terça-feira, 28 de julho de 2020

Pesadelo



Da existência o pesadelo
na mão cruel do destino,
no desencaixe dos trilhos.
Sem compaixão, sem desvelo,
com dor e com desatino,
da vida anulou o brilho.

Parecia passageiro,
qualquer coisa transitória,
bem simples de suportar.
Mas esse vírus matreiro,
verdade muito notória,
veio nos atormentar.

Chegou a era do medo
de algo que paralisa:
esse mal desconhecido.
Constatamos, muito cedo,
que o sopro da leve brisa
fez-se vento ensandecido.

Já longe se vai o tempo,
bem escassos os encontros,
zerados beijos e abraços.
Vida fez-se passatempo,
solitude,  desencontros,
descaminho para os passos.

Das horas vejo a urgência,
procuro alguma saída,
as chaves dessa prisão.
Algo que mude a cadência,
não me deixe assim perdida,
livre-me da solidão.

                                                             Luisa Garbazza
                                                                    27-07-2020

* Em tempo de pandemia.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Como vejo Jesus


A luz da fé nos mostra que não estamos sozinhos neste mundo. Existe um Deus, que tudo criou e tudo governa. Como seres humanos, igualmente criados por Deus, somos dotados de corpo e alma. O corpo, perecível, veio do pó e ao pó voltará. Ao contrário, a alma veio de Deus e a Ele retornará. Para obtermos a graça de vermos nossa alma retornar ao Pai, contamos com a presença de Jesus, o filho de Deus, que veio à terra com uma missão específica: a salvação da humanidade. 
Nós, que nascemos e fomos criados em uma família cristã, crescemos acreditando em Jesus. A minha vida inteira, cada época de uma forma diferente, recebi estímulos para aumentar a minha fé no Filho de Deus: as orações que aprendi desde pequena, ensinadas por minha mãezinha, músicas variadas, encontros de formação, filmes religiosos, imagens. Em cada experiência dessas, vivenciei, e ainda vivencio, maneiras diferentes de retratar a vida do chamado “Mestre”.
Como não há descrição histórica, ora vejo Jesus silencioso, que só diz o que está citado na Bíblia, ora um Jesus falante, que conversa com todos. Às vezes Jesus é alegre, ri, brinca com os discípulos; outras vezes, sério, sem nenhuma expressão de alegria. E há tantas imagens e estampas diferentes! Há Jesus branco, moreno ou negro; de cabelos longos ou curtos; de olhos pretos, castanhos ou azuis; barba longa ou comprida. Então fico às vezes pensativa, olhando uma ou outra imagem, assistindo a um ou outro filme, e vem-me a indagação: Na verdade, quem é Jesus? Como é esse homem-Deus que tanto nos fascina? Qual será sua verdadeira face?

Presença de Jesus
Em meus momentos de reflexão e ação de graças, principalmente durante a missa, após a comunhão, às vezes sinto a presença de Jesus se aproximando, lentamente, e tocando-me a cabeça com as duas mãos. Não consigo, no entanto, visualizar com nitidez suas feições. A única certeza é a veste comprida e alva e o olhar de uma serenidade sem igual. Assim, a partir de todos esses anos de vivência cristã e através desses momentos de “encontro pessoal”, vou formando a minha imagem, vou traduzindo para mim mesma como é Jesus. 
Em minhas meditações, Jesus é um homem alto e moreno. O corpo esguio, um pouco magro, mostra uma silhueta perfeita e harmoniosa. Seus cabelos castanhos, não muito compridos, pendem ondulados em seus largos ombros, combinando com as barbas longas e os olhos, também castanhos. A veste, sempre muito limpa, de uma brancura incomparável. É, com certeza, alguém de uma beleza diferente, que nos hipnotiza, que nos impulsiona à contemplação.
Contemplando Jesus, vejo seu semblante sereno. Lança-me um olhar profundo e penetrante que me vê através dos olhos, penetra-me a alma. A boca conserva um meio sorriso que aviva sua face, deixando transparecer sua divindade. Seus passos são calmos, porém firmes. Quando precisa, sabe onde pisa, conhece o caminho sem vacilar. Os braços longos balançam levemente acompanhando a cadência dos passos. Quando se aproxima de mim, inconscientemente, abaixo a cabeça, sentindo uma onda invisível envolver-me o corpo por inteiro, como um manto. E experimento o peso de suas mãos, que pousam sobre minha cabeça e faz-me perceber que Ele é tudo, e nada mais tem importância.
Sei que saber ao certo como é Jesus, não é primordial para nossa fé, mas é interessante fazermos essa indagação, procurarmos compreender essa presença entre nós. É importante esse encontro pessoal com Jesus, saber que Ele está sempre disposto a caminhar em nossa direção, conhecer nossos anseios, ouvir nossa prece, consolar-nos nos momentos de sofrimento, enxugar nossas lágrimas. Mas também participa de nossos momentos de alegria, quer rir conosco, ouvir nossas histórias de superação, ouvir nossa oração de ação de graças.
Por isso, seja nos momentos de alegria, ou nas horas de tristeza, tenhamos em mente a imagem de Jesus e peçamos, sem vacilar: Fica conosco, Senhor!

Luisa Garbazza
Julho de 2020.