quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Coração agradecido


“Não tenho palavras...” Nunca gostei dessa expressão. Pensava cá comigo: Se não tem palavras, então fique calado. Mas o que dizer desse momento que estamos vivendo na paróquia por ocasião da ordenação do Matheus? Realmente, faltam-me palavras. Não literalmente. Tenho muitas delas! Posso escrever páginas e páginas sobre o assunto. Faltam-me palavras suficientes para traduzir o que vejo e o que sinto. Faltam-me palavras para expressar tamanha gratidão por tudo o que está sendo feito.
Recordo fevereiro, quando o Matheus chegou, todo feliz, contando as novidades, revelando as datas das ordenações. Diaconal em maio – em Manhuaçu – e presbiteral em dezembro – em Bom Despacho. Então, na próxima reunião do conselho paroquial, foi formada uma equipe para a organização da ordenação. (Envolvidos na preparação do jubileu de ouro do Padre Antônio, o Flávio e eu não participamos dessa equipe.) Juntou-se um bom número de leigos interessados em ajudar na preparação dessa grande festa, que não acontece há cinquenta anos: ordenação de um missionário sacramentino em Bom Despacho. Mês de março foi o ponto de partida para o início dos trabalhos.
Como o tempo não manda aviso, a ordenação diaconal chegou sem percebermos. Pensamos que havia muito tempo para a próxima data, mas, quando nos demos conta, estávamos às portas da ordenação. O que vimos, durante esse tempo de preparação, não se explica. Muita gente envolvida, angariando recursos, pensando, discutindo, ponderando ideias. Aos poucos, as coisas foram entrando nos eixos, tomando formas, concretizando-se. Pelos comentários que ouvimos, e algumas coisas que presenciamos, sabemos que não foi um trabalho fácil. Demandou muito empenho, corre-corre, muita disponibilidade, doação, paciência. Agora, tão próximos da data limite, os últimos ajustes.
O que estamos recebendo, é bem mais do que almejamos. É gratificante ver as pessoas se doando com alegria. Sentimos o carinho de todos quando se aproximam e se colocam à disposição. Uns querem doar algum recurso, outros, o próprio trabalho; uns oferecendo lugar para acolher os visitantes – muitos – que virão para a festa, outros abrindo as portas da própria casa; há ainda os que estão em sintonia através da oração. Algumas pessoas, parentes até, com os quais não temos muito contato, chegam, com alegria nos olhos, e dizem que deram o nome para ajudar no almoço ou em alguma outra atividade no dia festivo. É muita gente envolvida. São muitas as pessoas que abriram o coração para esse acontecimento.
Então, absorvendo tudo isso, o que dizer? Que vocábulos usar para traduzir os sentimentos? Às vezes as palavras tornam-se muito vazias e não conseguem transmitir aos outros o que temos no coração. Melhor resumir tudo em uma palavra: gratidão.
Minha gratidão a você – sacerdote, seminarista, leigo, leiga – que esteve conosco durante esses 10 anos de história. Gratidão a você que se envolveu nesse processo de preparação desse evento. – Quisera eu registrar o nome de todos e todas! – Gratidão pelo trabalho de tantos meses, ou mesmo de agora; gratidão pelas palavras e pelas orações; gratidão por sua ajuda, caro leitor, por menor que tenha sido. Gratidão a tudo e a todos.
 Agora, já na reta final, com a alma em festa, desejando que o tempo passe em câmera lenta, apresento a Deus meu coração agradecido. Obrigada, meu Deus, por tudo que nos concedeste viver nesses dez anos. Obrigada pelas alegrias, pelas tristezas, pelos momentos em família, pelas ausências. Tudo valeu a pena, pois sei que tudo veio de Ti. Peço muita fé e confiança para receber o que está por vir. Amém.
Luisa Garbazza
Dezembro de 2019
Jornal Paróquia N. Sra. do Bom Despacho

