sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Viver é isso


Em um desses momentos de inspiração
a mente divaga e pensa na magia da vida.
Tantos momentos vividos!
Alegrias, encantos, afetos.
Quanta dor suportada!
Amigos deixados pelos caminhos.
Dias de primavera, cheiro de flor e terra molhada.
Outros desertificados, difíceis de transpor.
Segue a caminhada.
Passo a passo.
Como um dia que amanhece,
calidamente,
com os primeiros indícios de claridade
Alegra-se com o frescor da manhã
Perpassa a tarde e seu calor castigante
E vai declinando tal qual o sol que se põe no horizonte.
Luisa Garbazza
23 de agosto de 2013


sábado, 10 de agosto de 2013

Lembrança paterna


 Aproxima-se o dia dos pais. Pego-me pensando em meu velho pai. Vasculhando a memória, certifico-me de que nunca escrevi nada sobre ele. Já se passaram vinte e cinco anos de sua partida para a eternidade, mas nunca caiu no esquecimento. Continua presente nas lembranças do tempo compartilhado. Apesar de ser um homem tosco, não acostumado com os afetos, estava sempre presente, nos dias de sol e nos momentos tormentosos de nuvens negras, que, infelizmente, foram bastantes.


Analisando o vídeo que perpassa em minhas reminiscências, percebo que muita coisa ficou indefinida em nossa convivência. Muitas lacunas deixadas por uma partida tão inesperada. Nostalgicamente, entristeço ao me lembrar de que poucas vezes o abracei – talvez somente nos dias dos pais e aniversários. No entanto, o coração ainda fica apertado e dorido nos momentos em que dele me recordo.

Vejo que são tantas lembranças!... As sombrias, prefiro deixar no passado. Há as que me deixam pensativas; outras me enchem de afeto.
Meu pai – homem alto, moreno, feições graves, jeito bravo – deixava transparecer certa tristeza no olhar. Nunca tive coragem de aproximar-me e perguntar se ele era feliz. O tempo passou, ele se foi, e eu fiquei com essa sensação de incompletude que muitas vezes me entristece. Ainda bem que o coração guardou os momentos de ternura para preencher os dias de saudades.
Quando criança, a única brincadeira dele que tenho gravada em mim: sentava-me em seus joelhos, levantava e batia os pés no chão repetindo uma frase: “Cavalinho três, três. Cavalinho três, três.” Nunca entendi o sentido daquelas palavras, mas me divertia muito.
Volto no tempo, e lá está ele, no final da tarde, com seu violão, brindando-nos com lindas melodias. Às vezes sozinho, outras vezes acompanhado por minha mãe e, ainda, pelos filhos. – “Casando fugido” de Tião Carreiro e Pardinho, era a sua preferida, cantava sempre.
No meu aniversário de quinze anos, sonhos embutidos, ou nenhum, pelas condições em que vivíamos, a única manifestação concreta foi de meu pai. A noite já ia adiantada quando ele chegou a casa. Aproximou-se de mim, deu-me os parabéns e entregou-me um embrulhinho com papel de armazém. Ainda agora as lágrimas voltam e o coração se enche de ternura. Bela surpresa! Envolto naquele papel amarrotado e sem cor, uma pequena caixa de pó de arroz: Cashmere bouquet. A emoção foi intensa e inexplicável. Talvez, a maior que ele me proporcionou pelo significado daquela data. Obrigada, meu pai!
Foram vinte e sete anos em sua companhia. As lembranças ficam tão distantes e, ao mesmo tempo, tão presentes! A demonstração de alegria em minha formatura; seu interesse em ensinar-me tocar violão – que nunca se concretizou; suas constantes variações de humor e suas ausências; o lugar que ele se sentava na Igreja; e outras.
Por mais que passe o tempo, a presença desse homem continua nítida em minha vida. Ao senhor, meu pai, minha homenagem neste dia dos pais. Minha gratidão por ter participado do projeto de Deus concedendo-me o dom da vida; por ter-me acompanhado, à sua maneira, por todos esses anos e por ainda povoar meus pensamentos e minhas emoções.
Sei que hoje está junto de Deus. Mesmo assim, entre lágrimas, deixo registrado o meu amor, o meu afeto e um abraço bem apertado.
Feliz dia dos pais!  
Luisa Garbazza
10 de agosto de 2013

Para o meu pai - Vicente Pereira Garbazza.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Justiça social – dever do cristão


