quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Três desejos do Papa

Bento XVI formulou três desejos antes de acender as luzes de uma árvore de Natal.

O Meu primeiro desejo é que o nosso olhar não se detenha somente no horizonte deste mundo, nas coisas materiais, mas que se dirija para Deus.

O segundo desejo é que nos recorde que também nós necessitamos de uma luz que ilumine o caminho da nossa vida e nos infunda esperança, especialmente nas épocas em que sentimos com mais força o peso das dificuldades.

O último desejo é que cada um de nós transmita luz nos ambientes em que vive.
                                                                         (Bento XVI, 7-12-2011)

Meditando essas palavras de nosso querido papa, muitas são as reflexões...
Como seria bom, Senhor, se esses fossem os desejos da humanidade toda!
Cada ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, transmitindo luz nos lugares por onde passar. A luz verdadeira, a luz que ilumina os passos das outras pessoas e, consequentemente, de quem a acende.
Seria bom se pudéssemos viver e sentir em todos, o amor como o autêntico sentido do Natal. Constatar que os sentimentos conseguiram dominar os corações deixando os bens materiais em segundo plano. Valorizar sempre mais o ser.
E, melhor ainda, seria perceber que Deus, a luz maior, está acima de qualquer coisa. Que a luz divina consegue iluminar e aquecer o coração de cada pessoa enchendo de esperança o dia a dia de todos os homens de boa vontade.
Aí, sim. O espírito do Natal preencheria nossos lares, nossas empresas, nossas repartições públicas, nossas cidades, nosso país. E reinaria a igualdade, a solidariedade, o amor e uma paz muito grande.
E glória a Deus nas alturas e no meio de nós.
Então?
É Natal.


Feliz Natal, com a presença constante do Menino Deus em sua vida.
Que 2012 seja o melhor ano de sua vida. 
Meu abraço.
                   Luisa Garbazza

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A magia de um instante


Na rotina do meu domingo sempre consta uma visita ao supermercado. São compras de última hora, mas imprescindíveis para o almoço em família. Nesse último domingo não foi diferente. Por volta das dez horas, paramos – meu marido e eu – no estacionamento do comércio em que faríamos nossas compras. E tudo teria transcorrido seguindo a velha rotina, não fosse uma cena que se formou e se desenvolveu diante de meus olhos.
Defronte ao estacionamento, em um ponto de ônibus, localizado em um terreno abandonado, cheio de mato e entulhos, um senhor aguardava o horário da condução em companhia de uma menina. Estavam sob a sombra de uma frondosa mangueira, abrigando-se dos raios castigantes do sol. A menininha, aparentando uns três anos, parecia cansada de ficar em pé e lançava ao homem – pai? – um olhar de súplica que não passou despercebido aos meus olhos. Nem aos olhos do pai, que mirou aquele corpinho miúdo, com seu vestidinho rosa, um chinelinho minúsculo e o cabelinho amarrado no alto da cabeça. Parecia uma bonequinha distribuindo ternura, tamanha a simplicidade de sua existência.
Sem falar nada, aquele homem, que segurava delicadamente a mão da menina, soltou-a e andou por trás da mangueira, como se procurasse alguma coisa. Seu jeito humilde e seu traje simples se confundiam com o ambiente. Em um dado momento, ele se agachou, levantou uma pedra do chão, voltou para junto da menina e colocou a pedra ao lado dela bem devagar. Passou a mão várias vezes retirando as impurezas de cima da mesma.
Então, suavemente, segurou aquela mãozinha tão pequena e conduziu a garotinha para que ali se sentasse. Não sei o que se passou na mente e no coração dela, mas o que transpareceu foi a sensação de ser a pessoa mais importante do mundo naquele momento. Alisou o vestidinho, colocou as mãozinhas no colo e lançou um olhar tão terno para o pai, como só uma criança é capaz de fazê-lo.  O pai devolveu-lhe o olhar e sustentou-o demoradamente, observando aquele rostinho tão alegre, sentindo-se orgulhoso por ter proporcionado um pouco de conforto para a filha.
Senti-me embevecida de ternura com aquela cena. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas e meu coração pulsou mais forte dentro do peito. Encantamento por aquele momento mágico, saudade dos meus filhos pequenos, esperança na vida e uma inércia, pelo medo de perder a magia daquele instante.
Entramos no supermercado para fazer nossas compras e quando voltamos os dois já não estavam mais lá. Mas o quadro desenhou-se novamente em minha memória. Fiquei ponderando sobre a naturalidade do acontecido e de como fiquei sensibilizada. Comecei a pensar na complexidade da vida moderna, no emaranhado de coisas que as pessoas criam para agitar o dia a dia. Como as pessoas colocam a felicidade nas coisas materiais. – Ah, vou ficar muito feliz quando der conta de comprar meu som... minha televisão... meu carro... e a lista nunca tem fim. Percebi o quanto damos valor às coisas e nos esquecemos das emoções, dos sentimentos, da palavra amiga, da cumplicidade de um olhar. Como a vida seria diferente se valorizássemos mais a essência do ser humano do que a aparência e as posses de cada um.
Voltei para casa sentindo-me mais sentimental que de costume. Todo o meu dia foi preenchido por aquela imagem que teimava em voltar à minha mente. A delicadeza daquele gesto, eu sinto, vai me acompanhar por um longo tempo. Quem sabe até pela vida toda. Pude perceber como muitas pessoas, que às vezes pensamos serem dignas de dó, são bem mais felizes do que nós e confirmam a frase que sempre é dita, mas, talvez, não sentida como deveria: “A felicidade está nas coisas mais simples da vida”.
 Luisa Garbazza