domingo, 6 de outubro de 2019

Viver em primavera



O tempo seco, que nos acompanhou e nos castigou por longos meses, chegou ao fim. Uma chuvinha fria, tímida, bem fininha, marcou o início de um novo tempo. Esqueçamos o frio intenso dos meados de inverno, o vento e o sol forte de agosto, a terra ressequida, a secura do ar. Agora é hora de respirar mais aliviado, sentir a brisa leve nos abraçar, acompanhar a saída dos brotos: é primavera.
Vejo a primavera como a estação da esperança. As plantas se despem no outono, descansam no inverno e renascem na primavera, cheias de viço, vigor renovado, prontas para embelezar a terra. Trazem de volta muito verde e outras cores que, em uma divina aquarela, compõem tão belo cenário.
A primavera é tida como a estação das flores. É nesse período que as plantas florescem com mais força, mais intensidade. Em qualquer cantinho onde há terra, pode brotar uma florzinha, tamanha a generosidade da natureza. Porém, nas outras estações, apesar do vento, do sol intenso ou da secura da terra, podemos ter flores em nossas casas. Basta que, para isso, dispensemos cuidados às plantas: afofar a terra, colocar fertilizante, regar são ações que as fortalecem e ajudam-nas a florescer. Desse modo podemos usufruir da beleza das flores durante o ano todo.
Assim também em nossa vida. Mesmo cultivando a alegria de viver, passamos por períodos de rigorosos invernos, de tempestades, de ventos agoniantes, ou ainda, tempos de secura interior. Se nos deixarmos abater, a vida será muito triste, e os obstáculos, cada vez mais difíceis de se transpor. Por isso precisamos cuidar de nós mesmos. Precisamos estar preparados para as intempéries. Rezar, cultivar a alegria, o amor, a fé em Deus. Entregar a direção de nossos passos ao grande Mestre Jesus. Dessa forma não precisaremos esperar a primavera da vida para nos alegrar com as flores. Podemos, sim, apesar dos reveses, inevitáveis em nossa caminhada, encontrar motivos para nos encher de alegria e dar graças ao Criador pelo dom da vida, nossa e dos que conosco convivem.
Da mesma forma, nossa caminhada de fé, acompanhando as celebrações da Santa Igreja. As festividades litúrgicas são divididas em ciclos, que se repetem ano após ano. É uma maneira bem didática de se distribuir as festas religiosas, relembrando a longa caminhada do povo de Deus.  Começamos o ano litúrgico com o Tempo do Advento, preparando-nos para celebrar o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois do Tempo do Natal, respiramos, em alguns dias de Tempo Comum, preparando-nos para vivermos o Tempo da Quaresma. Celebramos a Paixão e Morte de Cristo e vivemos a alegria da sua ressurreição no Tempo Pascal. Depois passamos um longo período sem festas nem celebrações especiais: o Tempo Comum.
Precisamos, pois, aproveitar o tempo das festas litúrgicas para nos prepararmos para o Tempo Comum. Precisamos abastecer o espírito para as ocasiões de escassez. Estejamos atentos, cuidemos para não cairmos no desânimo. Nossa vida de fé também precisa de um tempo para recuperar as forças, para amadurecer o que foi aprendido, para celebrar com mais entusiasmo o próximo ciclo.
Sigamos o caminho das flores. Não nos afastemos, portanto. Caminhemos com fé e esperança. Assim como as flores, precisamos cuidar de nossa vida de fé o ano todo – cultivar o amor, colocar o adubo da fé, regar com os dons do Santo Espírito, acrescentar sentimentos de alegria e fraternidade. Assim teremos um ano inteiro de festa, dando glória a Deus pelo dom da vida e pelo privilégio de fazer parte desse maravilhoso jardim onde floresce a vivência dos ensinamentos de Cristo: a Igreja Católica.
Luisa Garbazza
Publicação do jornal "Paróquia N. Sra. do Bom Despacho.
Outubro de 2019


quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Oração em família



Estamos vivenciando o mês da Bíblia, oportunidade para destacarmos, de maneira mais intensa, o livro da Palavra de Deus, que nos ensina a viver. Ali encontramos tudo de que precisamos para nos direcionar os passos. O Livro Sagrado é um verdadeiro manual de instrução para uma vivência santa, segundo a visão cristã. Em 2019, a Igreja nos propõe, para este tempo forte de leitura bíblica, o estudo da primeira carta de São João, com o tema “Para que n’Ele nossos povos tenham vida” e o lema “Nós amamos porque Deus primeiro nos amou” (1Jo 4,19). São João nos apresenta uma linda carta falando de Deus como a Luz maior e a necessidade de sermos luz com Ele.
Como é bom ouvir a Palavra de Deus! Quando a Palavra ouvida fala ao coração, é emoção na certa. Sentimos a presença de Jesus bem perto de nós. Melhor é absorver essa Palavra e sentir a necessidade de anunciá-la. Melhor ainda é quando a Palavra ouvida e sentida cresce dentro de nós e transborda em vivência daquilo que nos foi ensinado, em gestos de ternura, em palavras de encorajamento.
Muito melhor é quando essa Palavra é ouvida em família, terreno fértil para que as sementes germinem, cresçam e deem muitos e bons frutos. Gosto de observar as famílias na igreja durante as celebrações. Muitos são os pais que levam os filhos para participarem da Santa Missa ou de outros momentos de oração. Vejo famílias inteiras rezando unidas: pais com filhos pequenos, adolescentes, jovens e até adultos; pais que orientam os filhos para respeitarem o lugar sagrado; pais que ajudam os filhos a acompanhar a celebração através do folheto; filhos adolescentes e jovens que se orgulham de acompanhar os pais; filhos que apoiam os pais quando estes já não conseguem mais caminhar sozinhos.
Na Semana da Família, durante os encontros realizados na Igreja Matriz, rezávamos juntos pelas famílias, a nossa e as do mundo inteiro. Em sua maioria, éramos mães em oração. Por isso foi interessante e enternecedor acompanhar uma família em oração: pai, mãe e dois filhos adolescentes. Em todos os encontros, eles se fizeram presentes. Sempre unidos, participando, mostrando, a quem estivesse aberto para perceber, a importância da família unida em oração. Deus permita que continuem a trilhar essa estrada de amor, de união e de fé. Sem perceberem, estão sendo modelos de fé cristã, abrindo caminhos para que outras famílias também o sejam.
Assim, seja no Mês da Bíblia, Semana da Família ou em qualquer outra ocasião, cultivemos o costume da oração em família. Ensinemos os filhos pequenos a parar para ouvir a palavra de Deus, a conhecer Jesus Cristo, a amar nossa mãezinha do céu, a Virgem Maria. Peçamos a Deus para fortalecer os vínculos familiares, às vezes tão tênues, enfraquecidos pelas “regras” impostas por esse mundo globalizado, com tanto destaque para o virtual.

Ó Deus, Pai de misericórdia, nós vos pedimos pelas famílias. Dai-nos a graça de seguir o modelo de vida da Sagrada Família de Nazaré para nos educarmos na fé e na vivência de cada dia. Orientai os pais para que zelem pela educação religiosa dos filhos, rezem com eles e cultivem a oração em família. Orientai os caminhos dos jovens que já saíram do “ninho” para que não se esqueçam das raízes nem se deixem levar pelo paganismo do mundo atual. Ajudai-nos a compreender e a vivenciar as palavras de São Paulo em sua primeira carta: "Deus é luz e nele não há treva alguma".
Luisa Garbazza
luisagarbazza@hotmail.com
Setembro de 2019
Jornal "A Paróquia"





domingo, 11 de agosto de 2019

Eternamente Pai


 

Pai é um ser supremo e querido,
pelo bom Deus escolhido,
para uma nova vida gerar.

Pai é olhar carinhoso,
é lágrima, muitas vezes contida,
ao olhar o filho pequeno,
que através da mulher amada,
o bom Deus trouxe à vida.

