quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Pela semana do escritor

                         

Em plenitude


A vida passa e me leva, sorridente, indefesa,

qual pluma suave bailando ao vento.

Ensina-me, com encanto, a viver o momento

- traduzido em verso, poesia e beleza -,

o hoje, o agora,

que a vida lá fora

vem me oferecer.

 

Não importa o trabalho, a hora, o dia,

a faina, o cansaço, a inquietação;

importa a brisa que chega, a face acaricia,

transforma a vida, traz alento ao coração,

embala-me o sonho,

que, doce ou medonho,

faz-me a vida entender.

 

Se hoje é domingo, e a alma está em paz,

saio pela vida a brincar, a cantar, a procurar

uma pessoa, um amigo, algo que me apraz,

um lugar exclusivo, alguém para amar.

E transformo o sonho

em algo risonho

a me preencher.

 

E se um dia a tristeza, porventura, vem me visitar,

sinto, penso, choro, lamento o descaminho,

refaço sentimentos,  pensamentos alinho,

e aqui no meu ninho, não a permito ficar:

busco água clara

que sacia e ampara

a ânsia de viver.

 

Assim guardo no peito - recôndito da alma,

retiro da existência, escola de virtude -

a inspiração, a cor, o som, a plenitude,

a verdade que infunde,  impera, acalma,

vê da vida a essência:

quanto mais tenho ciência,

mais preciso aprender.

 

Luisa Garbazza


sábado, 28 de novembro de 2020

Tempo de renovação

 


O tempo – curioso, inexplicável, misterioso – divide-se em fases que nos permite a realização de metas, de tomadas de consciência e de recomeços. A cada final de ano, somos chamados a rever nossa caminhada para planejar a fase seguinte. Para isso, precisamos de uma dose de coragem e outra de sonhos: sonhos, para não perder a esperança de um tempo novo; coragem, para enfrentar obstáculos, derrubar barreiras e ajudar na construção de um mundo mais fraterno.

Em se tratando de rever a caminhada, este final de ano, especialmente, está sendo muito difícil. Olhamos para trás e vislumbramos 2020 com tantas dificuldades enfrentadas por todos, por causa da Covid 19. Ninguém ficou imune aos perigos e dissabores provocados por esse vírus que invadiu o planeta. Tantos mortos! Tantos doentes! Tantos sonhos desfeitos ou adiados! Tanta desilusão, desespero, solidão! E o pior, perceber que essa realidade continua. Estamos chegando ao final do ano ainda sem perspectivas. Por isso precisamos de uma dose extra de coragem. E sonhos. Muitos sonhos para não perder a esperança na vida que continua, apesar do futuro tão incerto.

Na Igreja, estamos sempre em oração, confiando nosso futuro a Deus Pai. No final de novembro, realizamos a novena em honra a Nossa Senhora das Graças. Durante nove dias, juntamente às orações próprias da novena, rezamos, às 18 horas, na Igreja Matriz, o “Terço da Esperança”. Nesses momentos de oração, invocamos Maria, mãe da esperança, que nos ensina a esperar em Deus, a despeito de qualquer dor, qualquer sofrimento. No seu silêncio, “Maria viveu a espera permeada de fé e nos ensinou que o amor, por mais rejeitado que possa ser, jamais sucumbe, e que a verdadeira revolução, que mudará este mundo, é a Revolução do amor”. Aprendamos de Maria essa fé firme e inabalável naquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida: Jesus Cristo, o Rei dos reis, o Senhor dos senhores.

 

Dose de esperança

 Sentimos viva essa esperança, quando constatamos a igreja cheia de fiéis para a reza do terço, oferecendo o sacrifício a Deus pelo bem da humanidade; quando ouvimos a prece piedosa de tantos irmãos e irmãs; quando percebemos a união dos representantes das forças vivas da paróquia para fortalecer os momentos de oração.

