sábado, 22 de setembro de 2018

Discurso de Posse na ABDL


Ilustríssimo Weverton Duarte Araújo, na pessoa do qual cumprimento os demais componentes da mesa e os acadêmicos presentes.
Prezada assembleia.
Meus queridos familiares e amigos.
Boa noite! ...
Para falar de mim, preciso me lembrar da menina sonhadora que fui. Na pobreza em que vivia, em casa não tínhamos livros, apenas as cartilhas da escola. Não me esqueço do primeiro livro ilustrado que tive nas mãos. Era um livro enorme, sobre a história do Brasil. A professora emprestou-me para levar para casa. Encantada, passei o tempo todo lendo, mas, como era muito grande, não consegui terminá-lo. Já na escola, pedi à professora para ficar na sala durante o recreio para ler mais algumas páginas. Entreguei-o com grande pesar.
Então fui apresentada à Biblioteca Municipal. Embrenhei-me nesse mundo fantástico da Literatura de onde jamais saí. Ganhei muitos pares de asas nas linhas e versos que lia.
Em todos esses anos, li uma infinidade de livros, e textos, e poemas... e escrevi muito. Pena que, como me sentia tão longe desse universo e achava que escritor era alguém muito distante e diferente, não guardei quase nada do que escrevi. E porque tudo acontece no tempo de Deus, só depois de tanto tempo me veio a dádiva de sistematizar meus escritos e receber o predicativo de escritora. O tempo, por ser de Deus, é sempre certo. Esse é o meu tempo. Só lamento não ter tido a oportunidade de dividi-lo com minha maior incentivadora: minha mãe, dona Maria da Conceição Garbazza, a quem, depois de Deus, devo tudo que construí na vida. Quando estava editando meu primeiro livro, ela partiu serenamente para o céu. O lançamento foi regado a muitas lágrimas.
E aqui estou eu, com quatro livros de minha autoria e outros quatro de coautoria. Apesar da idade, ainda sou aquela menina sonhadora e ainda me restam algumas asas.
Quando lancei meu segundo livro, fui convidada a ingressar nesta academia. Resolvi não aceitar, por causa de minha irmã, a escritora e acadêmica Neiva Maria Garbaza, que atravessava mais uma fase difícil, das tantas que enfrentou. Agora, novamente convidada, aceitei, também por causa da Neiva, para não deixar que seu nome seja esquecido, pois, falo com convicção, ela foi uma das melhores escritoras que Bom Despacho já teve. Basta admirar sua obra e seus textos publicados.
Neiva é minha irmã caçula. Quando ela nasceu, eu acabara de completar sete anos. Eu a ensinei a ler e escrever e ela tinha muito orgulho disso, tanto que fazia questão de repetir isso de vez em quando e deixou registrado em algumas crônicas que escreveu. Vivemos muita coisa juntas. Com sua inteligência notável, Neiva tornou-se escritora muito antes de mim, mas, com confiança, sempre me apresentava seus textos para revisar antes de publicá-los.
Por questões financeiras, Neiva dedicou grande parte de sua vida fazendo trabalhos acadêmicos, monografias e até tese de mestrado para outrem. Confirmando sua sapiência, teve trabalhos premiados e textos publicados, inclusive em Cuba, infelizmente em nome de terceiros. E assim não teve tempo de se dedicar mais à carreira de escritora. Deixou-nos apenas uma obra, “Sonho de Liberdade”, mas uma obra densa, bem escrita, digna de estudo, onde a escritora desnuda a alma e nos faz pensar em fantasias, alegrias e dores, e nas antíteses que imperam na vida de todo ser humano.
A essa pessoa inteligentíssima, que sonhou tão alto, tão colorido, e as asperezas da vida podou suas asas impedindo-a de voar; a essa ESCRITORA com todas as letras maiúsculas, Neiva Maria Garbaza, dedico a cadeira 29 da Academia Bom-Despachense de Letras.
Sinto-me agradecida pela oportunidade de aqui estar e quero demonstrar minha gratidão a todos os presentes, às autoridades, aos acadêmicos, aos colegas que também estão vivendo este momento e, de modo especial, aos meus filhos, Matheus e Rafael sempre presentes, ao meu esposo Flávio e aos meus amigos e familiares que merecem todo meu amor e carinho.
Como disse uma vez Neiva Garbazza: “Sorria... E... SONHE... SONHE COM A LIBERDADE. A vida começa aqui.”
Luisa Garbazza
9 de setembro de 2018
Discurso de posse na Academia Bom-Despachense de Letras, em 21 de setembro de 2018