Pai é presença certa,
é um carinho, um beijo, um afago,
é ter a mão sempre aberta
para o filho proteger.

Ser pai é andar lado a lado,
saber o momento de um abraço
e, se vir que há algo errado,
saber abrir-lhe os braços
e dizer: Meu filho!

Ser pai é deixar marcado,
na vida do filho amado,
o que lhe pôde ensinar.
É saber que por toda a vida,
até o dia de sua partida,
essa graça o acompanhará.

E depois da despedida,
quando em Deus for repousar,
na lembrança desmedida
da ausência tão sentida
uma voz há de ecoar:
Eu te amo, meu pai.
Luisa Garbazza
10 de agosto de 2019

Deus abençoe os pais e proteja nossas famílias.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Ventos a favor


Vivemos à mercê do tempo, esse senhor poderoso que se impõe, se transforma, se arrasta e nos arrasta junto dele. Hoje está frio, amanhã já esquenta; há dias de calor insuportável, no outro somos surpreendidos pela chuva ou por uma queda brusca de temperatura. No inverno, ainda temos a companhia extra dos ventos, que fazem e desfazem. Para suportar essas mudanças todas da natureza, sem sucumbir, o homem precisa se adaptar.
Assim também é nossa vida. Passamos por longos tempos de calmaria, mas também somos surpreendidos por ventanias, que nos arrastam aqui e ali. Hoje está tudo estabilizado, amanhã vem o vento do desemprego ou da doença e muda o rumo de nossos passos. Hoje estamos bem com todos, amanhã aparece o vento das desavenças, das conversas atravessadas, que vêm derrubando tudo, provocando rupturas na família, na comunidade, no trabalho, nos grupos nos quais relacionamos. Hoje seguimos ajudando na sociedade, na comunidade religiosa, amanhã podemos ser vítimas do vento do desentendimento, que pode nos enfraquecer. Hoje seguimos nosso caminho na certeza de que nada pode abalar a nossa fé, amanhã podemos ser vítimas do vento da incredulidade, que vem colocar à prova nossa crença em Deus Pai.
Nesses momentos de ventania, não há outra saída senão a confiança em Deus e a certeza de que, através de seu filho, Jesus Cristo, conseguiremos nos manter equilibrados, a despeito da força dos ventos. Jesus nos ensinou que basta ter fé. Ele nos deixou o exemplo da barca navegando em alto mar. Enquanto o vento estava favorável, foi fácil para os discípulos. Jesus estava dormindo, tranquilamente, no fundo da barca, e eles estavam confiantes. Bastou, porém, surgir o vento, que soprava cada vez mais forte levantando as ondas do mar, para ficarem apavorados, sem saber o que fazer. "Os discípulos achegaram-se a Jesus e o acordaram, dizendo: “Senhor, salva-nos, nós perecemos!”. E Jesus perguntou: “Por que este medo, gente de pouca fé?” Então, levantando-se, deu ordens aos ventos e ao mar, e fez-se uma grande calmaria." (Mt 8,25-26)
E por falar em tempos de ventania, agosto é o mês mais propício a ela. Junto com os ataques do vento natural, vivenciamos também, no dia a dia, as consequências dos ventos que atacam as famílias: vento do desamor, da falta de perdão, diálogo, ternura, oração, da violência doméstica, dos abusos sexuais e outros fatores que provocam destruição. Por isso mesmo, agosto é, também, o mês reservado para suplicarmos a Deus pelas vocações, inclusive a vocação familiar. É-nos lançada, ano a ano, a proposta da “Semana da família e da vida”. São encontros para oração, reflexão e celebrações em prol das famílias, a nossa e as do mundo inteiro. Em 2019, o tema dessa semana é “Família, tu és a esperança e a alegria”. Com o lema, “O óleo sobre as feridas”, somos levados a refletir sobre qual “óleo” está faltando à nossa família.
Assim, seja qual for a intensidade do vento que sopra em sua vida, caro leitor, e na vida de sua família, unamo-nos em oração. Há famílias que passam por pequenas brisas, mas o contrário também acontece, há aquelas ameaçadas por terríveis vendavais. Façamos a nossa parte. Lutemos pela conservação da calmaria. A oração é uma arma poderosa, pois, através dela, podemos sentir a presença de Deus mais forte em nosso meio.
Peçamos a Deus a graça de tempos favoráveis, de brisas, de sopro de vida. Só Ele pode nos orientar, indicando a direção certa para içarmos a vela da barca da vida e ainda suportarmos os reveses. Com Ele, teremos a certeza de que o vento soprará sempre a nosso favor, mesmo em dias de céu escuro e ventania.
Luisa Garbazza 
luisagarbazza@hotmail.com