Essa crônica foi publicada originalmente no jornal 
"PARÓQUIA  N. S. do Bom Despacho" 
no mês de dezembro de 2011. 

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Um flagrante casual


Custei a identificar aquele pássaro. Vi-o em uma pracinha, ainda deserta, no começo de uma fria manhã de primavera. Era um esbelto joão-de-barro que, em um canteiro recoberto por pequenas folhas de grama, estava à caça de algum alimento.
Os primeiros raios do sol lançavam seus reflexos sobre as gotículas de orvalho que pairavam no gramado colorindo-as com as cores do arco-íris. Alheio a esse singelo espetáculo da natureza o joão-de-barro levantou a cabeça e andou pelo canteiro até subir na pequena mureta que marcava o limite do jardim. Dali pra frente o asfalto toma conta e o domínio é dos veículos, que sempre passam, ruidosamente, em uma velocidade incompatível com o andar de ave tão pequena.
 Mas, nesse horário de calmaria, o trânsito é quase inexistente e nosso personagem aproveitou para se aventurar um pouco mais. Lentamente, desceu o degrau do jardim. Pisou calmamente o asfalto. Parou por um instante, hesitou, depois andou na pista asfaltada. Andou? Não. Desfilou, tamanha elegância de seu porte e firmeza dos passos. A cabeça erguida, o bico apontando para o céu e a certeza do que queria.
Parada do outro lado da rua, absorta, assistindo aquela cena tão simples, porém bela, sorri por dentro ao perceber a altivez daquele pássaro. Preocupou-me a possível chegada inesperada de algum carro para atrapalhar o sonho de liberdade do nosso amigo. Porém, o pássaro, sem o menor constrangimento, continuou rumando para o outro lado, sem pressa, sem medo, levantando as pernas esguias para mudar o passo. Comecei a entender o quanto a vida para ele é simples. Vive em busca de comida, aqui e ali, sem se preocupar com fama, com glórias, pompas ou aparência. O importante é viver. É procurar o próprio alimento, voar, cantar, misturar-se com o verde. Fazer da paz sua máxima. Naquele momento, ele nem se dava conta do lugar onde estava.  “Um estranho no ninho”, mostrando em seu andar confiante e seguro que já estava acostumado a tal façanha.
De passo em passo, ele continuou sua “travessura” até ganhar outro canteiro da praça.
Atravessei a rua, ainda deserta, sem desviar o olhar do nosso amigo, que também continuava sua jornada ultrapassando o limite e subindo no outro canteiro.
Antes de seguir meu caminho, do outro lado da praça, contemplei uma última vez o pássaro, que agora reinava absoluto procurando alimento em um terreno todo recoberto por gramas verdinhas, que começavam a brotar incentivadas pelas primeiras chuvas, presente da natureza.










quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Em tudo, dai graças


Em tudo, dai graças
“Graças e louvores se deem a todo momento, ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento.”
É com essa saudação que muitos de nós, cristãos, nos aproximamos de Jesus Eucarístico. Mas nem sempre paramos para refletir sobre a grandiosidade dessas palavras. Da essência e, ao mesmo tempo, da amplitude de seu significado. Essa é a mais completa frase de louvor a Deus. Daí percebermos a importância e a necessidade de vivermos em constante ação de graças.
Dar graças a Deus por todas as maravilhas dessa natureza de riquezas tão intensas. Parar para analisar a imensidão de obras divinas inteiramente disponíveis para nós. São infinitas as possibilidades encontradas em cada pedacinho do universo que podem ser empregadas para o nosso bem-estar, nossa alimentação, cura de doenças, habitação, lazer e o que a imaginação puder conceber. Dá até para aproveitar um restinho da ternura de São Francisco de Assis em seu “Hino das criaturas”: “O céu, a terra, o mar, te louvam, Senhor./ Te louvam a flor, o fruto, o pão, te louvam, Senhor... / Te louvam Senhor. O sol, a lua, as estrelas, te louvam Senhor. / Te louvam o dia, a noite, a luz, te louvam Senhor... / Te louvam Senhor./  Num hino vibrante de glória e louvor / De um mundo que diz gratidão / Ao seu criador.”
Dar graças a Deus por nos ter criado dessa forma tão completa. Nós, seres humanos, uma máquina perfeita, magnífica, formada por uma infinidade de órgãos interligados que funcionam de forma só explicável por ser criação divina. Graças pelos olhos que miram e admiram a criação das mãos de Deus. Pela boca que nos permite agradecer e dignificar o nome do Senhor. Por braços e mãos que nos permitem servir, abraçar e se juntar em preces. Por pernas que nos levam ao encontro do irmão. Por um coração que nos permite tantos sentimentos profundos e edificantes, que se entristece e se alegra, e, que ama a Deus acima de todas as coisas.
Dar graças a Deus por termos nascido em uma família. Lugar de aconchego, de crescimento e de alegrias. Lugar de aprendizagem, de broncas, de brigas e de perdão. Lugar de oração ao “Papai do Céu”, de iniciação catequética e de crescimento na fé. Lugar de solidariedade, de amor ágape e de união, como bem traduziu o padre Antônio Maria em sua canção: “Até mesmo o céu desejou ser família/ para que a família desejasse ser céu./ Nela se faz a paz no ouvir, no falar,/ e na arte de amar, o amargor vira mel.” Como é bom ter a minha família, Senhor.
Dar graças a Deus também por ter nos criado a sua imagem e semelhança e, assim, termos a oportunidade de nos colocar a serviço do outro. Poder ver Cristo na pessoa do irmão e viver como Jesus viveu, amando e respeitando tudo e todos. Em cada momento de nossa existência, encontramos novas razões e novas oportunidades para louvar e bendizer ao nosso Criador, sempre, sempre.
Neste mês teremos a oportunidade de oficializar nosso hino de ação de graças. A quarta quinta-feira de novembro é o “Dia Nacional de Ação de Graças”.  Essa tradição começou em 1921, nos Estados Unidos, por um grupo de peregrinos ingleses, para agradecerem a Deus por uma abundante colheita, depois de muita dificuldade. E a data foi estabelecida pelo presidente Franklin Roosevelt, em 1939 – aprovada pelo congresso em 1941.
No Brasil, foi o embaixador Joaquim Nabuco que introduziu essa data, em 1949, concretizando um desejo de que “a humanidade se unisse, num mesmo dia, para um universal agradecimento a Deus”. Desde então, ano após ano, vem aumentando o número de pessoas que fazem deste, um dia de louvor e graças a Deus por todos os benefícios que Ele nos concede. “Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.”                                                     Luisa Garbazza

* Esse texto foi publicado originalmente no jornal  "Paróquia N. S. do Bom Despacho" do mês de novembro.

domingo, 6 de novembro de 2011

“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu."