Sentimos ainda a esperança quando presenciamos a família reunida na igreja. Para mim, foi de imensa ternura a presença de uma mãe, com suas duas filhas, participando da novena, de terço na mão, enviando “rosas” a Maria. Uma delas, bebê ainda, não tem ciência do que acontece à sua volta, mas está sendo formada pelo exemplo da mãe; a outra, uma pequena menina, demonstra, através da vivacidade do olhar, que já entende o que está acontecendo. E vai absorvendo as palavras, os gestos, os cantos, com atenção e respeito.

Ao vivenciarmos esses pequenos flagrantes da vida, sentimos aumentar em nós a certeza de que Deus está conosco e nunca nos abandonará. Então vemos florescer, com novo vigor, a esperança. Assim abriremos nosso coração para a chegada do Menino Deus, que, neste ano, terá um significado diferente, pois esperamos também um renascimento para a humanidade. Chegaremos, pois, ao final do ano com o desejo imenso de que 2021 traga um novo sol, um novo brilho, uma vida nova para todos nós, filhos e filhas de Deus.

Luisa Garbazza

luisagarbazza@hotmail.com

Publicação do Jornal Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho


sábado, 14 de novembro de 2020

Conto - Prêmio Vip de Literatura 2019.

 

O dia em que não saí de casa

Madrugada. Abri os olhos assustada ao ouvir o celular do Roberto. Sonolenta, senti seus lábios tocando os meus: “Bom dia, meu amor! Feliz Aniversário de Casamento!”. Despertada abruptamente de um agitado sonho, demorei a perceber a realidade. Roberto embarcaria às sete da manhã: reuniões inadiáveis em São Paulo por dois dias. Como era nosso aniversário de casamento, eu embarcaria à tarde, já que não poderia me ausentar da empresa pela manhã. O dia ainda estava escuro quando ele se despediu e saiu, trancando portas e portões. Voltei a dormir facilmente.

Ao acordar, a luz fraca do sol, que se convidara a entrar por entre as cortinas, anunciava o dia que havia chegado. Despertei-me completamente ao sentir a água morna deslizando por meu corpo, preparando-me para o novo dia. Escolhi roupas e sapatos confortáveis, para suportar a longa jornada. Na valise, apenas o básico e um vestido novo para a noite especial. Fui à cozinha e preparei um café bem forte. Rosquinhas de nata e uma banana completaram meu desjejum. Voltei ao quarto e, em poucos minutos, pus-me pronta para sair.

Alerta por causa do horário, percebo que minha bolsa não estava no lugar. Nem minhas chaves. Procuro pela casa. Não as encontro. Nunca tive muita disciplina com meus pertences: perco, estrago, esqueço nos lugares mais improváveis. Olhei em cada canto da sala, passei para a cozinha, voltei ao quarto.  Nada. O coração disparou. Andei mais uma vez por toda a casa. Não estavam em nenhum lugar. Desespero. O tempo estava se esgotando.

Sentei-me na pontinha do sofá e, com a cabeça entre as mãos, comecei a visualizar a trajetória da véspera. Subitamente lembrei-me de que havia deixado a bolsa no escritório. Roberto havia me convidado para um drinque antes de voltarmos para casa. Feliz com a expectativa de uma noite mais animada – o que quase nunca acontecia – saí rápida e displicentemente. Deixei tudo para trás. Na volta, passamos por outro caminho e, numa atitude impensada, considerei desnecessário retornar apenas para buscar minha bolsa. Afinal, estaria de volta pela manhã.

Comecei, sem sucesso, outra maratona à procura do celular. O endereço era certo: dentro da bolsa. Desesperei-me. O notebook também ficara para trás. Não havia linha telefônica em casa. Parada, ao lado da janela, deixei-me ficar por alguns minutos. Mente vazia. Nenhuma solução aparente. Um riso nervoso brotou de meus lábios: trancada, dentro de minha própria casa, incomunicável. Situação ridícula.  Precisava agir, tomar uma atitude com urgência. Saltei a janela, olhei a minha volta. Continuei sem perspectivas. Os muros altos impediam qualquer comunicação com o resto do mundo.