Publicação do "Jornal Paróquia N. Sra. do Bom Despacho". 
Agosto de 2019

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Seguindo pegadas


Quem é Jesus? Comentávamos na última reunião da Equipe de Liturgia. Várias respostas foram ditas: Filho de Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Deus mais perto de mim, meu amigo, aquele a quem eu recorro nos momentos de necessidade... Comparando depois com os Atos dos Apóstolos, vimos que Jesus é o “Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”. Vimos ainda que Jesus se fez homem, sofreu, morreu em uma cruz porque se compadeceu do sofrimento da humanidade. No fim de sua peregrinação aqui na terra, de tudo que viveu e ensinou, Jesus nos deixou um único mandamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
Sozinha em casa, voltei a pensar em tudo que meditamos e tirei minhas próprias conclusões: Jesus é aquele que nos deixou pegadas. Cada passo que Ele deu foi preciso, único, necessário para que aprendêssemos a amar. Nas dificuldades, ensinou-nos a fraternidade, a ajuda mútua; nos momentos de fome, ensinou-nos a partilha; nos momentos de dúvidas, ensinou-nos a justiça; no sofrimento, deu-nos o exemplo de abandono nas mãos do Pai; vendo a dor do irmão, mostrou-nos o valor da solidariedade, do abraço, da palavra de conforto; na morte, fez-nos crer na ressurreição. Jesus então é aquele que nos deixou pegadas de paz, de sabedoria, de aceitação da vontade de Deus. E, acima de tudo, pegadas de amor a Deus e ao próximo. Ele nos ensinou, com seu exemplo, que somos responsáveis uns pelos outros.
Ao pensar nessa lição de fraternidade, penso, de maneira mais concreta, na direção que o mundo está tomando nesta era digital. Fico observando as pessoas desta “geração cabeça baixa” que aí está. Saio na rua, pela manhã, no momento em que os alunos estão subindo para a escola, e o que vejo são jovens de cabeça baixa, concentrados apenas na telinha luminosa à frente dos olhos. Nada mais interessa. Nada mais lhes chama a atenção. Passam pelas pessoas como se invisíveis elas fossem. Não aproveitam a beleza do sol que acaba de despontar aqui na rua, nem nas flores, nem nas maritacas, nem nos irmãos em Cristo que passam ao seu lado, nem nos colegas que caminham na mesma direção. Estão deixando a vida passar sem vivê-la, presos ao mundo virtual.
Esse olhar que radiografa a rua volta-se para dentro de mim mesma e traz de volta as pegadas do Mestre. Temos urgência em segui-las. Urgência em reconhecer no outro a figura de Jesus. Ele quis nascer nosso irmão para que cultivássemos esse amor fraterno entre nós. E o que é a fraternidade senão seguir suas pegadas? Seguindo-as, viveremos de maneira bem mais leve. Fraternidade é cuidar, ajudar, tratar o outro com educação, colocar-se à disposição; é lutar para dirimir a violência, o desamor, a indiferença. Na comunidade de fé, ajudando nas pastorais, temos oportunidade de sair um pouco de nós mesmos, ajudar o outro, praticar o mandamento do amor fraterno. E todos são bem-vindos para trabalhar na vinha do Senhor. Só é preciso dar o primeiro passo.
Nesse intuito do amor fraternidade, vinde, Senhor, em nosso auxílio. Dai-nos olhos para perceber a vossa luz. Ajudai-nos a perceber a vossa presença na pessoa de cada irmão, cada irmã. Dai-nos a graça de levantar a cabeça, sairmos do nosso comodismo em favor do irmão. E, em tudo que vivermos, concedei-nos a graça de seguir as suas pegadas, pegadas de amor e de paz.
Luisa Garbazza
Publicação do jornal "Paróquia N. Sra do Bom Despacho".
Julho de 2019

