sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Peripécias da natureza


O calendário de 2012 vai se despedindo das paredes. Dezembro foi um mês quente por excelência – suas temperaturas elevadas deixam todo mundo mais cansado que o costume. Um calor insuportável nos assola por todo o dia. As noites, bem pequenas nesta época do ano, são insuficientes para amenizar o calor, que volta a incomodar mal desponta o sol no horizonte.
            Na última quarta-feira, vinte e seis de dezembro, a cena se repetiu. Como a maioria, fico incomodada e sem lugar em dias assim. O sol se deixou encobrir pelo horizonte e deixou atrás de si as consequências de um dia inteiro de calor causticante. A noite seguiu seu destino: ar quente, parado, sufocante.
            Depois das dez da noite, irrequieta dentro de casa, saí para a varanda na esperança de me refrescar. Ainda na porta da sala, visualizei o encanto da lua, que brilhava no céu, rodeada por algumas nuvens escuras e solitárias. Sentei-me no degrau do portão. Fiquei ali, absorta em meus pensamentos. A rua silenciosa e vazia refletia em minha alma sua solidão.
Permaneci assim, perdida em mim mesma, até perceber mudanças no céu. A luz da lua fora substituída por grossas nuvens que se espalhavam rapidamente, deixando na noite um rastro sombrio e pesado. O sopro da suave brisa que tocava meu rosto transformou-se repentinamente em rajadas de vento, tão fortes, que agitavam as árvores e desfolhavam os galhos numa animada dança aérea. No céu, as nuvens, cada vez mais densas e escuras, mudavam de aparência com a luz repentina dos relâmpagos iluminando tudo e anunciando o som ensurdecedor dos trovões que, às vezes, tanto apavora.
Continuei ali, inerte, assistindo àquele espetáculo da natureza, que ora me fascinava, ora me amedrontava. Não demorou muito para que minha atenção fosse desviada por um som bem curioso. Olhei para cima. Nenhuma novidade. Olhei para baixo. A rua já não estava mais só nem silenciosa. Um vento forte passou bem rente ao chão e propiciou-me um belo espetáculo. Foi reunindo, uma a uma, as folhas que ladeavam a calçada e varrendo-as para o meio da rua. Encantei-me e sorri sozinha apreciando o lindo balé das folhas secas que deslizavam suavemente pelo asfalto. Foram subindo a rua, leves, impulsionadas pela ventania, em uma bela demonstração de sons e movimentos, até desaparecerem na esquina.
Deixei-me ficar no mesmo lugar por mais alguns minutos para testemunhar a chegada da chuva. Não me contive quando os primeiros pingos começaram a cair. Levantei-me, abri os braços, olhei para o alto e recebi os vultosos pingos no rosto, refrescando-me de um calor quase insuportável.
Quase não choveu nessa hora, mas foi o suficiente para amenizar o calor do ambiente e propiciar um sono mais tranquilo e repousante. Em minha mente ainda ecoava a música e o bailado das folhas tocando o duro chão de asfalto. Cantiga de ninar.
Luisa Garbazza

28 de dezembro de 2012

sábado, 22 de dezembro de 2012

Missa em ação de graças pelos 60 anos de ordenação sacerdotal do padre Robson Teixeira Campos, sdn


            A prece é a mais sublime forma de ação de graças. É por isso que, hoje, nos reunimos em preces para agradecer a Deus a caminhada sacerdotal do nosso querido Padre Robson, que hoje celebra suas Bodas de Diamante.
        Padre Robson foi para o seminário com apenas doze anos e, à medida que foi estudando e amadurecendo, foi desenvolvendo sua vocação para ser missionário de Cristo.
Escolheu para si o lema – Amor e Sacrifício – e foi ordenado padre em 1952, no dia 8 de dezembro, em Belo Horizonte.
Depois da ordenação, Padre Robson trabalhou em Dores do Indaiá, Bom Despacho, Belo Horizonte, Manhumirim, Alto Jequitibá e Espera Feliz, levando a todos seu sorriso, seu carisma e seu bom humor. Em 1995 retornou a Bom Despacho onde, até hoje, nos encanta com seu jeito simples de viver.
Aqui, nesta Igreja, no dia catorze de dezembro de 1952, ele celebrou sua primeira missa. E é aqui também que ele vem louvar a Deus por seu longo ministério.
São sessenta anos de dedicação exclusiva e trabalho missionário. Merece nossa admiração, nosso respeito e, principalmente, nosso carinho. É a ele que dirigimos nossas homenagens neste dia.
Parabéns, Padre Robson!
Nós o abraçamos com carinho e louvamos a Deus por sua vida e por sua presença entre nós.
Que Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento continue sendo sua companhia e presenteando-o com sua bênção de mãe.
Luisa Garbazza

Mensagem lida durante a Missa de ação de graças celebrada na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Bom Despacho, dia 22 de dezembro de 2012, às 10 horas da manhã, com a presença de Dom José Martins e vários padres sacramentinos e diocesanos (Diocese de Luz).