Aproximei-me do portão, bati várias vezes e chamei: “Há alguém aí?... Socorro!... Preciso de um chaveiro!... Oi!...” Nenhum sinal. A alameda ficava em um bairro de pouquíssimo movimento; as residências, circundadas por elevados paredões. Ninguém ouviria. Minha causa estava perdida. Sentindo-me inútil, consegui pular a janela de volta. Não vinha nada à mente que pudesse ser feito.

De volta ao quarto, meus olhos se cruzaram com o mostrador do relógio de cabeceira. O tempo me surpreende. Já são dez horas! Mas... espere! Faltam duas horas para o avião decolar. Meia hora até o aeroporto. Pelo menos para a viagem ainda tenho chances. Saí depressa pela casa, tropeçando aqui e ali, pulei desastradamente a janela, quase arrancando a unha do pé, e voltei ao portão: “Oi! Preciso de ajuda. Alguém está me ouvindo? Por favor!”

Falava, gritava, batia no portão e não obtinha respostas. Nem o barulho do motor de algum carro vinha quebrar o silêncio. Estava completamente só. Ilhada em minha residência. Voltei ao portão mais duas vezes. Desisti após alguns minutos. Já não dava mais tempo de embarcar. Meu dia estava perdido.

Entrei outra vez em casa e preparei-me para viver o dia mais original de minha vida: estava sozinha no mundo. Sem mais o que fazer, aproveitei para relaxar, desligar-me da correria a que estava habituada. No final da tarde, driblando a solidão, abri o álbum do nosso casamento, revi as fotos, relembrei a felicidade, quase ingênua, que sentíamos naquela época, embevecidos de amor. Valorizamos essa data ao máximo, comemorando-a sempre juntos. É como se revivêssemos os anos dourados de nossa relação. Este ano seria mais especial, no entanto o destino nos pregou uma grande peça. Fechei o álbum e coloquei-o estrategicamente em cima da mesa da sala, convencida de que aquela seria a única comemoração de minhas “Bodas de Cristal”.

Luisa Garbazza

             Conto publicado na antologia "Prêmio Vip de Literatura 2019".

                                                                               

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Linhas da vida

 


Em cada página da infância, fiz-me história.

No encanto dos livros, tornei-me fantasia.

As linhas percorridas fizeram memória,

preencheram-me a vida de sonho e poesia...

 

Sonhei a vida, fui rainha, fui princesa,

vivi em castelos, na floresta ou na aldeia.

De Hogwarts ou do Condado, vem a certeza

de sentir a magia envolver-me em sua teia.

 

Seja escafandro, seja frágil, seja cálida,

tal qual borboleta liberta da crisálida,

importa voar, dar asas ao coração.

 

Nas linhas escritas, pegadas da existência,

nos espaços em branco ou nas reticências,

a vida se faz livro em real ilusão.

 

Luisa Garbazza

15-10-2020

 

Poesia escrita para o Dia do Livro (29/10) e o Dia da Poesia (31/10).

Homenagem aos meus filhos Matheus e Rafael, nascidos em outubro.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Força na missão

 


Caros irmãos em Cristo, estamos nos aproximando do final do ano litúrgico. No último domingo deste mês, mais precisamente dia 29, inicia-se o novo ano dentro da liturgia católica: ano B, durante o qual refletiremos com o Evangelho de São Marcos. Então é tempo de rever o que fizemos em 2020 e aproveitar o “Dia de Ação de Graças” – 26 de novembro – para louvar a Deus por todos os benefícios que Ele nos concede a cada dia de nossa vida.