      "Longe de propor o conformismo, Jesus ensina o caminho da felicidade como a promoção da paz, a vivência da misericórdia, a busca da justiça. E porque a felicidade é busca constante, de fato só a encontra quem não se conforma com o que aí está.
      Deixando-se guiar pelo Espírito de Deus, os pobres ensinam, como o Mestre, a solidariedade das relações, ainda que isso venha acompanhado de perseguições e calúnias"
                                                                                                Pe. Paulo Bazaglia

      Realmente, a "felicidade" citada no evangelho, é um estado de espírito só conseguido através do encontro com os irmãos. É na comunidade que encontraremos a felicidade. É no encontro com os mais necessitados, na evangelização, na doação, nos momentos em que nos colocamos a serviço do Reino de Deus.
       Não adianta acumular tesouros, como diz o evangelho de Jesus, cercar-se de conforto e viver como deuses. Onde estará o sentido de tal vida? Como ser feliz sozinho, sem se dar conta de tantos que sofrem esperando migalhas de pão, de atenção, de uma conversa amiga, de Deus? Nem consigo imaginar como certos poderosos conseguem dormir à noite, sabendo que causaram a desgraça de tantos outros que dependiam de seus atos e, mesmo assim, agiram de modo egoísta e injusta.
      Precisamos aumentar em nós a fé e a esperança de ver acontecer o reino de justiça e paz anunciado por Jesus. Se começarmos a agir, perceberemos o quanto há para ser feito em prol desse mundo novo. E não pararemos mais. Como diz o padre Zezinho em uma de suas canções: "O sujeito que encontrar a paz de Deus não terá sossego não / vai passar a vida inteira se ralando pelo seu irmão."

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

“Irmão Sol, irmã Lua”

O mês de outubro principia majestoso, contemplado com um calendário repleto de datas comemorativas. Algumas se destacam e são até extremamente solenizadas. Mas uma em especial chama minha atenção. O dia 4. Entre outras celebrações, temos, neste dia, uma homenagem a São Francisco de Assis e, por extensão, à natureza.
Falar de São Francisco é trazer à memória imagens de uma doçura tão grande que deixam o coração aquecido ao imaginar o mundo como ele sonhou. Esse santo é muito conhecido por seu amor à natureza e às criaturas de Deus, tratando todos como irmãos: irmão vento, irmão sol, irmã lua, irmão lobo... Conheci sua história através do filme “Irmão Sol, irmã Lua” de Franco Zeffirelli. O filme é bem antigo, mas vez ou outra torno a apreciá-lo e sempre me emociono, tamanha beleza de sua essência.
Francisco, rapaz criado com muito luxo, acostumado a ter todas as vontades satisfeitas, nasceu em 1182, na cidade de Assis, província da Úmbria, no centro da Itália. O pai, Pietro Bernardone, foi um rico comerciante cuja preocupação maior era ajuntar tesouros. A mãe, Dona Pica Bernardone, uma mulher submissa como eram as de seu tempo, nutria pelo filho um amor muito grande e sempre recebia atenção e carinho de volta. O filho crescia já predestinado a tomar conta dos negócios do pai.
Incentivado pelo pai, Francisco partiu para uma guerra em busca de mais poder e título de nobreza. Mas os desígnios de Deus foram diferentes, como muitas vezes vemos acontecer em nossas vidas. Ele caiu prisioneiro, sofreu muito e voltou doente para casa. Permaneceu doente por um bom tempo e sua recuperação surpreendeu muita gente, principalmente o pai. Francisco era agora uma pessoa diferente. Deus entrou profundamente em sua vida e sua conversão aconteceu gradativamente.
Seu desprendimento das coisas mundanas, da riqueza e da fama foi tão grande, que quando o pai se opôs a seu novo jeito de viver, não teve dúvidas e abandonou tudo para viver na mais extrema pobreza. “Não ficou muito tempo sozinho. Gente nova o seguiu com fervor.” Aos poucos, seus amigos, presenciando aquela simplicidade e entrega total, foram aderindo ao seu projeto de vida. O que se sucedeu então é de uma ternura imensa. Uma vida completamente dedicada aos pobres, aos leprosos, que eram tratados com um carinho tão grande que enche a alma de quem toma consciência de sua história. É impossível não se sentir sensibilizado com imagens tão enternecedoras.
E em meio a tanta dificuldade, vividas com alegria, Francisco ainda tinha tempo para compor frases e orações que ficaram na história. Como esta: “Apenas um raio de sol é suficiente para afastar várias sombras”. Viveu assim, afastando as sombras da vida de muita gente abandonada.  E até hoje inspira outras pessoas a ingressarem na Ordem Franciscana e seguir uma vida de doação e humildade.
Mas, sua maneira de viver, tão digna e harmoniosa, ainda hoje aparece em contraste com este mundo em que o dinheiro e o poder imperam absolutos, marginalizando tanta gente nas beiras de estradas, nas favelas, nos abrigos e nas ruas. Em vez disso, deveria servir de exemplo para nós cristãos, indicando o caminho mais singular de nos aproximarmos do modelo expresso pelas palavras de Jesus quando disse: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”.
Seria tão mais simples se, como São Francisco, valorizássemos mais as pessoas pelo que elas são e não pelo que elas têm. Se permanecêssemos em harmonia com a natureza, criação das mãos de Deus. Se vivêssemos intensamente nossa fé, ouvindo a voz de Deus, deixando-O agir em nós. Se abraçássemos esse modelo de vida tão singelo e tão completo. O que prevalece é o amor. Amor que iguala os filhos de Deus, que respeita suas obras e não se esquece nunca de dar graças por tudo e por todos.
Lembrando-me de São Francisco de Assis e de seus amigos jovens que, como ele, viveram para servir, penso nos jovens de hoje e concordo com o padre Zezinho nesta canção, bem antiga, mas de palavras tão belas como as que esse santo tão querido deixou: “Hoje em dia nos jovens que eu vejo / Irrequietos, num mundo infeliz, / Eu renovo a esperança e o desejo / De topar com Francisco de Assis. / Calça Lee, pé no chão, mundo novo, / Mil idéias de renovação.  / Ele são consciência do povo, / Queira Deus que eles cresçam irmãos.

