segunda-feira, 11 de março de 2019

Verdadeira fraternidade


Manhã de domingo, em minha casa, é quase sempre a mesma rotina: levantar cedo e se preparar para participar da Santa Missa. No último domingo, entretanto, como teríamos função na missa da noite, mudou-se a rotina: levantamos cedo, e o Flávio convidou-me para uma caminhada.
O ar fresco da manhã e a conversa amena tornavam agradável o caminhar. No meio do caminho, no entanto, algo quebrou nosso encantamento: em frente à cadeia, um grupo de mulheres aguardava o momento das visitas. Aquela cena muito nos sensibilizou. A partir daí, então, a conversa foi sobre a Campanha da Fraternidade 2019, sobre políticas públicas, para qual estamos nos preparando, pois sabemos que muitos dos presos são jovens que se envolveram no mundo das drogas.
Em preparação para a Campanha da Fraternidade, tivemos, no último sábado, um encontro de formação para a liderança da paróquia. Convidamos o promotor público, Dr. Giovani Vieira, para falar para nós sobre as políticas públicas. Muito interessante as palavras do Giovani, que nos dizia o quanto a Constituição Federal do Brasil é rica e completa. Triste é vê-la tão desvalorizada. Ali entendemos que há, sim, leis que protegem os menores, o meio ambiente, os idosos, a família, que privilegiam a educação e a saúde. Pena que os políticos não cumprem – pelo menos não em sua totalidade – o que dita nossa constituição. E as consequências? Vemo-las no meio de nós: pessoas desamparadas, idosos sem amparo, muitos doentes sem socorro, infância desvalida, jovens sem perspectivas, educação precária e o meio ambiente cada vez mais devassado.
Vendo tanto descaso por parte dos políticos, nós cristãos não podemos nos acomodar. É aí que entra a verdadeira fraternidade. Precisamos tomar consciência da nossa obrigação de filhos e filhas de Deus e partir para a prática do “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.  Esse é o mandamento deixado por Jesus. Esse deveria ser o maior de todos os mandamentos, e às vezes fica esquecido. Abramos nosso coração. Há tanto a ser feito! Podemos apoiar o irmão que sofre, cobrar dos políticos que seja cumprido o que nos propõe a Constituição Federal. Está tudo lá, nas leis. É necessário apenas que haja forças para vencer a corrupção e colocar em prática a lei dos direitos iguais para todos, em quaisquer circunstâncias, a começar pelo direito à saúde, à educação e a uma vida com dignidade. Posso estar sendo muito otimista, mas creio que se todos tivessem acesso a esses direitos, haveria bem menos violência, menos revolta, menos tragédias.
Tomara que, nesta Campanha da Fraternidade, possamos, todos juntos, olhar com mais compaixão para nossos irmãos que sofrem e fazer alguma coisa para ajudá-los a conseguir o que lhe é de direito. Nem todos se conformam com a situação em que vivemos. Juntos, com a certeza da graça de Deus, que se fará presente em nossas atitudes, podemos melhorar a vida dos nossos irmãos e a nossa também. A certeza de que Deus está conosco, nos dará forças na caminhada de fé e de fraternidade.
Aqui me lembro de outro fato da última semana: saindo bem cedo de casa, passei perto de uma construção civil e ali, sentado ao lado de um monte de areia, aguardando a hora de começar o trabalho, um jovem, de cabeça baixa. Ao me aproximar, notei que ele tinha nas mãos uma Bíblia – já amassada e um pouco suja – e um lápis, com o qual ia marcando algumas palavras. Tenho certeza de que aquele jovem também sofre as consequências do regime de privilégios em que vivemos. Mas sei também que ele coloca todas as suas esperanças em Deus, o qual estava ouvindo através da Palavra.
Luisa Garbazza

Publicação do jornal "Paróquia"
Março de 2019