, a comunidade se organiza, se reúne e se prepara para festejar, com fé e simplicidade, conforme nos ensinou Jesus, o dia daquele ou daquela que nos protege. Nesses momentos de oração e confraternização, percebemos a boa vontade e a convivência fraterna entre os moradores da comunidade e os que vêm de mais longe.
A Comunidade São João Batista sempre prepara a festa do padroeiro com muita dedicação. É fácil perceber a habilidade e a dedicação gratuita na ornamentação do lugar: bandeirinhas e enfeites coloridos anunciam o dia de oração e alegria. Em 2017 não havia de ser diferente: tudo muito bem organizado, boa acolhida. A participação das pessoas foi crescendo durante o tríduo.
No sábado, Dia de São João, o espaço celebrativo estava repleto de fiéis, rezando, louvando e agradecendo a Deus por tantos benefícios concedidos. A Santa Missa, celebrada pelo Padre Cristiano, foi um momento de muito crescimento na fé. Com seu entusiasmo e sua voz forte, conduziu-nos a meditar sobre o exemplo de vida do padroeiro, exemplo digno de ser imitado: simplicidade absoluta, fé em Deus e coragem para anunciar o nome de Jesus. Também chamou a atenção de todos para o aspecto festivo do dia. São João trouxe alegria para o povo de Deus: alegria pela chegada do Salvador. E trás alegria para nós também. Por isso as cores da festa, as bandeirinhas, os cantos, a fogueira, a bandeira hasteada em nome do santo.
A celebração seguiu animada, com o povo rezando e cantando. No abraço da paz, a certeza de que somos todos irmãos. No “Viva São João Batista”, a alegria de quem acredita. Mas no momento em que o Padre Cristiano pediu que cada um fizesse a sua oração pessoal, o silêncio se fez. Por alguns instantes, cada um imerso em seus próprios pensamentos, não se ouvia nem o barulho do vento, mas podia se ouvir o grito de Deus sussurrando no coração de cada homem e mulher, seus filhos e filhas. Com certeza, a voz de Deus soou diferente para cada pessoa ali presente. "A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum." (I Cor 12,7).

Luisa Garbazza

Publicação do Informativo Igreja Viva
Paróquia N. Sra. do Rosário
Julho de 2017

terça-feira, 11 de julho de 2017

Questão de solidariedade

Em nossa caminhada de Igreja, alguns requisitos são necessários para nos aproximar mais e mais de Cristo e conseguir alcançar aquele que deve ser o objetivo de todo cristão: a santidade. Nesse propósito, em alguns momentos, achamos que estamos muito próximos; em outros, sentimo-nos tão distantes! O importante, no entanto, é a perseverança. Continuar nossos passos, firmemente, e não desistir nunca.
Mesmo nos esforçando para fazer o melhor nessa marcha da vida, às vezes, assistindo ao exemplo de certas pessoas, somos surpreendidos por verdadeiras lições de solidariedade. Recebi uma lição dessas por ocasião da Missa de Santo Antônio, às doze horas do dia treze de junho, na Igreja Matriz. A crença no santo – defensor dos pobres e fama de santo casamenteiro – e a tradição do pãozinho bento fazem com que a igreja fique repleta de fiéis, de todos os cantos da cidade.
Na igreja, a movimentação começa cedo. Onze horas os fiéis começam a chegar. Do lado esquerdo do altar, colocamos as caixas com os pãezinhos, doados por várias pessoas, para a partilha no final da celebração. À frente do altar, alimentos, também doados, que serão divididos em cestas básicas para os menos favorecidos. Várias pessoas ainda anotavam seus pedidos ao santo. Outras entravam e seguiam até o altarzinho onde estava a imagem para fazer o pedido pessoalmente. Ao meio-dia, tudo pronto para a Santa Missa.
A celebração já havia começado, quando vi entrar uma mulher: simples, humildemente vestida – roupas velhas e um pouco amassadas –, cabelos rusticamente presos, sapatos gastos. Entretanto ostentava, ao mesmo tempo, um caminhar tranquilo em direção ao altar, um meio sorriso no rosto e certo orgulho por sustentar nas mãos, dentro de uma sacolinha transparente, um litro de óleo, que foi depositado juntamente com os alimentos que ali já se encontravam. Depois se afastou e sentou-se na lateral do templo, para participar daquele momento sagrado.
Aquele gesto me tocou profundamente o coração e encheu-me de um sentimento misto de ternura e vergonha: ternura por presenciar aquele gesto tão genuinamente cristão; vergonha por ter me esquecido – como a grande maioria dos que ali estavam – de levar algo para ser oferecido ao irmão carente.
A lição que me foi dada por aquela mulher fez-me pensar na mesquinhez dos homens. Em quanto somos egoístas, pensando tanto em nossos próprios problemas e esquecendo-nos de nossos irmãos em Cristo. Também me trouxe à mente duas lembranças: a primeira, um antigo ditado que diz “Ninguém é tão pobre que nada possa dar e ninguém é tão rico que não precise receber.”; a segunda, aquela passagem do capítulo 21 do Evangelho de São Lucas, que narra a história da viúva pobre que entrou no templo e depositou apenas duas moedinhas de valor mínimo. Jesus, porém, disse aos apóstolos: "Em verdade vos digo: esta pobre viúva pôs mais do que os outros. Pois todos aqueles lançaram nas ofertas de Deus o que lhes sobra; esta, porém, deu, da sua indigência, tudo o que lhe restava para o sustento." 
Tomara possamos estar sempre em sintonia com Deus e uns com os outros, vivendo a solidariedade no dia a dia. Sabemos que há muitos necessitando de ajuda. E também nós precisamos do auxílio de outras pessoas para bem vivermos. Assim, com a graça de Deus, poderemos nos sensibilizar com as dificuldades dos irmãos e ajudá-los com o que estiver ao nosso alcance, mesmo que seja apenas o equivalente a um litro de óleo.
Luisa Garbazza
Publicação do jornal "Paróquia N. Sra. do Bom Despacho"
Julho de 2017