O calendário de 2012 vai se despedindo das
paredes. Dezembro foi um mês quente por excelência – suas temperaturas elevadas
deixam todo mundo mais cansado que o costume. Um calor insuportável nos assola
por todo o dia. As noites, bem pequenas nesta época do ano, são insuficientes
para amenizar o calor, que volta a incomodar mal desponta o sol no horizonte.
Na última quarta-feira, vinte e seis
de dezembro, a cena se repetiu. Como a maioria, fico incomodada e sem lugar em
dias assim. O sol se deixou encobrir pelo horizonte e deixou atrás de si as
consequências de um dia inteiro de calor causticante. A noite seguiu seu
destino: ar quente, parado, sufocante.
Depois das dez da noite, irrequieta
dentro de casa, saí para a varanda na esperança de me refrescar. Ainda na porta
da sala, visualizei o encanto da lua, que brilhava no céu, rodeada por algumas
nuvens escuras e solitárias. Sentei-me no degrau do portão. Fiquei ali, absorta
em meus pensamentos. A rua silenciosa e vazia refletia em minha alma sua
solidão.
Permaneci assim, perdida em mim mesma, até
perceber mudanças no céu. A luz da lua fora substituída por grossas nuvens que
se espalhavam rapidamente, deixando na noite um rastro sombrio e pesado. O
sopro da suave brisa que tocava meu rosto transformou-se repentinamente em
rajadas de vento, tão fortes, que agitavam as árvores e desfolhavam os galhos
numa animada dança aérea. No céu, as nuvens, cada vez mais densas e escuras,
mudavam de aparência com a luz repentina dos relâmpagos iluminando tudo e
anunciando o som ensurdecedor dos trovões que, às vezes, tanto apavora.
Continuei ali, inerte, assistindo àquele
espetáculo da natureza, que ora me fascinava, ora me amedrontava. Não demorou
muito para que minha atenção fosse desviada por um som bem curioso. Olhei para
cima. Nenhuma novidade. Olhei para baixo. A rua já não estava mais só nem
silenciosa. Um vento forte passou bem rente ao chão e propiciou-me um belo
espetáculo. Foi reunindo, uma a uma, as folhas que ladeavam a calçada e varrendo-as
para o meio da rua. Encantei-me e sorri sozinha apreciando o lindo balé das
folhas secas que deslizavam suavemente pelo asfalto. Foram subindo a rua, leves,
impulsionadas pela ventania, em uma bela demonstração de sons e movimentos, até
desaparecerem na esquina.
Deixei-me ficar no mesmo lugar por mais
alguns minutos para testemunhar a chegada da chuva. Não me contive quando os
primeiros pingos começaram a cair. Levantei-me, abri os braços, olhei para o
alto e recebi os vultosos pingos no rosto, refrescando-me de um calor quase
insuportável.
Quase não choveu nessa hora, mas foi o
suficiente para amenizar o calor do ambiente e propiciar um sono mais tranquilo
e repousante. Em minha mente ainda ecoava a música e o bailado das folhas
tocando o duro chão de asfalto. Cantiga de ninar.
Luisa Garbazza
28 de dezembro de 2012