terça-feira, 11 de junho de 2019

Sobre o amor


Em nossa caminhada de cristãos, Deus vai traçando os rumos, que nos são apresentados, muitas vezes, em forma de coincidências, ou providências. Uma dessas providências divinas aconteceu comigo dia 23 de maio de 2019. Ao começar o dia, sempre registro, em minha página, nas redes sociais, uma mensagem de fé, de esperança, com o objetivo de evangelizar, de passar algo positivo para alegrar o dia de alguém, ou que possa servir como reflexão. Sempre peço a luz do Santo Espírito e escrevo o que vier à mente naquele momento, podendo ser uma frase, uma trova, uma mensagem ou uma poesia. No dia 23, escrevi assim:

Dentro da alma, pelo sono renovada,
que se abre para o novo dia, a voz de Deus:
"Ame. Ame a vida, ame o irmão, ame a si mesmo, ame as obras de minha mão. Esse é o segredo."
            Assim que terminei de escrever, sintonizei a rádio Terra FM-Manhumirim, para ouvir o programa “Fé e compromisso”, com o diácono Matheus Garbazza. O coração transbordou de alegria e ação de graças, pois percebi a sintonia com o que escrevi, ao ouvi-lo fazer a leitura do Evangelho de São João (15,9-11): Disse Jesus: “Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor. Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa”.
Nesse mesmo dia, à tarde, passei na igreja para visitar o Santíssimo Sacramento. Comecei a pensar sobre qual assunto escrever para o jornal. No silêncio do meu coração, a voz de Deus: “Escreve sobre o amor.” E aqui estou eu, escrevendo sobre o amor.
Falar de amor é tão fácil! Essa palavra, creio eu, é a mais falada, cantada em prosa e em versos. Mas o sentimento amor, ah! esse não é tão vivido assim. É justamente essa vivência que é preciso aprender. Aprender a amar sem distinção, sem exigências, sem esperar nada em troca. Amar os pais, os irmãos, a família. Amar o esposo, a esposa. Amar cada pessoa que encontrar. Viver o amor fraternidade, tão pregado por Jesus Cristo. Esse que faz ajudar o outro, fazê-lo se sentir bem apesar de suas misérias. Dar algo de si a quem nada possui; não apenas bens materiais, mas a fé, a alegria, a graça de ser filho de Deus. Dar um bom dia, um abraço, saber do outro, cuidar.
Peçamos a Deus que nos ensine a amar. Peçamos a Ele a graça de sabermos amar, de entendermos que o amor deve ser vivido em quaisquer circunstâncias. Não existe amor pela metade, o amor é a totalidade. Amar apesar das divergências, das diferenças, do caminho escolhido. Amar na alegria, mas também na dor. E isso, apendemos aos poucos, desde que deixemos a luz de Deus brilhar sobre nós e nos contagiar. Por isso, peçamos:
 Se não estamos sabendo amar o irmão, ó Deus, vem nos ensinar. Ensina-nos o caminho a seguir, as palavras que devem ser ditas, o que fazer para viver o teu amor. Nos dias de alegria, dá-nos a graça de dividir essa alegria com alguém. Nos dias difíceis, dá-nos forças para superar as intempéries e não deixar que isso nos prive da missão de servir. Dá-nos sabedoria para entendermos o amor em sua plenitude. Para compreendermos a necessidade do outro e levarmos o teu amor a todos os irmãos. E, acima de tudo, ajuda-nos a entender que esses ensinamentos, essa busca são por toda a existência, pois amor verdadeiro, pleno, inteiro só o teremos em ti. Amém.