No decorrer deste ano – tão diferente, por causa da pandemia –, tivemos uma rotina diferente para as práticas religiosas: ficamos um período sem missas presenciais, fomos privados de nos reunir para os momentos de reflexão e oração, distanciamo-nos uns dos outros por uma força maior: evitar o contágio. E agora, mesmo voltando às missas presenciais, nem todos têm a oportunidade de participar das celebrações, por falta de espaço, já que o número precisa ser reduzido por causa do distanciamento social, ou por fazer parte do grupo de risco – pessoas mais vulneráveis aos sintomas do coronavírus.

Mesmo com todas essas dificuldades, estamos realizando as celebrações e festas propostas pela Igreja. E temos contado com o apoio dos fiéis para o desenrolar de cada celebração. Algumas vezes, até nos surpreendemos com participação das pessoas, como aconteceu na novena e na festa de Nossa Senhora Aparecida. Com a aprovação do pároco, Padre Márcio Antônio Pacheco, SDN, seguimos o roteiro proposto pelo Santuário de Aparecida. Foi uma alegria perceber a adesão dos irmãos e irmãs a cada proposta feita. Recebemos representantes das comunidades, das pastorais e movimentos e das equipes de liturgia da Matriz. O entusiasmo do povo e o carisma de nossos sacerdotes contribuíram para o bom êxito da festa.

 

“Eis-me aqui, Senhor!”

Nessa festa mariana, o que mais chamou minha atenção, no entanto, foi a presença expressiva de uma criança, o pequeno João Pedro. No dias  da novena, momentos de muita espiritualidade e demonstração de amor a Maria, tivemos dois instantes especiais, que se repetiram a cada dia: a procissão de oferta de alimentos, que seriam doados às famílias necessitadas, e a procissão de oferta das flores, um carinho de filhos e filhas à Mãe Aparecida. Em todos os dias, lá estava João Pedro, sempre acompanhado dos pais, levando algum alimento para ofertar. Depois voltava levando nas mãos algumas flores para oferecer. E não se contentava em levar e voltar para o lugar, ficava ali, em frente à imagem, analisando, olhando para ela, organizando as flores, escolhendo o melhor lugar para depositar a sua flor, que, com toda a certeza de seu coração de criança, era muito especial. Curiosamente, lançava-me um olhar alegre, como se dissesse: “Eu estou aqui. Eu trouxe flores para Maria.” Enternecida, eu devolvia o olhar, fazia um gesto, concordava com a cabeça, já que o sorriso estava escondido. Só então ele voltava para o seu lugar.

          Por isso minha gratidão a Deus é por esses momentos de alegria e paz na alma. Graças pelas pessoas que se comprometem com o trabalho de evangelização. Graças pelos pais e mães de família que dão exemplo de fé, levam seus filhos pequenos para a igreja e os incentivam a também participar. Graças pela oportunidade de ajudar aos mais necessitados. Graças por pertencermos à Igreja Católica, em uma paróquia sacramentina, e termos Maria por mãe e padroeira.

Gratidão, ó Deus, por chegarmos ao final deste ano litúrgico com o coração agradecido e a sensação do dever cumprido, dentro do possível. Gratidão, ó Deus, por ter nos conservado a vida e ter conduzido nossos passos e nossos pensamentos nesses tempos de penúria. Dai-nos, Senhor, a vossa bênção e disposição para continuarmos nos vossos caminhos. Amém.

Luisa Garbazza

luisagarbazza@hotmail.com

sábado, 31 de outubro de 2020

Pelo Dia Nacional da Poesia

 


Sou poesia

 

De mãos dadas com a poesia,

traço segura meus passos,

distingo os firmes compassos.

Ouço contente os acordes da alegria,

armada em rimas e versos,

no ritmo certo ou no reverso

que a alma conduz e inspira.

 

No verso que embala o som de cada dia,

sou do pássaro a rota certa,

sou pétala, sou flor entreaberta,

do jardim a beleza e a harmonia.

Sou sorriso leve de criança,

colo de mãe, doce lembrança,

sou sangue, seiva, vento e calmaria.

 

Com palavras, formo e transformo a emoção,

em poema decomponho a vida.

Vou da euforia à tristeza sentida,

ora sou nostalgia, ora gratidão.

