terça-feira, 23 de junho de 2015

Quem sou eu?

Sou gente importante, capaz, imprescindível?
Sou inteligente, eficaz, tangível?
Pessoa de destaque, insubstituível?
Com mente privilegiada, sensível?
O tempo se encarrega de responder:
Não sou nada. Não sou ninguém.
Sou verme, indigno de viver.
Reles mortal pelo mundo além,
lutando para sobreviver.
Estou passando pelo mundo.
Amanhã? Onde estarei?
Chega o fim da existência
e para sempre calarei.
Deixo o mundo, deixo a vida,
só Deus sabe para onde irei.
Nesse mundo conturbado,
onde todos querem o poder
Mais vale a vida tranquila
o jeito humano de ser;
ter mente que não vacila,
para o bom senso não perder;
deixar de lado o egoísmo,
o orgulho e a ganância
que valoriza tanto o ter.
Vivamos para ser bem quisto:
o outro é sempre o irmão,
pois somos todos de Cristo,
pisamos o mesmo chão.
E quando minha hora chegar,
depois da jornada da existência,
como vou me apresentar
à Divina Providência?
Para o que quero encontrar,
preciso buscar minha essência.
Ser mais simples, viver para amar,
buscar da vida a ciência.
Diante do humilde me ajoelhar,
com todo amor e bondade,
para poder Jesus abraçar,
e glorificar por toda a eternidade.
Luisa Garbazza
23 de junho de 2015

sábado, 13 de junho de 2015

Junho – devoção aos santos


A história da humanidade é permeada de homens e mulheres que se destacaram por sua bondade e pelo bem que fizeram aos outros, principalmente aos mais necessitados. Depois de Cristo, na história da Igreja Católica, muitas pessoas adotaram como objetivo de vida a obrigação de ajudar o próximo de um modo mais concreto. Por isso ganharam graças, diante de Deus, e o dom da intercessão, entendido por nós como milagres. São os santos e santas, que foram eternizados e ganharam a glória dos altares.
O mês de junho vem recheado de santos para serem lembrados. Entre eles, quatro se destacam pela devoção fervorosa e pelo folclore em torno da história de cada um: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo. Desde criança, aprendemos a venerar esses santos e a buscar a sua intercessão; acompanhamos a tradição da reunião das famílias para a reza do terço; o costume das fogueiras, que são acesas para homenageá-los. Acompanhamos também as crendices populares, ligadas principalmente a Santo Antônio, e as alegres e festivas quadrilhas.
Santo Antônio vem primeiro, no dia treze, trazendo-nos um exemplo de simplicidade, humildade e muito serviço.  Por isso é tido como o padroeiro dos pobres. Deixou-nos também um exemplo de partilha, porque saciou a fome de muitos necessitados. Dessa virtude, vem a tradição do “pãozinho de Santo Antônio”, distribuído em muitas igrejas todo dia treze de junho. É o pãozinho da fartura. Por outro lado, imitando seu exemplo, somos convidados, ainda, a distribuir pão a quem tem fome.
Santo Antônio povoa também o imaginário das pessoas, que o elegeram como “o santo casamenteiro”, baseado na narrativa de que ele ajudou uma moça que não possuía dotes – detalhe imprescindível na cultura da época – a arrumar um casamento. Talvez por isso se comemore o Dia dos Namorados na véspera de seu dia.
São João é comemorado no dia 24, com a força das fogueiras, dos fogos, das bandeiras içadas em altos mastros e das histórias que o envolvem. A primeira fogueira, segundo algumas tradições, foi acesa para anunciar o nascimento de João Batista. E os fogos? Para acordar São João. – Quando criança, minha mãe nos contava essa história: São João queria muito voltar à terra para comemorar seu aniversário e participar das famosas festas em sua homenagem. Deus não podia permitir. Então, quando ele perguntava: “Ô Senhor, qual é o meu dia?”, Deus respondia: “João, seu dia ainda não chegou.” Na véspera, porém, Deus o colocava para dormir e só o acordava no dia 25. São João então perguntava: “Ô Senhor, qual é o meu dia?” E o Senhor explicava: “João, seu dia já passou.” E assim em todos os anos.
Encerrando o mês, no dia 29, aparece São Pedro, o pilar do catolicismo, o guardião das chaves do céu, o primeiro papa. Foi um dos doze apóstolos de Cristo, aquele em quem Jesus confiou para dar continuidade aos seus ensinamentos: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja." (Mt 16,18) Neste mesmo dia, a Igreja Católica homenageia São Paulo Apóstolo, um autêntico fariseu que se converteu ao cristianismo e dedicou sua vida pela evangelização dos povos. Juntos, Pedro e Paulo sustentam a força da expansão do catolicismo e receberam a significativa comparação – colunas da Igreja.
Mais que qualquer história ou tradição popular, o que importa é a fé em Deus e no santo de nossa devoção. Para nós, católicos, os santos representam exemplos a serem conhecidos e imitados. Cada um a sua maneira, todos confiaram no Pai e deixaram-se guiar por Ele. Seja servindo aos que vivem na pobreza material, sendo exemplo de fé ou espalhando o evangelho de Cristo, todos encontraram graças diante de Deus e podem interceder por nós.

