sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Obras da criação

 


Já num tempo bem distante,

no início da criação,

o Senhor, Deus do Universo,

deu vazão ao coração

e viu que tudo era bom

nas obras de sua mão.

 

Tudo feito em perfeição,

na mais singela harmonia,

ares, terra, céu e mar

convivendo em sintonia,

e, pra completar a obra,

o homem com a família.

 

À disposição do homem

tudo ali foi colocado,

e o convite então foi feito,

viver despreocupado,

mas tocar na macieira

era o único pecado.

 

Que tudo ali era bom

o homem viu realmente,

porém aquela alegria

mudou assim, de repente,

quando quis acreditar

na maldade da serpente.

 

Para o mundo foi jogado,

obrigado a trabalhar.

Buscava abrigo, alimento

pra família sustentar.

Sem paz vivia o tormento

sem ninguém pra lhe ajudar.

 

E a maldade da serpente

trouxe dor, desilusão.

O homem e semelhante

buscava dominação.

Começou, em toda a terra,

guerrilhas, destruição.

 

A vastidão desse mundo,

que Deus lhe deu de presente,

tornou-se tão dividida,

nas mãos de poucos somente,

e a reserva que é comum,

a disputa veemente.

 

Com a Era Industrial,

muito aqui foi destruído,

para assim realizar

novo mundo, evoluído.

Com a potência das máquinas

tornou-se o ar poluído.

 

Com cruel devastação,

sofre muito a natureza;

corta aqui, arranca ali,

age o homem com certeza,

e o meio, já devastado,

perde muito da beleza.

 

Vem o homem assolando,

mesmo na ilegalidade.

Destrói matas e florestas

faz da calma tempestade

pelo pouco que ainda resta

do ambiente “de verdade”.

 

Na busca por minerais,

matéria tão valiosa,

o homem revolve o solo,

de maneira imperiosa,

sem medir as consequências

da prática desastrosa.

 

Essa prática danosa,

de cuidado desprovida,

danifica o ambiente,

é risco pra qualquer vida,

porque deixa a terra infértil,

torna a água poluída.

 

Quando o ar se torna seco,

e seco se torna o chão,

veem-se tantas queimadas,

por crime ou por distração,

deixam rastros bem profundos

e entristece o coração.

 

Quando o fogo atinge a mata,

e tudo é devastado,

os animais indefesos

ficam todos acuados,

sem esperança ou auxílio

perecem extenuados.

 

Outros animais são mortos

vilmente, sem piedade,

tiram pele, roubam couro,

e outra preciosidade,

para assim alimentar

do homem a vaidade.

 

Alguns animais são vítimas

de homem sem coração,

que os recolhem, negociam,

praticando uma infração,

tristemente provocando

essa praga da extinção.

 

A humanidade cultiva,

na vida em sociedade,

tal ambição e poder,

que suscita ansiedade,

hoje tudo é descartável

e o novo, prioridade.

 

Nessa corrida maluca,

sempre por renovação,

o lixo granjeia espaço,

quase sem destinação,

e, quando mal descartado,

causa contaminação.

 

Olhando por toda parte,

aparece a hipocrisia

do homem destruidor,

que atua com teimosia,

e o mundo perde o vigor:

vem drama, vai poesia.

 

Vendo tal devastação,

algum homem hoje chora,

pois já quase nada é bom

contempla tudo e apavora,

“Pureza da criação!”

de agonia pede, implora.

 

Pensemos, pois, na tarefa

de real necessidade,

cuidar da mãe natureza,

com prazer, com hombridade,

para se ter a certeza

de feliz posteridade.

 

É urgente concebermos

valor da preservação

de tudo que nos foi dado

pelo Pai da criação.

A saúde do planeta:

é essa nossa missão.

 

Quero água cristalina,

que jorra pura, de graça,

para toda criatura

que o justo cuidado abraça,

e mata a sede do mundo

se não sofrer ameaça.

 

Para preservar a vida,

o verde tem importância,

traz mais saúde e alegria,

quanto maior a abundância.

Sejamos, pois, consciente:

o verde em primeira instância.

 

Da natureza sadia

temos total dependência.

Assim, pra preservação,

é preciso consciência,

pois quem conhece ama e cuida,

não age com negligência.

 

A harmonia com o meio

é nossa forte esperança,

vida simples, sem ganância,

na pureza da criança,

que ama, e sonha, e confia,

vive em plena temperança.

 

Nossa maior recompensa,

com total integração,

perceber que o ambiente

merece contemplação:

ver que tudo ainda é bom

nas obras da criação.

Luisa Garbazza

2022