quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Cortina do tempo



         Finalzinho de noite.
         Está aberta a cortina da madrugada.
         A lua, solitária,
         quebra o negrume do céu.
         Olhando-a, percebo minha pequenez,
         minha angústia, minhas carências.
         A solidão é minha também.
         Somos nós duas, apenas,
         na noite úmida e fresca.
         O frio do tempo toca-me a pele,
         penetra-me o ser,
         confunde-se com o frio da alma.
         A espera será longa,
         mas o sol há de cumprir sua missão:
         nascer, clarear, esquentar
         espantar  tristezas, medos,
         amornar o frio do coração.
         Uma nova aurora há de raiar
         sempre... sempre...
         cada vez mais renovadora.
         E a cortina do dia,
         outra vez aberta,
         permitirá novos sonhos,
         outros encantos,
         outros sorrisos...
         E muita vida.
Luisa Garbazza
28 de outubro de 2014

sábado, 25 de outubro de 2014

Gotas mágicas




Tarde fria e sem cor.
O tempo seco, sofrido por tão longa estiagem, denuncia-se na poeira acumulada, na grama seca e no ar poluído.
Nós, pobres almas inquietas, também sofremos.
Rezamos, pedimos a Deus, renovamos a esperança, todos os dias, a cada nuvem desenhada no céu.
A natureza, apesar de desgastada e massacrada, – ou justamente por isso – sabe o tempo certo para acontecer. Por aqui foi hoje, nesta tarde quieta de sábado.
O tempo transforma-se aos poucos. Escurece devagarinho e prepara-se para o espetáculo mais uma vez.
Gotas solitárias se dissolvem na terra ressequida.
Gotas solidárias umedecem o solo. 
Gotas transparentes, puras, cristalinas.
E não param. Vão-se unindo num cair constante e ritmado, tocando janelas, limpando plantas, molhando varandas e calçadas.
O brilho dos relâmpagos rasga o céu formando riscos que hipnotizam e surpreendem pelas formas exóticas e variadas.
De canto a canto, misteriosamente, o eco dos trovões enchem o espaço com suas notas graves, ora amedrontando, ora ensurdecendo, ou murmurando apenas, escondido pelas nuvens.
Com mais intensidade, a chuva cai agora. Gotas mágicas que purificam o ar e saciam a sede da terra.
Da varanda, vejo a grossa enxurrada que corre na beira da rua, invadindo a calçada: a água escura leva consigo muito pó, folhas secas e sujeira.
No telhado, a melodia tão almejada.
A presença das calhas – recém-colocadas – priva-me da dança poética e sonora das goteiras.
O frio toca-me levemente o rosto, entra-me pela pele e causa arrepios, mas permaneço atenta ao desfecho imensamente aguardado. E louvo ao Criador.
A fé mantém viva a esperança. A confiança nos conserva no caminho e sustenta a certeza de que nunca estamos sós.
O show agradou demais, não pode parar.
Bravo! Bis!
Luisa Garbazza
25 de outubro de 2014 
Tarde de chuva, graças a Deus.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Vida em poesia




Assim vive o poeta:
de encantos e acalantos,
de risos e prantos,
juntando fragmentos.
Faz da existência uma poesia,
faz da dor a alegria
de demonstrar seus sentimentos.
A vida se descortina
contenta-se com a sina
de gravar bons e maus momentos.
Assim segue o poeta:
viajando noite e dia
nas asas da fantasia
historiando seus tormentos.
Deixa-nos seu legado
em cada verso registrado
da vida os segmentos.
E nós, simples mortais,
fazemos dos seus ais
os nossos próprios lamentos. 
Luisa Garbazza
20 de outubro de 2014