domingo, 6 de outubro de 2019

Viver em primavera



O tempo seco, que nos acompanhou e nos castigou por longos meses, chegou ao fim. Uma chuvinha fria, tímida, bem fininha, marcou o início de um novo tempo. Esqueçamos o frio intenso dos meados de inverno, o vento e o sol forte de agosto, a terra ressequida, a secura do ar. Agora é hora de respirar mais aliviado, sentir a brisa leve nos abraçar, acompanhar a saída dos brotos: é primavera.
Vejo a primavera como a estação da esperança. As plantas se despem no outono, descansam no inverno e renascem na primavera, cheias de viço, vigor renovado, prontas para embelezar a terra. Trazem de volta muito verde e outras cores que, em uma divina aquarela, compõem tão belo cenário.
A primavera é tida como a estação das flores. É nesse período que as plantas florescem com mais força, mais intensidade. Em qualquer cantinho onde há terra, pode brotar uma florzinha, tamanha a generosidade da natureza. Porém, nas outras estações, apesar do vento, do sol intenso ou da secura da terra, podemos ter flores em nossas casas. Basta que, para isso, dispensemos cuidados às plantas: afofar a terra, colocar fertilizante, regar são ações que as fortalecem e ajudam-nas a florescer. Desse modo podemos usufruir da beleza das flores durante o ano todo.
Assim também em nossa vida. Mesmo cultivando a alegria de viver, passamos por períodos de rigorosos invernos, de tempestades, de ventos agoniantes, ou ainda, tempos de secura interior. Se nos deixarmos abater, a vida será muito triste, e os obstáculos, cada vez mais difíceis de se transpor. Por isso precisamos cuidar de nós mesmos. Precisamos estar preparados para as intempéries. Rezar, cultivar a alegria, o amor, a fé em Deus. Entregar a direção de nossos passos ao grande Mestre Jesus. Dessa forma não precisaremos esperar a primavera da vida para nos alegrar com as flores. Podemos, sim, apesar dos reveses, inevitáveis em nossa caminhada, encontrar motivos para nos encher de alegria e dar graças ao Criador pelo dom da vida, nossa e dos que conosco convivem.
Da mesma forma, nossa caminhada de fé, acompanhando as celebrações da Santa Igreja. As festividades litúrgicas são divididas em ciclos, que se repetem ano após ano. É uma maneira bem didática de se distribuir as festas religiosas, relembrando a longa caminhada do povo de Deus.  Começamos o ano litúrgico com o Tempo do Advento, preparando-nos para celebrar o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois do Tempo do Natal, respiramos, em alguns dias de Tempo Comum, preparando-nos para vivermos o Tempo da Quaresma. Celebramos a Paixão e Morte de Cristo e vivemos a alegria da sua ressurreição no Tempo Pascal. Depois passamos um longo período sem festas nem celebrações especiais: o Tempo Comum.
Precisamos, pois, aproveitar o tempo das festas litúrgicas para nos prepararmos para o Tempo Comum. Precisamos abastecer o espírito para as ocasiões de escassez. Estejamos atentos, cuidemos para não cairmos no desânimo. Nossa vida de fé também precisa de um tempo para recuperar as forças, para amadurecer o que foi aprendido, para celebrar com mais entusiasmo o próximo ciclo.
Sigamos o caminho das flores. Não nos afastemos, portanto. Caminhemos com fé e esperança. Assim como as flores, precisamos cuidar de nossa vida de fé o ano todo – cultivar o amor, colocar o adubo da fé, regar com os dons do Santo Espírito, acrescentar sentimentos de alegria e fraternidade. Assim teremos um ano inteiro de festa, dando glória a Deus pelo dom da vida e pelo privilégio de fazer parte desse maravilhoso jardim onde floresce a vivência dos ensinamentos de Cristo: a Igreja Católica.
Luisa Garbazza
Publicação do jornal "Paróquia N. Sra. do Bom Despacho.
Outubro de 2019