domingo, 21 de setembro de 2014

História de amor



A primavera 
- estação que revigora a vida - 
ainda demoraria alguns dias para aparecer no calendário.

Rumores diferentes
foram ouvidos em meu pequeno quintal.

Foi fácil perceber a presença dos meus mais novos inquilinos.

No frescor da manhã, lá estavam os passarinhos:um casal de rolinhas que veio namorar em meu quintal.

Foram momentos de muito carinho.

Logo descobri que o namoro dera certo: 
o ninho estava pronto.

Um emaranhado de capins e cipozinhos no galho da pitangueira.

Por vários dias acompanhei o ninho vazio.

Preocupei-me em vão.

Mais um pouco de espera...
e dois ovinhos brancos enfeitaram aquele lar.

A mãe rolinha agora não se ausentava.

Dia e noite chocando aqueles ovos incansavelmente.

Todos os dias eu me aproximava.

Tão acostumada estava, 
ela já não se importava com a minha presença.

O tempo sempre nos surpreendendo.

Num descuido da rolinha, 
descobri que havia vida nova no ninho.

Aproximei-me cautelosamente.
Admirei-me ao ver os filhotes já bem grandinhos.

Completamente desprovidos de beleza 
- aos meus olhos. -

Mas, para a mãe, eram, com certeza, 
as “coisas” mais lindas do mundo.

Continuamos a amizade.
 Mais alguns dias e os filhotes estão crescidinhos.


Agora, sim, têm graça e beleza.
Emplumados, enchem o ninho, 
os olhos e o coração da mamãe passarinho. 

A mãe zelosa não se afasta muito, 
mas os filhotes querem ser livres.
Já dão os primeiros sinais de independência.

Breve alçarão novos voos, cada vez mais alto...
cada vez mais distante...

E a história há de se repetir, sucessivamente, com o mesmo encanto.

É a vida que se renova 
a cada estação.



Luisa Garbazza
21 de setembro de 2014
Em vésperas da primavera.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Nos trilhos da vida



     
        Nas páginas da existência
      as linhas se entrelaçam
      em um emaranhado de vai e vens.
      Nos paradoxos entre o ontem e o hoje
      o mistério do amanhã.
      Os pensamentos se misturam.
      As vontades se transformam.
      Muitos quereres são hermetizados
      no tempo que já se foi.
      Os ideais se chocam:
      uns se realizam
      outros se perdem
      alguns ficam no vácuo: “Ainda há tempo?”
      No caminho aberto ontem
      hoje não sei caminhar.
      A alegria de então
      agora me faz chorar.
      Não obstante...
      Apesar do desalinho
      viro a curva do caminho
      sem me desesperançar.
      Nas linhas do horizonte
      pouso meus pensamentos...
      Nos trilhos inconstantes da vida
      equilibro sentimentos.
      Em cada movimento uma procura
      Em cada estação uma esperança.
      Busco encontrar nas paralelas
      alguma chance de me encontrar. 

                Luisa Garbazza
16 de setembro de 2014

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Palavras de vida e de salvação



Deus criou o homem a sua imagem e semelhança. Homem e mulher Ele os criou. Desde o início, Deus tinha um plano para a criação de suas mãos. Ele queria que o homem dominasse a terra e vivesse livre do ódio, do egoísmo, da ambição, enfim, livre do pecado. Para isso, Deus dirigiu ao homem seus ensinamentos, suas palavras de vida e plenitude e impôs regras a serem cumpridas. Na verdade, uma única regra: a obediência. O homem tinha um mundo maravilhoso para explorar e dele tirar o seu sustento. Era preciso apenas respeitar o limite imposto pelo Criador.
Entretanto, o homem foi dominado pela ânsia do poder, não se contentou com o que recebia gratuitamente das mãos do Pai e traiu-lhe a confiança. A partir dessa atitude egoísta e impensada, o homem foi forçado a seguir seu próprio destino e começou a afastar-se de Deus. Foi uma caminhada árdua e difícil. Uma constante luta pelo domínio do mundo. Para conseguir o que queria e continuar no comando valia tudo: divisões, maus tratos, dominações, guerras, matanças.
Deus resolveu, então, manifestar-se novamente aos homens. Vários foram os escolhidos para ouvir a voz do Senhor e espalhar sua mensagem de amor na tentativa de resgatar a dignidade de seus filhos e filhas. Todavia, não foi suficiente. Era muito pequeno o número dos que acreditavam na existência de um Deus todo poderoso criador de todas as coisas.
Mais uma vez Deus se compadeceu da humanidade e enviou seu próprio filho para transmitir suas palavras de paz, de amor e de salvação. Jesus, o filho de Deus, cumpriu sua missão falando a todos, ensinando a viver no amor, a amar sem medida, a perdoar os pecados e a acolher os pobres e oprimidos. Muitos seguiram o Mestre, porém, por causa da cobiça dos poderosos deste mundo, Ele foi incompreendido, torturado e morto.
Mesmo assim Deus não abandonou seus filhos. Outros foram escolhidos e inspirados pelo Espírito Santo para registrar a presença divina entre os homens ao longo da história da humanidade e, também, a pedagogia de amor vivida e ensinada por seu filho Jesus. Assim nasceu a Bíblia.
A Bíblia é a palavra de Deus, palavra de vida e de salvação, apresentada a nós em forma de cantos, salmos, histórias, parábolas, cartas, exortações. Deus fala a cada um de maneira diferente: a uns ensina, a outros repreende, a alguns corrige, a outros encoraja. A todos instrui na justiça, indicando o caminho do céu e mostrando que não há outro caminho. “Cada palavra de Deus é comprovadamente pura; Ele é um escudo para quem n’Ele se refugia.” (Pv 30,5)
Conhecer as Escrituras Sagradas e procurar colocar seus ensinamentos em prática no dia a dia é essencial para o Cristão, pois, como nos disse São Paulo na carta aos Hebreus, “...a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração.” (Hb 4,12)
Por isso, precisamos valorizar a Bíblia, difundir seus ensinamentos e ser testemunhas vivas do modelo de sociedade pregado pelo Mestre Jesus, pois só conheceremos a veracidade dos desígnios divinos e marcharemos para perto de Deus se nos deixarmos iluminar pela luz da fé e da palavra de Deus.
                                                                                                                                   Luisa Garbazza