Busco esperança, paz e bondade

converto em verso a doce saudade

que transborda do coração.


Luisa Garbazza

31-10-2020

domingo, 4 de outubro de 2020

Missão de todos nós

 

Querido leitor, estamos iniciando o mês missionário. Outubro é, por excelência, o mês das missões, assim escolhido por causa da padroeira, Santa Teresinha do Menino Jesus, a qual celebramos logo no primeiro dia. Santa Teresinha foi missionária sem nunca ter saído do convento. Segundo ela, “ser missionário não é uma questão de geografia e sim uma questão de amor”. Por isso viveu a santidade nas pequenas coisas. Por isso amou muito e rezou pela Igreja de Cristo; rezou para que os cristãos não desistissem da missão de levar o evangelho a todas as pessoas.

Ainda no início de outubro, no dia quatro, temos, a meu ver, o mais santo dos missionários: São Francisco de Assis. É com muito carinho que falo desse homem, retrato do amor e da ternura para com os irmãos. Todos. Principalmente aqueles que já haviam sido esquecidos, abandonados, proibidos da convivência social por causa das limitações, da pobreza, das doenças, principalmente a lepra. Francisco tinha sempre um sorriso a oferecer. Mas também tinha a mão sempre estendida para ajudar e, o mais louvável, colocava-se como criatura de Deus, assim como todas as outras, cuidava de tudo como se tudo e todos fossem irmãos. Para ele, homem, sol, lua, estrelas, passarinhos, todas as obras do Criador mereciam ser cuidadas, preservadas. E ensinou-nos o valor da oração e a beleza de viver na simplicidade como as outras criaturas de Deus.

 Renovar a missão

Neste ano, iniciamos o mês missionário em tempo de pandemia. Em outros tempos, estaríamos nos movimentando para as visitas missionárias, a hora santa em prol das missões no mundo inteiro, a reza do terço missionário. Mas, com a necessidade do isolamento social, nada disso poderá ser feito. Então precisamos pensar em novas formas de viver, com alegria, este tempo de graça destinado à conscientização de todos para o empenho de irmos ao encontro uns dos outros e nos colocar à disposição para ajudar.

Segundo o próprio Cristo, a maior missão de todo Cristão é ouvir a voz de Deus e levá-la a todos os que encontrar pelo caminho. Uma só é a lei, a verdade. Como colocá-la em prática, aí sim, vai depender da fé, da confiança em Deus, da situação de cada povo, de cada paróquia. Primeiramente, é preciso se colocar à disposição. “Eis-me aqui, Senhor!”

Mesmo com as limitações do momento, com certeza, há algo a ser feito. Buscando o exemplo de São Francisco de Assis, podemos aprender a viver na simplicidade. Bem sabemos que não precisamos de muito para ser feliz, pois a felicidade vem de Deus, que está dentro de nós. Com essa consciência, seremos capazes de cuidar do outro, mas também cuidar do ambiente em que vivemos, preservar os bens naturais, reciclar tudo que pudermos para evitar tanto lixo. Não podemos viver como se nada estivesse acontecendo. Cuidar da natureza é, sim, missão do cristão.

Por outro lado, podemos nos espelhar em Santa Teresinha para uma vida com mais amor. Mesmo em nosso lar, alguns impossibilitados de participar até mesmo das celebrações, podemos agir. Temos a facilidade de acompanhar as celebrações e de evangelizar através das redes sociais. Podemos reservar um tempo para a oração, tanto pessoal como em família, em pequenos grupos presenciais, em grupos pela internet.

Então, caros irmãos, tenhamos como meta, neste mês das missões, olhar o mundo com outros olhos: os do amor. Temos dois grandes intercessores para nos ajudar nessa tarefa, não muito simples, mas sublime, de seguir a lei que nos deixou o Mestre Jesus: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças e amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Mc 12,30-31).