sábado, 8 de setembro de 2018

Doar a própria vida


Em nossa passagem por este mundo, há muito para se viver. Cada ser humano vive a seu jeito, afinal o Criador nos dotou de livre arbítrio, quer dizer, somos livres para fazer nossas escolhas. Uns vivem com euforia o tempo todo; outros, com calma e delicadeza.  Uns querem experimentar de tudo; outros, comedidos, vivem resumidamente. Uns gastam a vida em festas e mil maneiras de aumentar a autoestima; outros doam a própria vida em favor dos irmãos em Cristo. Estes abandonam-se nas mãos de Deus e vão se santificando.
Foi assim que aconteceu com o Papa João Paulo II, o papa de tantas gerações, que não se deixou esmorecer com os reveses da vida e continuou sua missão até o último de seus dias. Nem a tentativa de assassinato que sofreu, nem a doença, nem o cansaço da idade o fizeram parar. Mesmo com o corpo deformado, o tremor nas mãos e a voz comprometida, continuou a evangelizar e a enviar sua mensagem de esperança para os cristãos de todo o mundo. Seu jeito humano e sua disponibilidade para ir ao encontro dos filhos e filhas de Deus, até nos lugares mais longínquos, foi um marco na história da Igreja Católica.
Foi assim com minha santa mãe, Dona Maria Garbazza, uma mulher cheia de Deus, que também deixou sua marca na vida de tanta gente. Dona Maria nasceu predestinada a viver uma vida de provações e a se doar inteiramente. Primeiro para a família do próprio pai, pois vivera com madrasta e ajudou a cuidar dos irmãos. Depois para o marido e os dez filhos. Desde pequena, doou-se também para Deus. Participava das coisas da Igreja e da espiritualidade de todos os que solicitavam sua presença para a reza do terço, ou pedindo suas orações em favor de alguém. Também como enfermeira, conselheira, parteira, em um indo e vindo sem fim. Com os filhos criados, passou a ajudar na comunidade, na paróquia e nas Oficinas de Oração e Vida. Enquanto deu conta de se locomover, saiu ao encontro do irmão necessitado, levando sua ajuda, sua oração, sua companhia. Tal qual o Papa João Paulo II, também teve o corpo deformado pela doença, mas não se entregou. Apesar das dores terríveis que sentia, carregou a cruz até o fim e evangelizou muita gente.
E foi assim com tantos outros...
Atualmente, vejo o Padre Jayme subindo as escadas do presbitério para celebrar: devagar, passo a passo, amparado por braços solícitos dos dois lados. Apesar das limitações, continua firme seu ministério. Olho para ele e deixo-me levar pelas lembranças... Como me esquecer daquela menina tímida e assustada que se aproximou do padre para se confessar pela primeira vez?  Lá estava o Padre Jayme para me ouvir, aconselhar e perdoar meus pecados. Foi ele também que me apresentou Jesus pela primeira vez no dia da minha primeira comunhão. Na minha juventude, tive o privilégio de conviver com ele no “Movimento Roda Viva”. Muito aprendi com suas palestras, seus conselhos, seus ensinamentos, suas chamadas de atenção. E quando me aproximei do altar, juntamente com o Flávio, para o Sacramento do Matrimônio, foi de suas mãos que recebi as bênçãos de Deus. Igualmente quando completamos 25 anos de casados.
Hoje já está quase sem forças, mas sustenta a fé e o ministério que assumiu há tanto tempo. Quando o vejo subindo ao altar, é com ternura e gratidão que o faço: gratidão por ter representado Cristo em tantos momentos de minha história. Também sentimento de respeito e admiração pela perseverança em celebrar o mistério de Cristo na Santa Missa. A voz, já cansada, ganha força para proclamar a palavra de Deus.
Por tudo que já viveu e continua vivendo, aplausos para esse homem que doa própria vida para Deus, desde a mais tenra idade: Padre Jayme Lopes Cançado.

Luisa Garbazza
Jornal "Paróquia" - setembro de 2018

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Sopro de vida


O sopro de Deus se fez vida
em setembro, um lindo dia.
Maternidade revivida
na vida de uma certa Maria.


De nascimento: Luisa.
Do casal, a sétima filha,
que se tornou simplesmente “Lisa”,
no seio daquela família.


Tempo que passa e não espera:
menina... mulher... esposa... mãe extremosa.
A maturidade – inevitável – agora impera:
vê-se, às vezes, ternamente lacrimosa.


É setembro uma vez mais.
O sopro de Deus na vida continua.
Da mãe, Maria, não se esquece jamais,
e o amor pelos filhos sempre perdura.


Para este dia que ora se repete,
sabe que a melhor palavra é gratidão
Ao bom Deus pelo dom da vida
e pelo amor que traz no coração.


E para os anos vindouros:
que haja alegria e muita paz.
Os pensamentos, cada vez mais puros
e de amar seja sempre capaz.
Luisa Garbazza
4 de setembro de 2018