Para a vida, procuremos conhecer a história dos santos e, no dia a dia, imitar seus exemplos de fé, de partilha, pobreza, humildade, oração, de força e entrega total a Deus. Essa é nossa missão neste mundo: a santificação – nossa e daqueles com os quais convivemos. 
Luisa Garbazza
Artigo publicado no Jornal PARÓQUIA
Da Paróquia N. S. do Bom Despacho - junho de 2015

terça-feira, 2 de junho de 2015

“Fazer da vida uma oblação”

Nós, seres humanos, frágeis e limitados, passamos pela vida – Tão efêmera! – enfrentando as intempéries inevitáveis que o dia a dia se encarrega de trazer até nós. A vida é muito incerta. Nunca estamos totalmente preparados para ultrapassar as barreiras, nem estamos livres delas. Vamos aprendendo, aos poucos, com força de vontade e confiança em Deus, vivendo um dia de cada vez, colocando-nos nas mãos do Todo-Poderoso.
Muitas vezes a vida nos impõe desafios difíceis de serem superados. De um dia para outro, vemos desmoronar tudo que construímos – seja de concreto, seja em sonhos para o futuro. Hoje estamos bem, amanhã temos de enfrentar uma doença grave, nossa ou de algum familiar; um dia nos saímos bem financeiramente, outro dia passamos por crises desanimadoras; esperançosos, concluímos um curso e não conseguimos avanços profissionais; estamos felizes ao lado de alguém e Deus vem ceifar a vida de quem mais amamos. Nesses momentos de aflição, nossa e dos irmãos, às vezes nos desesperamos e não sabemos mais como continuar. Durante o processo de perda, seja ele qual for, é normal passarmos por um período de desolação, afinal somos seres humanos. Somos vulneráveis, física e emocionalmente, carregados de sentimentos e sensibilidade. Mas também somos dotados de uma grande força espiritual e de fé em Deus. Somos, por isso, capazes de nos reerguer das quedas inevitáveis de nossa existência.
Como motivação para a vida, nesse sentido, vem uma frase, de que gosto muito, do escritor e palestrante brasileiro Carlos Hilsdorf: “Não podemos escolher o que a vida vai colocar à nossa frente. Mas podemos escolher como agir diante do que ela nos apresenta.” Quanto mais penso nessa frase, mais me convenço de que seu autor tem razão. Por mais dura que tenha sido a provação, de nada adianta nos ausentarmos do mundo ou nos revoltarmos com a vida. Passados os momentos de tristeza, em que é comum nos sentirmos desamparados, precisamos acreditar na misericórdia divina, renascer, tentar outros caminhos. A vida não para nem espera ninguém. Nós somos responsáveis por nossa caminhada. Muitas vezes não é fácil, mas é urgente sairmos do estado de prostração, do sentimento de autopiedade e mudar o rumo da vida.
Exemplo concreto dessa superação, observo durante a missa do domingo, na Igreja Matriz: A igreja cheia de fiéis, mas sempre cabe mais um cristão que vem buscar, na palavra de Deus, o alento para a semana. Vejo entrando um casal com uma menininha ao lado. – Uns cinco anos, talvez. – O esposo, com semblante tranquilo, empurra devagar sua própria cadeira de rodas, posicionando-a, mais à frente, onde consiga ver o altar. A esposa, que vejo sempre sorrindo, vem logo atrás, senta-se em um banco próximo ou fica em pé. A menina, netinha do casal, acompanha-os e fica por ali, ora ao lado da avó, ora ao lado do avô. Em certo momento, a menina se aproxima do avô e sobe, ternamente, em seu colo. Acolhida e abraçada por ele, permanece ali, naquele aconchego, recebendo o carinho que buscara. Cena emocionante e tão afetuosa que nos revela a presença de Deus.
Acho que todos ali os conhecem: São carinhosamente chamados de Luisinho e Ritinha. E a neta Isabela. Esse casal passou por momentos difíceis, de provações, tristezas, desânimos. Mas, com certeza, os dois souberam como agir diante da situação que a vida colocou à sua frente. Com força e fé, ultrapassaram as barreiras, colocaram-se no colo de Deus e continuam a caminhada, firmes e confiantes. É isso que Deus espera de nós: que, a despeito de qualquer barreira que possa surgir em nosso caminho, depositemos toda nossa confiança em suas mãos misericordiosas, façamos da vida uma oblação e sigamos rumo ao seu reino.

Luisa Garbazza

Publicação do Informativo Igreja Viva
Paróquia N. S. do Rosário
Junho de 2015.