sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A santidade de cada dia

O ano de 2017 vai chegando ao fim. Já estamos no mês de novembro. Em breve, estaremos celebrando o Natal. Olho para trás e vejo quanta coisa vivenciamos durante o ano. Coisas boas, mas também fatos desagradáveis, cruéis, que nos levam a momentos de deserto na alma. Mas, neste início de mês, aproveitando a celebração do Dia de Todos os Santos, pela Igreja Católica, quero lembrar as coisas que nos enalteceram e fortificaram nossa fé. Ver a devoção do nosso povo pelos santos e santas é uma delas.
Em meados do mês de maio, tivemos a oportunidade de perceber as manifestações de fé dos nossos irmãos, por ocasião da visita da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida em nossa paróquia. A imagem foi levada às igrejas, instituições e também ao Hospital da Santa Casa. Por onde passou, sensibilizou as pessoas e deixou rastros de santidade. Era perceptível, no olhar de cada um, a crença em Maria, a mãe do Filho de Deus.
Em outubro, por ocasião da festa do tricentenário da aparição da pequena imagem, nas águas do Rio Paraíba do Sul, as manifestações de louvor a Nossa Senhora Aparecida ganharam mais força. Aqui em nossa paróquia, na Comunidade Nossa Senhora Aparecida, esses trezentos anos foram celebrados com novena, barraquinhas, mas, acima de tudo, com gestos de amor, de união, de solidariedade. Durante a novena, o povo participava, rezava, cantava e, no final, se emocionava ao se aproximar de Nossa Senhora, ofertar-lhe uma flor e, aos seus pés, depositar o alimento para aliviar a aflição do irmão necessitado. 
No dia da festa, com a igreja absurdamente cheia, Padre Márcio conduziu a celebração, de forma piedosa e acolhedora, e a procissão com a imagem pelas ruas da comunidade. A emoção tomou conta dos fiéis. Após a procissão, todos se aproximaram da imagem para sentir a presença da Mãe do Céu. Alguns em silêncio, outros rezando. Uns se aproximaram de joelhos no chão, suportando a aspereza do piso. Muitos, com a sensibilidade à flor da pele, não se acanharam em deixar verter lágrimas pelas faces contemplativas, afinal, representada pela pequena imagem, ali estava aquela que adotamos como mãe: Maria, a cheia de graça, a Nossa Senhora brasileira, nossa intercessora, rainha e padroeira do Brasil.
Presenciei cada momento dessa festa do coração. Observei os olhares, os toques, as pessoas que se aproximavam da imagem e a fitavam em silêncio, como se abrissem o coração de filho e esperassem o carinho da mãe. Através desses gestos, senti aflorar em mim, de forma mais intensa, o amor e a crença nessa Mãe, tão próxima, tão protetora. Por outro lado, lembro-me das palavras do nosso querido Padre Jayme, um exímio conhecedor da história dos santos e santas. Sempre que fala sobre algum santo, Padre Jayme nos ensina que, mais que a devoção, precisamos conhecer a história do santo e procurar viver segundo seu exemplo. Ninguém é santo por acaso. Há uma caminhada de fé, de solidariedade, de desapego das coisas mundanas, de solidariedade, e também de sofrimento, por trás da história de cada santo que mereceu a glória dos altares. De Maria, sabemos sua suavidade, sua ternura, mas também sua entrega total nas mãos de Deus e a força com que ela suportou cada sofrimento, cada espada que transpassou sua alma.
Neste mês de novembro, estaremos recebendo a visita da imagem peregrina de São Rafael, padroeiro da Diocese de Luz. Saibamos aproveitar esses dias para conhecer a história desse santo e de que maneira poderemos, também nós, buscar a nossa própria conversão, pois a santidade acontece é um pouco a cada dia, nas demonstrações de fé, de compaixão, de amor a Deus e ao próximo.