Luisa Garbazza
* Crônica publicada no jornal "Paróquia" - outubro de 2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Livro na Praça


É impossível a quem passa pela praça da Matriz, em Bom Despacho, sábado pela manhã, não perceber o burburinho crescente, formado principalmente pelos feirantes que ali expõem seus artesanatos. Logo cedinho já se ouve o barulho dos ferros para a montagem das barracas. Em pouco tempo vê-se a feira montada, os produtos à venda, um tocador de violão ali, alguém fazendo um churrasquinho mais além.
Não demora muito e já começa a chegar toda “gente”, interessada em algum produto, um pouco de divertimento, ou apenas “dando uma olhada” básica e rápida, aproveitando a coincidência do caminho. Variedades de produtos são apresentadas aos passantes, desde roupas, bijuterias e coisas para casa até maravilhosas pinturas, em telhas, com motivos fascinantes.
No último sábado essa rotina foi enriquecida com a IX Feira de Livros de Bom Despacho. O evento contou com a parceria das meninas da biblioteca municipal, que montaram uma tenda com uns livros para incentivar a leitura e alguns para doação. Muitos levaram livro para casa. Outros, principalmente as crianças, puderam conhecer alguns dos que estão disponíveis na biblioteca para empréstimo.
O SESC também marcou presença. Oficinas de trabalhinhos manuais, balonagem e pinturas artísticas estiveram em evidência e fizeram a alegria da criançada. Muito louvável a habilidade dos jovens que desenvolveram essa atividade. Várias formas surgindo dos balões e imagens belíssimas nos rostos e braços de meninos e meninas que, sorridentes, deixavam a tenda e iam se exibir para pais, mães e amigos. Fiquei encantada com uma borboleta de asas azuis e pintas amarelas que vi despontar passo a passo no braço de uma criança.
 Mas o destaque maior foi para a tenda onde autores bom-despachenses expuseram seus livros. Quando passei por lá, tive o prazer de me encontrar com nosso ilustre escritor Jacinto Guerra, que, entre outros assuntos, escreve sobre vários aspectos do nosso povo e da nossa terra. Foi gratificante conversar sobre suas viagens e suas histórias. Mais ainda sentir seu entusiasmo pela literatura, o gosto pelas “letras” e a vontade de ver Bom Despacho crescendo nessa área, com um número cada vez maior de escritos e escritores, a atuação progressiva dos leitores e, consequentemente, a ascensão da cultura do lugar.
Ainda tive o privilégio de encontrar por ali o Dr. Celso, o Alexandre Cesário e Neiva Garbazza, todos escritores bom-despachenses, comprometidos com a arte das artes, esses, que fazem da palavra seu instrumento de trabalho.
É gratificante participar de um evento como esse. No mundo informatizado em que vivemos, onde o virtual abrange tudo e atinge todos, os livros foram deixados de lado. Chamar a atenção, principalmente dos jovens, para os livros e para a leitura é tarefa complicada. Ler chega a ser um “palavrão” no vocabulário de quem se acostumou com tudo virtual, pesquisas e resumos de livros prontos na internet e palavras entrecortadas no MSN. O visual é tudo. Um livro “cheio de letras” não é atrativo para essa clientela.
Por isso, urge uma maior conscientização de todos para o papel essencial do livro na história da humanidade. Somente com a participação de todos, crianças, jovens e adultos, leitores e escritores, pais e filhos, cidadãos em geral, chegaremos um dia a compreender a importância da cultura em nossa vida e em nosso desenvolvimento. ... e a existência humana será regida pela sensibilidade e pelo entusiasmo, permeada de histórias maravilhosas e de finais felizes.
                                                                          Luisa Garbazza
                                                                      11 de outubro de 2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Modernidade bucólica