Luisa Garbazza

luisagarbazza@hotmail.com

domingo, 30 de agosto de 2020

Mãos estendidas


Queridos leitores, setembro nos chega com ares de esperança. Já o iniciamos com a “Semana da Pátria”, desejosos de ver o Brasil progredir em “graça e sabedoria”. É ainda neste mês que comemoramos a chegada da Primavera, tempo de renascimento, de vida nova, da alegria das flores e dos passarinhos. Mas o que mais chama nossa atenção de cristãos católicos é setembro como o “Mês da Bíblia”. Em 2020 temos em destaque o livro do Deuteronômio, com o lema “Abre tua mão para o teu irmão”. (Dt 15,11)

No livro do Deuteronômio, temos, bem explícita, nossa urgência em compreender e divulgar a Palavra de Deus: "Derrame-se como chuva a minha doutrina, espalhe-se como orvalho a minha palavra, como aguaceiro sobre os campos verdejantes, como chuvarada sobre a relva." (Dt 32,2) Não basta, no entanto, apenas espalhar a palavra, como folhas ao vento, é preciso compreendê-la e colocá-la em prática para sermos puros aos olhos de Deus: "Aplicai os vossos corações a todos os preceitos que hoje vos dou, prescrevei-os a vossos filhos, a fim de que pratiquem cuidadosamente todas as palavras desta lei". (Dt 32,46). 

E quais seriam esses preceitos? O que fazer para merecer o olhar bondoso de Deus? As respostas estão justamente no livro do Deuteronômio, que nos leva a acompanhar os passos de Moisés, conduzindo seu povo, tentando fazê-lo acreditar e confiar em Deus. Nos passos de Moisés e em suas conversas com Deus é que se formam as leis – os dez mandamentos – cuja essência é "Seguireis o Senhor, vosso Deus, e o temereis; observareis seus mandamentos, obedecereis à sua voz e o servireis com muito zelo." (Dt 13, 5)

 

Fé na caminhada

Em 2020, estamos atravessando um período de dificuldades, de deserto na existência, tal e qual o povo de Deus no deserto Sinai. A travessia, para aquele povo, foi um tempo propício para refazer a vida, para renovar a certeza do amor de Deus. Para nós, este tempo de pandemia também deve servir para nos aproximarmos de Deus. Não apenas encontrá-lo na Bíblia ou nas palavras de nossos sacerdotes, e sim no coração: “Então procurarás o Senhor, teu Deus, e o encontrarás, contanto que o busques de todo o teu coração e de toda a tua alma". (Dt 4,29)

Esse amor profundo por Deus nos ajudará a suportar os conflitos que vão surgindo em nossos caminhos, principalmente em tempos de penúria. As dificuldades da vida são superadas, ou enfrentadas, com mais facilidade quando caminhamos ao lado de nossos irmãos e irmãs e acreditamos profundamente que Deus caminha conosco. Assim teremos mais forças para lutar e para ajudar a todos os que precisarem de nós. "Não fareis distinção de pessoas em vossos julgamentos." (Dt 1,17)

Na travessia destes dias, em que nos desestruturamos psicologicamente ao vermos tantos irmãos e irmãs vitimados pelo coronavírus, percebemos o quão necessitados de ajuda somos. Por isso abramos nossa mão para acolher e ajudar o nosso irmão. Sabemos que há muitos irmãos nossos impossibilitados de cuidar de si. Aproveitemos para fazermos a nossa parte, o tanto que pudermos, mesmo que seja intercedendo através da oração.