Publicação do "Informativo Igreja Viva"
Paróquia Nossa senhora do Rosário

sábado, 6 de setembro de 2014

Diante do altar





“Aqui do meu lugar, eu olho o seu altar e fico a imaginar...”
Como é gratificante fazer uma pausa na correria do dia a dia, esquecer-se de tantas coisas – algumas até desnecessárias – que povoam nossa mente, para nos colocar diante do altar do Senhor. Aqui, cônscios da presença real do Corpo de Cristo no Sacrário, sentimo-nos tão perto de Deus! Nessa proximidade, e na certeza de estarmos sendo ouvidos, torna-se fácil abrir o coração e explicitar nossos medos e nossos anseios mais profundos.
A experiência de se colocar diante do altar é enriquecedora. Vale cada minuto. Seja durante a Celebração Eucarística, seja de joelho dobrado diante do Santíssimo exposto ou durante o dia, quando reservamos um pouco do nosso tempo para nos colocar em atitude de contemplação e adoração.
É diante do altar do Senhor que melhor expomos nossas misérias. Não digo misérias materiais, já que perante Deus somos todos iguais. Falo das misérias existenciais, da carência humana, da dor de não se encontrar em meio ao caos do mundo – dito evoluído. É tanta modernidade, são tantos meios para facilitar a vida, que nos perdemos, e, muitas vezes, temos dificuldade em encontrar os autênticos caminhos da caminhada cristã.
Aqui, no silêncio do templo, contemplando o altar sagrado, a alma fica irrequieta, deixa-se elevar diante de Deus e reza. São momentos de extrema conexão com o Pai. Oportunidade para abrir o livro da existência e apresentar a Deus aspirações, queixas e súplicas.
Os pais se prostram para colocar diante do altar os filhos que Deus lhes confiou. Agradecer pelo comportamento de um filho, pedir auxílio para saber conduzir o outro, pedir perdão pelas vezes que não foi suficientemente firme, que não agiu no momento oportuno ou por ter se esquecido dos momentos de ternura, tão necessários ao crescimento do ser humano.
Nesse mesmo lugar, vimos os filhos, principalmente os jovens, em posição de humildade, apresentando a Deus seus pedidos. Difícil posição a dos jovens de hoje, que veem os valores cristãos serem bombardeados por todos os lados. Não é fácil ser jovem e seguir Jesus em um mundo, tão dominado pelos valores pagãos, onde reina o egoísmo e a busca por prazeres cada vez mais efêmeros e corações cada vez mais vazios. Somente aqui o jovem encontrará a força necessária para preencher-se de Deus e enfrentar o mundo sem desanimar.
Com os olhos no altar, pensamos nas desigualdades que assolam um mundo que deixou em segundo plano – ou terceiro – o mandamento do amor. Pensamos nas guerras que destroem milhares e apresentam rostos desfigurados e suplicantes. Tudo o que querem é viver em paz e são colocados como alvo dos poderosos nesta luta desumana pelo poder a qualquer custo. Não há como ficar indiferente a tanta covardia, tanta disputa, tanto sangue derramado. É no altar do Senhor que depositamos todas as pessoas que estão sofrendo os horrores da guerra. E também os que a provocam, para que sejam tocados pelo Espírito de Deus e tenham um coração manso e humilde como sempre pedimos a Jesus.
No silêncio deste lugar, deixamos o coração à larga e almejamos ouvir a voz do Senhor a clarear nossas ideias, a mostrar os melhores caminhos, a acender em nós o desejo de continuar sua missão. Quando Deus nos fala, através das palavras do Evangelho, precisamos nos concentrar para buscar nas entrelinhas qual recado Ele nos quer dar. E isso acontece também, ante esse altar.
Com os olhos no altar, pedimos a Deus que aumente a nossa fé. Queremos nos afastar daqui fortalecidos pelas graças de Deus. Queremos ter a certeza de que nada vai nos separar daquele que se doou por nós todos. Nada vai abalar nossa crença em um Criador que é Pai, Filho e Espírito Santo. E essa certeza, só o próprio Deus pode nos conceder, um pouco a cada dia, todos os dias, sempre.
É daqui deste lugar, perante o Deus do amor, que sairemos com a alma mais leve e o coração ardendo pela presença do fogo do Espírito. Daqui iremos a outros lugares, dispostos a propagar o que vivenciamos e a lutar pela paz tão utopicamente pregada e ainda pouco vivida. Missão difícil, mas, se vivermos no dia a dia o que aprendemos, serviremos de exemplo para muitos e levaremos adiante o projeto do Pai.
Luisa Garbazza 
Texto publicado originalmente no jornal da Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho 
no mês de setembro de 2014