Luisa Garbazza
Publicação do Jornal Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho
Novembro de 2017

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Momentos mágicos

Nas horas incertas da vida, o caminho vai se formando. Às vezes os passos são certos, outras vezes hesitantes, mas sempre em frente, em busca dos ideais. Nessas idas e vindas, nem tudo é perfeito. Há momentos de alegria, de luz e de paz e há momentos de tristeza, de turbulências, de céu nublado. Em todos, porém, há a fé que impulsiona e a confiança de que tudo vai dar certo.
Foi mais ou menos assim que me senti ao sair de casa com um destino traçado: Colégio Universo. A convite da professora Sheyla, recebi um telefonema da Alessandra, para participar de um projeto, com os alunos do 6º ano, como escritora de nossa cidade. Fiquei muito feliz com o convite! Em um misto de curiosidade, alegria e ansiedade, parti para a escola. Eram dezesseis horas e vinte minutos quando ali cheguei. Fui muito bem recebida pela Ângela, que eu já conhecia. Ali encontrei rostos sorridentes, pessoas amigas e, para minha surpresa, Lucimar, que, em outros tempos, foi minha aluna na primeira série.
Ao longe, fiquei observando as professoras organizarem os alunos que, aos poucos, foram chegando. Quando a Alessandra me fez um sinal de que estava tudo pronto e anunciou meu nome, aproximei-me, um tanto apreensiva, e fui conhecer minha plateia. Havia alunos de várias idades, do primeiro ao sexto ano. Comecei a conversa, fiz perguntas para interagir, falei dos meus propósitos, percebi as diferenças: uns estavam ansiosos, outros queriam “passar o carro na frente dos bois”, como diziam os mais antigos, e ouvir logo a história, ainda os que olhavam impassíveis, e alguns nem conseguiram se concentrar.
Depois do primeiro momento, fui contar a história de Maria, “A menina que queria ser vento”. E o aconteceu? Voltei no tempo. Tempo áureo, em que dava aulas para as crianças pequenas e lhes contava histórias; tempo em que as histórias eram contadas para os meus dois filhos. Tempo em que as histórias ganhavam vida em minha mente e alcançava a mente de outras pessoas. E aconteceu tudo outra vez. À medida que as páginas iam sendo mostradas e as palavras sendo ditas, o retorno por parte dos pequeninos: “Que desenho lindo!”, “Perfeito!” E viviam comigo os devaneios de Maria. Os olhos sorriam. Entusiasmados, queriam participar da história. Ouviam, falavam, faziam suposições. Até que o desfecho trouxe-nos de volta ao mundo real.
Então os alunos quiseram saber sobre a escritora: se quer continuar escrevendo, quantos livros já editou, onde encontra inspiração e outras informações do gênero. Falei um pouco sobre a edição do livro e agradeci. O bando de pequeninos veio se aproximando. Queriam me abraçar. Queriam receber minha atenção. Cada um tinha algo para falar: “Gostei muito da sua história!”, “Seus desenhos são lindos!”, “Gostei muito de você!”, “Quantos anos você tem?”, “Eu quero seu livro”, “Você é a melhor!”. E outros comentários que só mesmo uma criança os fazem com tamanha sinceridade. Eu retribuía com abraços e beijos de gratidão. Prometi levar os livros em outra ocasião e as professoras foram reconduzindo-os para as salas. A turma do sexto ano e a professora Sheyla ficaram para tirar fotos e registrar esse momento que irá enriquecer o projeto em andamento.

Saí dali tão agradecida! Foram momentos mágicos que me enriqueceram como pessoa e como escritora: a receptividade, o carinho das crianças, a organização da escola, a oportunidade de falar de coisas leves, de natureza, de sentimento puro e verdadeiro. O caminho de volta foi mais fácil; os passos, mais seguros. A alma mais leve e o sorriso nos lábios traduziam a paz do coração.
Luisa Garbazza
6 de novembro de 2017