Luisa Garbazza

Publicação do Jornal Paróquia N. Sra. do Bom Despacho
Junho de 2019

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Sempre Mãe


Chega maio. Que alegria!     
Celebremos a magia
de um ser chamado Mãe.

Mãe é luz, é força, é bondade,
É paz, é amor, é verdade,
toque suave no coração.
É sentir serenidade,
alegria na saudade,
aconchego na aflição.

Mãe é puro sentimento:
esperança daquela que quer ser mãe;
euforia da jovem mãe;
cuidado da mãe de filho pequeno;
ansiedade da mãe de filho adolescente;
ternura da mãe que se torna avó;
saudade da mãe de filho distante;
tristeza, nostalgia pela mãe que já se foi.

Mãe é sempre mãe,
um ser de existência reluzente.
Por mais que esteja velhinha,
distante ou falecida,
mãe é outra Maria
na vida de toda gente.
                      Luisa Garbazza

                      Maio de 2019



Homenagem à  minha querida, amada e santa mãe, que, mesmo tendo sido chamada à presença de Deus, faz parte de cada minuto de minha vida.
Mamãe, amo a senhora tanto, tanto, tanto...




                     


quarta-feira, 8 de maio de 2019

Alegria em Cristo Jesus


Nós, seres humanos, somos simples e complexos, imperfeitos, inacabados, necessitados uns dos outros para realizarmos uma tarefa que não é tão simples assim: viver. Na construção de nossa própria história, somos dotados de liberdade para escolher nossos caminhos e inteligência para realizar maravilhas. Como filhos e filhas de Deus, no entanto, temos necessidade de conservar o elo que nos mantém conectados com o Criador. É essa sintonia com Deus que nos faz capazes de dar passos seguros e confiantes, na certeza de que estamos amparados, acompanhados e que somos amados a despeito de quaisquer circunstâncias.
Por sermos seres inacabados, somos movidos a fé, a esperança, a sonhos e precisamos buscar algo novo a cada dia. Também é necessário estar em sintonia com o semelhante, nossos irmãos e irmãs de caminhada. É em comunidade que vamos crescer, ajudar a quem precisa, amadurecer nossa fé, professar nossa crença em Deus todo poderoso. Na busca por esse amadurecimento, caminhamos rumo à santidade. Dia após dia, ano após ano, a Igreja nos oferece oportunidades de vivenciarmos a trajetória do povo de Deus e do próprio Jesus através das festas litúrgicas. Recentemente passamos pela Quaresma, Semana das Dores, Semana Santa e Páscoa – ressurreição de Jesus, proposta de vida nova para cada filho e filha de Deus. São momentos de oração, penitência, jejum, abstinência, para culminar na alegria do Cristo ressuscitado; momentos que reforçam nossa fé e nos dão esperança para continuarmos a batalha da vida.
Neste ano, ao celebrar a Semana das Dores, reunimo-nos para meditar as dores de Maria na Igreja Matriz, sempre às 18 horas, encerrando com a Missa das 19 horas. Como coordenadora, procurava acolher a cada um que chegava. Revezamos nos momentos das leituras e das orações, para que haja participação de todos. No primeiro dia dessa semana, domingo, dia 14 de abril, refletíamos sobre a primeira dor de Maria: Profecia de Simeão. A igreja estava quase cheia. No primeiro banco, notei a presença de dois jovens, bem concentrados, atentos às orações. Aproximei-me, com o terço na mão, e perguntei se queriam rezar um mistério. A resposta foi-me surpreendente: ”Nós não sabemos rezar. Somos novos convertidos. Agora que estamos aprendendo a rezar a Ave-Maria.” Durante a rápida conversa, disseram que estavam frequentando a catequese. Em um misto de surpresa e contentamento, eu os acolhi e pedi que lessem o texto de contemplação dos mistérios, o que fizeram com alegria.
Esse acontecimento encheu-me o coração. Acolher aqueles jovens fez a diferença no meu dia, na minha oração, no meu modo de pensar. Por um instante, quis falar para a igreja toda, contar a novidade, como as mulheres ao contar que Jesus havia ressuscitado: com o coração cheio de alegria. Contive-me, no entanto, entendendo que aquela não seria a melhor hora para fazê-lo.
A alegria sentida, ao encontrar aqueles dois jovens, fez-me lembrar de uma passagem bíblica, às vezes tão difícil de entender: “Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”. (Lucas 15:7) Fiquei pensando que Jesus devia estar mais alegre com aqueles dois jovens, em cujos corações a fé católica começava a brotar, do que com a minha presença e a de tantos outros que estão a vida inteira na igreja. Os meus olhos se abriram, e já não havia nenhuma dúvida a respeito dessas palavras, pois a alegria transbordava também do meu coração.
Luisa Garbazza
Maio 2019
Jornal "Paróquia"