No buliço do mundo moderno, a vida é bastante agitada e muitas cenas inusitadas acontecem naturalmente sem que ninguém, ou poucos, se deem conta. Nas ruas, então, o vai e vem é intenso e os movimentos, tanto dos veículos quanto das pessoas, acontecem de uma forma bem impessoal e automática. Algum olhar mais aguçado poderá flagrar cenas diferentes, engraçadas, simples e até emocionantes. Tive o privilégio de presenciar um momento ímpar desses na manhã do último sábado.
Fugindo um pouco da lida doméstica, aproximei-me da janela da sala, e, bem em frente, visualizei uma carroça parada do outro lado da rua. O cavalo, de pelo marrom claro, quase imóvel, estava devorando uma moitinha de capim que driblou as adversidades e brotou, teimosamente, em uma fresta do asfalto que recobre o chão.  
A imagem do condutor causou-me certa estranheza. Era um homem mais velho. Usava calça clara, bem surrada e camisa larga, também clara, de mangas compridas. Pelo pouco que aparecia do seu perfil, aparentava ter passado dos sessenta. Estava sentado no banco, com as costas encurvadas para frente e as pernas espichadas. Um chicote pendia de sua mão direita. O braço esquerdo estava dobrado e a mão encostada na cabeça, na orelha mais especificamente, como se aliviasse o peso para um momento de descanso. Um chapéu de abas bem grandes protegia sua cabeça do sol, que, apesar de a manhã estar apenas começando, já castigava, deixando uma amostra de como o dia seria quente.
O momento seguinte foi de divagações. O que estaria fazendo ali aquele homem? Permanecia quieto permitindo ao cavalo degustar o capim de aparência viçosa, contrariando o tempo seco que estamos atravessando? Esperava por alguém da casa em frente? Era um vendedor – às vezes passavam na rua uns vendedores de verduras – esperando a chegada de algum freguês? Não sei. Por um instante, tive a impressão de que cochilava tamanha era sua imobilidade. Curiosa, fiquei esperando, para verificar o desenrolar de cena tão bucólica bem no meio da modernidade. 
A cena seguinte foi, no mínimo, inesperada. Após alguns minutos de completa inércia o homem começou a se mover. Lentamente, ele desceu a mão que havia permanecido por um longo tempo na cabeça. Então pude perceber que segurava... um celular! Ah! Soltei uma exclamação quando desvendei o mistério. Essa imprevista revelação trouxe-me de volta à realidade. Os indícios de bucolismo estavam apenas na aparência: a roupa de camponês, o chapéu de abas largas, a carroça, a lentidão, sem se importar com a correria à sua volta. Detalhes trazendo-me à mente lembranças de minha infância que ainda povoam meu universo, inspirando instantes de melancolia. Mas a realidade era bem outra. É a globalização presente em todos os cantos do mundo. Ninguém quer ficar por fora. Acompanhar a evolução passa a ser, muitas vezes, mais importante que o próprio bem-estar. Quantas pessoas não possuem sequer um lugar decente para morar, porém o celular, quase sempre de ponta, está à mão para exibir em rodinhas, na escola, para a namorada...
Então, vagarosamente, o homem desligou o aparelho e guardou-o no bolso. Puxou a rédea alertando o cavalo, que levantou o pescoço contrariado por ver interrompida sua refeição. No momento seguinte, nosso personagem levantou o chicote e estalou-o no ar. O cavalo começou a se movimentar e, impulsionado pelo condutor, saiu trotando pela rua acima, sem nenhuma pressa. 
                                      Luisa Garbazza
                                                   03 de outubro de 2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Só por hoje

