Meus queridos leitores, irmãos e irmãs em
Cristo, estamos vivendo o tempo da Quaresma; um tempo propício para o
recolhimento, para uma busca de nós mesmos, para uma maior aproximação com
Deus, nosso Pai. A igreja se despe das flores e cores e se veste de roxo para
simbolizar a sobriedade do tempo litúrgico. E nós também precisamos entrar
nessa sintonia. Em comunhão com a Igreja, somos convidados a aproveitar esse
momento para intensificar a realização de três práticas essenciais para nossa
vida espiritual: jejum, caridade e oração. O jejum e a oração são ações
individuais que nos ajudam a pensar a vida e a nos conectar com o Salvador; a
caridade sempre envolve o outro, que pode ser um amigo, um desconhecido ou
alguém da própria família. Durante a Celebração Eucarística, também somos
convidados a praticar a caridade: é o momento de ofertar a Deus um pouco do que
recebemos, para a manutenção da sua Igreja.
Outro dia, Missa das dezenove horas, na Igreja
Matriz, saí, no momento do ofertório, para ajudar a coletar as ofertas. É uma
função gratificante em que, por muitas vezes, recebemos de volta um olhar
significativo, como se dissesse: “Vê!? Eu estou ajudando”. Na impossibilidade
do sorriso, por causa da máscara, um leve aceno de cabeça traduz meu
agradecimento. E sigo meu caminho. Próximo à última porta lateral, do lado de
fora, por falta de lugares, alguns jovens. Quando me aproximei, vieram todos e,
um a um, depositaram suas ofertas. Fiz o aceno, gesto limitado pelas condições
e pelo momento. O que eu queria mesmo, porém, era demonstrar minha gratidão e
falar-lhes a importância daquele gesto. É muito bom perceber a consciência
jovem de trazer a oferta, de contribuir para o cuidado com as coisas de Deus.
Depois desse dia, passei a observar: são muitos os jovens que não se contentam
em aparecer diante do Senhor de mãos vazias.
Oferta do coração
Esse acontecimento fez-me lembrar de uma
homilia do Padre Matheus Garbazza, SDN, direto da Paróquia Santa Cruz, em Alta
Floresta – MT, que ouvi em outubro de 2020. Dizia ele que o ofertório é um
momento de espiritualidade fortíssima, que, às vezes, deixamos passar,
distraídos pelo canto e pelo silêncio do sacerdote. No entanto precisamos participar e ofertar a
Deus três coisas. A primeira, em comunhão com o celebrante, o ofertório do pão
e do vinho, que se tornarão o Corpo e o Sangue de Jesus. A segunda, a oferta
material, que cada um faz segundo as suas possibilidades. De modo especial, o
dízimo, quando é o dia, ou a oferta espontânea que fazemos. É a hora de fazer a
colheita, ofertar os frutos a Deus. E precisa ser acompanhada de
espiritualidade, pois, assim como o pão e o vinho serão transformados no Corpo
e Sangue de Jesus, nossa oferta será transformada em bem para a evangelização
da comunidade. Precisa ser oferecida com essa intenção. A terceira, ainda mais
importante que a segunda, é oferecermos a nossa vida. Enquanto o padre levanta
a patena e o cálice, nós colocamos ali nossa vida, os frutos que colhemos
durante a semana. Vamos dizer a Jesus o que pudemos fazer de bom, mas também
nossos problemas, nossos limites, nossos defeitos. Nessa intenção, quando
vemos, o ofertório fica pequeno, pois há muito a oferecer. E tudo isso para que
nossa vida, entregue no altar de Deus, também seja transformada na vida de
nosso Senhor. E encerrou a homilia pedindo para prestarmos atenção na oração
final, que nos disse: “Possamos, ó Deus onipotente, saciar-nos do Pão celeste e
inebriarmos do Vinho sagrado, para que sejamos transformados naquele que agora
recebemos. Por Cristo Nosso Senhor”. Assim, ouvindo o Padre Matheus,
intensifiquei minha espiritualidade e minha intenção de ofertar a Deus essas
três coisas.
Nessa Quaresma, e sempre, possamos meditar
sobre essas palavras e colocá-las em prática. Tenhamos o coração voltado para o
outro, para suas necessidades, seus anseios, sua falta de oportunidade e,
sempre que possível, estender nossa mão para acolher, para ajudar, para
confortar. Também possamos sempre ter algo de material para ofertar ao Pai no
momento do ofertório. E seja nossa vida pautada pelo amor, para chegarmos
perante Deus e oferecer a Ele nossa vida, tudo que vivemos, sentimos e sofremos
durante a semana.
luisagarbazza@hotmail.com
Luisa Garbazza
Jornal Paróquia
Março de 2021