domingo, 16 de dezembro de 2012

Mensagem ao Padre Paulo César



Padre Paulo César, nós nos sentimos abençoados por sua presença e queremos agradecer a Deus a oportunidade de participarmos com o senhor desse momento de graças e bênçãos.
A Deus também agradecemos por sua coragem de dizer sim ao Seu chamado e se entregar de corpo e alma a essa missão de lançar as redes em águas cada vez mais profundas.
O senhor foi tirado do nosso meio, onde, desde menino se ocupava das coisas de Deus – em especial nas procissões – e enviado por Deus para outros mares.
Recebê-lo nesta Igreja onde sempre esteve presente, agora como padre, é motivo de orgulho, de alegria e de louvor a Deus.
Nosso desejo é que o senhor experimente a satisfação de estar no caminho certo, cumprindo fielmente a missão recebida, viva o seu sacerdócio com o mesmo entusiasmo desses primeiros dias e persevere como sacerdote de Jesus Cristo.
Que o próprio Cristo, a quem é convidado a imitar, recompense amplamente sua vida de inteira doação ao Reino de Deus.
Que Maria – Nossa Senhora do Bom Despacho, do Rosário, da Luz... – mãe da Igreja, plena do Espírito Santo lhe impulsione cada vez mais a assumir sua vida sacerdotal e cuidar do povo de Deus com zelo, doação, entrega e essa alegria que lhe é tão peculiar.
Receba, com carinho, o nosso abraço. Obrigada.

Luisa Garbazza 

* Mensagem lida na primeira Missa presidida pelo Padre Paulo César, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Despacho, dia 16 de dezembro de 2012.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Lembranças


Quando somos jovens, a ânsia é pela vida plena, pelos acontecimentos rápidos e variados que preenchem todos os espaços de cada momento vivido. Queremos correr contra o tempo. Vinte e quatro horas é pouco para realizarmos tudo quanto planejamos. Até o sono, algumas vezes, fica em segundo plano. Temos urgência em viver sempre mais intensamente e construir o amanhã, realizando projetos, concretizando sonhos. Mas, à medida que vamos nos amadurecendo e olhando a existência de uma forma mais serena, o futuro já não tem a mesma prioridade e abrimos espaço para as lembranças. Elas vêm e vão trazendo à tona imagens dos tempos idos, porém nunca esquecidos.
Como é terno trazer à memória os primeiros momentos que guardamos na consciência! Ainda pequenos, a figura dos pais era sinônimo de proteção, carinho, confiança. Deles vêm os exemplos que nos acompanham pela vida toda. Vêm, também, as brincadeiras, que divertiam e muito nos ensinavam. Seguem as primeiras “aventuras” – que hoje já não têm as proporções de antes – marcando o início de nossa independência; as primeiras letras abrindo o caminho do saber; as mãos que se juntavam em preces “ao papai e à mamãe do céu”. Tudo muito simples e verdadeiro.
Depois vêm as recordações da vida em família onde tudo era em comum. A companhia dos irmãos nos momentos bons ou ruins; a presença dos pais que nos ensinavam a arte de amar, de repartir, de respeitar uns aos outros; a catequese, reforçando a onipotência de Deus, nos preparando para o sacramento da Penitência e para receber Jesus na Eucaristia pela primeira vez. Cada conquista era motivo de orgulho, tanto para nossos pais quanto para nós mesmos.
Um tempo forte de lembranças é a adolescência/juventude. Ah! Essa fase! Cheia de encantos, certezas, ilusões. Vivemos em paradoxos: ora uma tristeza profunda nos faz sentir solitários sem razão alguma; ora uma alegria desmedida, gratuita nos impulsiona a rir e celebrar a existência. Ali nos preparamos para a vida: questionamos muito; tentamos consertar o mundo; tivemos um encontro mais sólido com Deus (Crisma); firmamos amizades; formamos nossos próprios conceitos.
O tempo passa e remontamos à fase jovem/adulta. Os estudos, que agora precisam ser levados mais a sério; a corrida para conseguir aprovação no vestibular; a procura por um emprego digno que preencha nossos anseios. Paralelamente, outras lacunas vão sendo preenchidas. Uns se consagram a Deus, outros permanecem sós. A maioria procura um amor “que seja bom pra mim” e constituem nova família gerando filhos que, de uma forma ou de outra, vão trilhar os mesmos caminhos continuando assim o ciclo da vida.
Nessas ocasiões de volta ao passado, muitas coisas ficam guardadas para sempre nas gavetas do inconsciente. Outras voltam, de vez em quando, provocando sorrisos ou apertos no coração. São todas bem-vindas, pois fazem parte da construção da nossa história. As alegrias são combustíveis em nossa caminhada para a tão sonhada realização pessoal. As quedas nos ensinam que somos seres humanos imperfeitos e a felicidade almejada é uma busca constante.
De volta ao presente, vamos intercalando os momentos vividos em tempo real com os devaneios das curvas do passado. O último mês do ano se adianta. Estamos vivendo mais uma vez o tempo do advento – preparação para a vinda do Messias. Então, quando cessarem as confraternizações natalinas e terminar o dia de Natal, aproveitemos o 26 de dezembro – Dia da Lembrança – para reviver a alegria dos encontros, o carinho dos abraços, os presentes trocados, os momentos de oração e, acima de tudo, o nascimento de Jesus, que permanece dia a dia em nosso meio.
Luisa Garbazza
Dezembro de 2012

Publicado originalmente no jornal "Paróquia" 
 Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho - mês de dezembro.