Viver
é um mistério.
A
vida, efêmera como é, encarrega-se de ir descortinando, à nossa volta, os
quadros que farão parte da galeria de nossa existência. Nem sempre eles se
apresentam como perfeitas obras de arte. Às vezes trazem borrões, sombras,
partes ocultas; às vezes, aparecem cenas inacabadas. Muitas vezes, entretanto,
a aquarela da vida nos brinda com cores vivas e belas imagens que nos
proporcionam alegria e paz, nos impulsionam e nos dão força e equilíbrio na
caminhada do dia a dia.
Nesses
trilhos da vida, sejam cheios de luzes e cores ou ofuscados pelas sombras,
nunca estamos sós: são muitos os que acompanham nosso viver. Uns nos acompanham
a vida toda; outros, por um longo tempo. Alguns ficam por pouco tempo; outros,
por algumas horas, instantes talvez. E nós também estamos sempre cruzando os
passos de outras pessoas. A vida vai determinando o tempo e o lugar para cada
encontro: cada chegada, cada partida.
No
entanto não é o tempo de convivência que determina a força da presença de
alguém em nossa vida, e sim as circunstâncias, o modo de agir, os
acontecimentos. Há os que estão por perto a vida toda e nem se aproximam de
fato. Há os que andam de mãos dadas conosco em certos percursos da caminhada. E
há, ainda, aqueles tão especiais que algumas horas são suficientes para se
tornarem inesquecíveis.
Em
uma dessas idas e vindas da vida, ela nos trouxe uma pessoa muito especial.
Alguém que aqui veio há uns seis anos, com jeito desconfiado e ares de “o que
eu estou fazendo aqui”. Alguém que
chegou com certo receio do desconhecido, mas trouxe à sua frente a fé e a marca
da presença de Nosso Senhor Jesus Cristo: Padre Mundinho. Parecia um pouco
distante, mas, passado “o susto”, concentrou-se em sua missão e, com
responsabilidade, determinação e muito trabalho, tornou-se um pároco
prestativo, popular e respeitado.
Durante
esses seis anos, Padre Mundinho foi conduzindo o povo, fortalecendo as
comunidades, fazendo amizades, criando laços. Agora chega a vida – com suas
voltas que nem sempre são fáceis de absorver – traçando um novo quadro: outros
caminhos, outras cores, novas paisagens. Quando contemplamos a nova realidade
imposta pela vida, percebemos a ausência de algumas pessoas e notamos outras
que sequer imaginávamos. Nessa reviravolta, encontramos novamente o Padre
Mundinho. É dele a silhueta que falta nessa nova paisagem. É dele a ausência
sentida. O barco da vida veio e chamou-o para navegar em outras águas. E
permanece ali, ancorado, lembrando que o dia da partida – já marcado e sabido
de todos – se aproxima, seja o tempo favorável ou não.
Ainda
bem que temos esse tempo de espera. Assim podemos ir nos acostumando com a
ideia. Podemos aproveitar os últimos dias para demonstrar afeto, amizade,
carinho. Temos tempo para dizer-lhe o quanto lamentamos sua partida. Dizer-lhe
que sua presença – que começou um pouco apagada, tal e qual a maioria dos
começos – ganhou força, brilhou, tornou-se fundamental entre nós. Temos tempo
para falar da segurança que sentimos em sua companhia, da confiança e do
reconhecimento por tantos projetos realizados em prol da paróquia. Tempo ainda
para dizer do coração apertado, para desejar-lhe uma partida serena e uma
estada feliz. Que o barco da vida possa levá-lo para águas serenas e férteis na
fé e no acolhimento. Que sua presença possa transmitir luz e cor naquela
paisagem.
Padre
Mundinho, obrigada pela confiança e pelo privilégio de trabalhar com o senhor
durante todo o seu ministério aqui, na Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho.
Foi um tempo de muito trabalho, mas de muita alegria. Que Deus o abençoe em sua
nova missão. Quem sabe um dia a vida nos pinte uma bela aquarela e, entre as
paisagens sugeridas para os próximos anos, possamos enxergá-lo novamente nessas
paragens!?!
Luisa Garbazza
Publicação do jornal "Paróquia N. S. do Bom Despacho"
Dezembro de 2016
Homenagem ao pároco Pe. Mundinho.