          No princípio, Deus foi trazendo à existência cada elemento do universo, um a um, até completar a sua criação. Depois, criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança e abençoou-os. Sua obra era perfeita. Tudo se encontrava em harmonia. Deus deu, então, uma ordem ao homem e à mulher: “Sede fecundos, multiplicai-vos, povoai a terra, e submetei-a”. (Gên 1,28) A partir daí, o homem começou a viver em sociedade.
          Essa sociedade foi crescendo, e, na convivência, foram surgindo as diferenças. Por isso e pela desobediência a Deus, quebrou-se a harmonia dos primeiros tempos. O homem começou a ficar ambicioso e egoísta. Tentando restaurar a paz, o Criador enviou, através de Moisés, as “Tábuas da Lei”, ensinando ao homem a perfeita maneira de se relacionar. – Dá até para imaginar o encanto de uma sociedade em que todos observassem os preceitos dos dez mandamentos. – Contudo, levado pelo livre arbítrio, o homem não se contentou em viver daquela forma. Voltou a praticar todo tipo de barbaridades, prejudicando, humilhando, excluindo e matando os mais desfavorecidos ou os inimigos.
          Preocupado, Deus enviou – em vão – vários profetas para desviar o homem do caminho da iniquidade. Não foi o bastante. A humanidade continuou a trilhar o mesmo caminho. Nessas circunstâncias, Deus enviou seu próprio filho ao mundo para “fazer novas todas as coisas” e recuperar a unidade do seu povo. Jesus, o primogênito de Deus, veio “para que todos tenham vida plena” e plantou entre nós a semente do bem. Apesar de ter sido taxado de criminoso, ser crucificado e morto, deixou-nos como mandamento a melhor maneira de recuperar a igualdade, a fraternidade, enfim, a união. Ele ensinou-nos: “Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (João 13:34).
         Mais de dois mil anos se passaram e ainda estamos no mesmo caminho, enfrentando as mesmas dificuldades para se conseguir uma sociedade mais justa e menos desigual. Não podemos nos descuidar. É dever nosso, como cristãos, entrar nesse desafio. Para isso, Jesus deixou-nos muitos ensinamentos através de seus exemplos: a cura dos leprosos, devolvendo-os ao convívio social; quando diz ao cego: "Levanta-te e vem para o meio" com o objetivo não só de curá-lo, mas também de reinseri-lo na sociedade; na parábola do bom samaritano, que teve compaixão do desconhecido; nas bodas de Caná, com o auxílio de sua mãe, Maria; e muitos outros. Compete a nós, hoje, observar esses exemplos e os colocar em prática em prol dos irmãos.
          Seguindo os passos de Jesus, necessitamos entender que não basta apenas nos preparar espiritualmente, ir à missa todos os dias, não fazer nada de errado e rezar; – se bem que a oração, por ser o nosso combustível espiritual, é imprescindível. Devemos nos preocupar com o convívio social. Todos, sem exceção, merecem ser tratados como pessoas que são, e nunca como coisas. Estamos neste mundo em igualdade de condições perante Deus e somos responsáveis uns pelos outros.
          Nessa tarefa de olhar o mundo com os olhos de Jesus e batalhar por uma convivência mais humanizada, precisamos primeiro nos preparar, salvando-nos a nós mesmos, tornando-nos mais humildes, esquecendo o egoísmo e o orgulho. Depois, é o momento de dar testemunho de Cristo e procurar o irmão necessitado. Precisamos ajudar o outro a reconhecer-se como filho de Deus e aprender a cuidar de si mesmo. Igualmente ele tomará consciência de que também precisa ajudar alguém. Assim, pouco a pouco, seremos bastantes a almejar esse “mundo mais irmão” com o qual sonhamos. “Podemos, com nossas forças, nos opor a muitos males da sociedade atual. Mas não devemos nos esquecer de que a finalidade de nossas ações deve ser sempre o bem maior, e esse bem não termina em nós; ele nos supera, dirige-se para toda a comunidade humana e termina sempre em Deus. Não podemos excluir a referência cristã de nossas ações. Senão seremos apenas mais um na multidão.”
          Observando esses preceitos teremos condições de resgatar a dignidade de nossos irmãos esquecidos e sermos muitos com o mesmo ideal. Juntos, teremos mais valor e mais forças e poderemos dizer em uníssono: “Podes reinar, Senhor Jesus! Reina, Senhor, neste lugar!”
Luisa Garbazza

O trecho entre aspas, do penúltimo parágrafo, foi transcrito do artigo “A Santidade da Vida Cotidiana” – de autoria do seminarista Matheus Garbazza – e pode ser conferido no seguinte endereço:
http://obraspejulio.blogspot.com.br/2013/06/a-santidade-da-vida-cotidiana.html

Publicação do Jornal "PARÓQUIA"
Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho
Agosto de 2013