"Só por HOJE tratarei de viver este meu dia, sem querer resolver o problema da minha vida, todo de uma vez.
Só por HOJE terei o máximo de cuidado com o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras; não criticarei ninguém, não pretenderei melhor ou disciplinar ninguém senão a mim.
Só por HOJE me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste.
Só por HOJE me adaptarei às circunstâncias, sem pretender que a circunstâncias e adaptem todas aos meus desejos.
Só por HOJE dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me de que assim como é preciso comer para sustentar o meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida da minha alma.
Só por HOJE praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém.
Só por HOJE farei uma coisa de que não gosto e, se for ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba.
Só por HOJE farei um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em todo caso, vou fazê-lo. E me guardarei bem de duas calamidades: a pressa e a indecisão.
Só por HOJE ficarei bem firme na fé de que a Divina Providência se ocupa de mim. Como se existisse somente eu no mundo ainda que as circunstâncias manifestem o contrário.
Só por HOJE não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de gozar do que é belo e não terei medo de crer na bondade.
   Durante doze horas de uma dia, posso fazer o bem, o que me desanimaria se pensasse que teria que fazê-lo durante toda a minha vida."
                                                                       (Papa João XXIII)


Sábias palavras de nosso saudoso papa. 
Através delas tomamos consciência de que é bem melhor viver um dia de cada vez. Não é fácil, mas é o melhor caminho para uma vida mais feliz.
Quanta ansiedade poderia ser poupada se fizéssemos isso.
Quanta angústia deixaria de existir se seguíssemos essa receita.
Quanta vida teria nossa existência!
Assim, com uma entrega total a Deus, acima de tudo, seríamos mais tranquilos, mais humanos, mais solidários...
Entreguemos nossa vida nas mãos de Deus e vivamos um dia de cada vez. Sem nos esquecermos de seguir as dicas de João XXIII, só por hoje, e por hoje, e por hoje...
                                                                             Luisa Garbazza
                                                                                                              27/09/2011

sábado, 17 de setembro de 2011

Jornada Mundial da Juventude

O Brasil sediará a próxima Jornada Mundial da Juventude. 2013
Experiência única.
Domingo, 18 de setembro, chegam em São Paulo os símbolos desse evento: a Cruz e o ícone de Nossa Senhora.
Assim explica o cardeal Odilo Scherer.
"A Cruz é sempre um indicativo de Jesus Cristo para convocar os jovens a se encontrarem com Cristo. Da mesma forma o Ícone de Nossa Senhora indica a presença materna da Mãe de Jesus junto aos seguidores de Cristo.”

Interessante é a música que foi adotada como hino dessa jornada. Música antiga, do padre Zezinho, e mais atual que nunca, mostrando os anseios dos jovens. Música linda, letra ímpar. Parece até ter sido feita sob encomenda. Padre Zezinho, sempre.

Nova Geração

Eu venho do sul e do norte, do oeste e do leste, de todo lugar
Estradas da vida eu percorro levando socorro a quem precisar
Assunto de paz é meu forte Eu cruzo montanhas e vou aprender
O mundo não me satisfaz o que eu quero é a paz, o que eu quero é viver.

No peito eu levo uma cruz, no meu coração o que disse Jesus
No peito eu levo uma cruz, no meu coração o que disse Jesus

Eu sei que não tenho a idade da maturidade de quem já viveu
Mas sei que já tenho a idade de ver a verdade o que eu quero ser eu
O mundo ferido e cansado de um negro passado de guerras sem fim
Tem medo da bomba que fez, a fé que desfez mas aponta pra mim

Eu venho trazer meu recado, não tenho passado mas sei entender
Um jovem foi crucificado por ter ensinado a gente viver
Eu grito ao mundo descrente que eu quero ser gente, que eu creio na cruz
Eu creio na força do jovem que segue o caminho de Cristo Jesus

Tomara que essa jornada possa arrebanhar mais jovens que levam uma cruz no peito e as palavras de Jesus no coração.
Tomara que os jovens possam seguir o caminho de Cristo Jesus com mais ardor, mais convicção e mais alegria.
Tomara que o Brasil se torne um país melhor por ter mais jovens seguindo a lei do amor, da solidariedade, da simplicidade e das bem-aventuranças.

domingo, 11 de setembro de 2011

O valor das coisas

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, 
                                                                               mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis
                                                                              e pessoas incomparáveis".
                                                                                                                    