E quando o medo, a ansiedade, a angústia, a solidão rondarem nosso coração, acreditemos na força divina que vem sobre nós através do Santo Espírito. Confiemos, mais uma vez e sempre, nas palavras sagradas: "Coragem! E sede fortes. Nada vos atemorize, e não os temais, porque é o Senhor, vosso Deus, que marcha à vossa frente: ele não vos deixará nem vos abandonará”. Dt 31,6)

   Luisa Garbazza

  Jornal Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Café com lembranças



Em sua trajetória, cheia de altos e baixos, curvas e desníveis na caminhada, a vida é feita de encontros. Encontros de corpos, encontros de olhares, encontros de almas. Alguns são efêmeros, outros, duradouros, outros ainda perpetuam para todo o sempre. O destino – sorte ou providência – se encarrega de ir provocando esses momentos de proximidade ao longo dos anos. O primeiro encontro é quase sempre com a mãe. Por ser tão sublime, é o mais duradouro. Depois os encontros com o pai, com os amiguinhos da escola, com a professora e tantos outros vão se sucedendo. Encontra-se por motivos diversos, ou sem motivo algum. Muitas vezes, essas ocasiões são regadas a café. “Vai lá em casa tomar um cafezinho.” – é uma frase muito ouvida, pelo menos por quem mora em cidade pequena. Oferecer um café é o maior agrado, maior demonstração de amizade e carinho pela pessoa. E há de ser coado na hora, exalando seu aroma, estimulando os paladares mais refinados.
Mineira que sou, morando em cidade pequena, também sou amante do famoso “cafezinho”. Quanta ternura há em encontrar alguém, em uma tarde amena de outono, para um café. Ou nas manhãs frias de inverno, ou em companhia da brisa fresca da primavera, ou mesmo no calor das tardes de verão. Não importa dia, nem hora, nem a companhia. Para mim, além do meu esposo, companhia de todo dia, a presença mais frequente é minha irmã Regina. Ora aqui em casa, ora na casa dela, sempre reservamos uma visitinha para o cafezinho. Coração torna-se aquecido, não só pela quentura da bebida – que ambas gostamos bem quente –, mas também pelo calor da presença, pela prosa boa, pelas lembranças que vão se formando na mente, saltando do coração e ganhando forma através das palavras. Encontros preciosos que colorem a existência de nuances inusitados e felizes.

Ternas memórias
Nas voltas da vida, minha melhor lembrança dessa bebida, no entanto, não vem dos encontros com minha irmã; vem de uma experiência com meu filho mais velho que, curiosamente, não tomava café. Época da adolescência. Reservado que era, depois que chegava da escola, estava sempre em casa. Veio então uma época em que a vida estava bem embrulhada. Com a saúde frágil, passei por um período de muita fraqueza. Mas continuava trabalhando. Contava então, ainda mais, com o auxílio dos meus filhos para as tarefas domésticas. – Digo ainda mais, pois eles sempre me ajudavam. – Na carência de uma máquina de lavar, Matheus me ajudava a lavar as roupas. Houve uma tarde, cinzenta, fria, chuvosa, em que precisávamos realizar essa tarefa. Chamei-o e disse: Vamos, meu filho! Voltei, porém, e pedi que esperasse um pouco, pois ia fazer um cafezinho primeiro. Sua atitude foi muito afetuosa. Aproximou-se tranquilamente, com seu semblante sério, e falou-me assim: “Não, mãe! A tarde está muito fria. Vamos lavar a roupa primeiro. Depois a senhora faz o café, toma um banho quente e pode descansar.” Refleti, por alguns segundos, e tive de concordar com ele. Agi tal e qual havia me sugerido. E percebi que tudo fora muito bom: sua companhia amada, auxiliando-me a lavar a roupa; o café, que desceu quente revigorando o ânimo; o banho que me aqueceu o corpo; a recordação das palavras do meu filho, que me acalorou a alma.
Assim deveriam ser todos os encontros da vida: momentos que deixam marcas felizes e alimentam lembranças luminosas. Seja um breve instante, ao cruzar alguém pelas ruas; minutos de prosa em uma praça ou outro lugar qualquer; ou uma visitinha para um delicioso e perfumado café. Deles hão de germinar sempre marcas boas, que aquecem e alimentam a alma para os momentos de aridez.
Vai um cafezinho aí!?
Luisa Garbazza

Jornal Paróquia N. Sra. do Bom Despacho
Agosto de 2020