(Fernando Pessoa)

          Devaneio voltando ao passado e revivendo tantas coisas que vivi e que ficaram para sempre. Coisas inexplicavelmente simples, mas com uma intensidade tão grande que preenchem o coração. Um fato até ingênuo aos olhos de muitos, porém para uma criança, de um significado imensurável. 
            Naquela vida bucólica de minha infância, a "fome" de saber era tanta que às vezes atrapalhava minha mãe em tantos afazeres, pedindo que me ensinasse as primeiras letras. Ela escreveu o alfabeto, em uma folha, para eu aprender. Eu, então, na candura dos meus seis anos, apropriei-me daquele pequeno pedaço de papel e, ansiosamente pus-me a dar voltas em um pequeno monte que havia ao lado da casa, observando aquelas letras e pronunciando-as em alto e bom tom até decorá-las. Minha mãe observava, ouvia-me pacientemente e sempre tinha um incentivo que me jogava lá em cima e até hoje povoa meu universo.
          É! São as pequenas coisas da vida...

sábado, 27 de agosto de 2011

Oração com que o Papa consagrou jovens ao Coração de Jesus na JMJ


Senhor Jesus Cristo, Irmão, Amigo e Redentor do Homem,
olhai com amor os jovens aqui reunidos e abri para eles a fonte eterna
da vossa misericórdia, que mana do vosso Coração aberto na Cruz.
Dóceis ao vosso chamado, eles vieram para estar convosco e adorar-vos.
Com ardente oração, eu os consagro ao vosso Coração,
para que, enraizados e edificados em Vós, sejam sempre vossos,
na vida e na morte. Que jamais se afastem de Vós!
Outorgai-lhes um coração semelhante ao vosso, manso e humilde,
para que escutem a vossa vontade e sejam, no meio do mundo,
louvor da vossa glória, de maneira que todos os homens,
contemplando as suas obras, deem glória ao Pai,
com quem viveis feliz para sempre,
na unidade do Espírito Santo,
pelos séculos dos séculos.
Amém.
                 (ZENIT.org) – Cuatro Vientos - Madri

Belíssimas as palavras de  Bento XVI.
Tomara que cada jovem sinta-se tocado pelo Sagrado Coração de Jesus e se faça semelhante a Ele.
O mundo precisa de jovens engajados, que vivam na justiça e em harmonia com Deus. Jovens que façam a diferença na construção de um mundo mais solidário e fraterno.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Teimosia


Música: Teimosia
Letra: Padre Casimiro Irala

"Muitos já me disseram: "Por trás desse mar não há vida nenhuma, nem terra habitada". 
Muitos já me disseram: "Não suba esse morro, não vá nesse vale, não vá nessa estrada".
Mas eu vou, eu vou...

Muitos já me disseram: "Que além desse mato começa o deserto e a estrada termina"
Muitos já me disseram: "Que não tem sentido seguir o caminho além dessa praia"
Mas eu vou, eu vou...

Muitos já me disseram: “Do verso que faço é efêmero traço da palha no vento”
Muitos já me disseram: “Que a paz não é certa e a morte não deixa esquecer seu momento”.
Mas eu vou, eu vou...

Muitos já me disseram: “Que nada compensa ensinar a criança a evitar os espinhos”
Muitos já me disseram: “Que nada compensa plantar uma flor no jardim do vizinho”
 Mas eu vou, eu vou...

Muitos já me disseram: "Não vale sorrir, não adianta cantar, nem valem os abraços"
 Muitos já me disseram: “Que a terra é pequena e o sol é o limite do homem no espaço”
Mas eu vou, eu vou...

Muitos já me disseram: “Que a vida que levo não vale a saudade, nem vale a esperança” 
Muitos já me disseram: “Que nada compensa ouvir o chamado do Deus da Aliança”
Mas eu vou, eu vou...

Caminhar é o nome da felicidade, chegar é o nome da felicidade.
E eu vou, eu vou..."


Essa música fazia parte da culminância dos encontros e jornadas do grupo de jovens - Roda-Viva - em Bom Despacho.
Emocionei-me muito com ela.
Sua bela mensagem nos ensina a ser perseverante nas coisas de Deus, apesar dos revezes da vida.
Esses "muitos" citados na música estão presentes em todas as etapas de nossa vida. 
É preciso muita fé para continuar na estrada de Cristo, seguindo ao seu encontro.