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Exaltação dos humildes



Estamos vivendo o tempo quaresmal. Durante estes quarenta dias, somos convidados a uma postura de oração, jejum e caridade. É preciso padecer um pouco: fazer abstinência de alguma coisa, deixar de comer algum alimento, reservar um tempo maior para a oração e ainda lançar um olhar sobre o irmão e ajudá-lo em suas necessidades.
Para os momentos orantes, recorremos à Palavra de Deus, presente no livro santo. As leituras bíblicas da liturgia nos levam a refletir sobre o pecado, a conversão, a súplica a Deus todo poderoso. Também nos convida a acompanhar os últimos passos de Jesus e a ouvir suas palavras, que nos dão lições de humildade, de desapego, de perseverança e nos convida a tomar nossa cruz e segui-lo.
Ao falar em lição de humildade, lembro-me das palavras do Padre Jayme, na homilia da quarta-feira, dia 20 de março. Comentando o Evangelho da mãe que queria escolher lugares para os filhos ao lado de Jesus, na vida eterna, Padre Jayme nos instruía sobre o valor da humildade.  Segundo ele, por mais que pensemos estar nas graças de Deus, não cabe a nós exigir alguma coisa. Mesmo que ocupemos um cargo mais alto, seja na sociedade, na política ou na própria Igreja, importa mais o modo como conduzimos esse cargo. Precisamos agir com humildade, servir o outro sem procurar nos enaltecer. Afinal, foi o próprio Jesus que nos disse: “Eu vim para servir, e não para ser servido”. – O próprio Padre Jayme nos dá o exemplo de humildade quando, pelas limitações do corpo, aceita as mãos que o levam ao altar.
Ouvindo as palavras do Padre Jayme, percebemos o quanto devemos estar vigilantes. Cuidar para que o ego não ocupe o lugar de honra em nossa vida. O que precisamos, de verdade, é nos convencer de que tudo o que fazemos é para Deus. Nada deve ser feito para nos engrandecer. E tudo deve ser a favor do irmão. A glória é, portanto, toda de Deus. O que fica de nós, diante do Criador, é o que somos lá no coração, onde só Ele vê. Como diz Madre Teresa de Calcutá, “Veja você que, no final das contas é tudo entre Você e Deus e não entre você e os homens”.
Jesus pregava a humildade. Em sua trajetória entre os homens, tinha sempre uma palavra de censura para os grandes e poderosos que não respeitavam os pobres e oprimidos. E sempre ajudava os humildes, mesmo aqueles que ocupavam um cargo mais elevado. Ele, sim, sabia ler o íntimo da pessoa e ver suas verdadeiras intenções, seus verdadeiros sentimentos. Por isso valorizava tanto os humildes de espírito e os chamava de bem-aventurados, porque deles é o reino dos céus.
Assim, neste tempo quaresmal, peçamos a Deus a graça de fazer tudo por amor. Saibamos nos colocar, de corpo e coração, à disposição dos mais necessitados. Há tanto a ser feito! “A messe é grande e poucos os operários.” Aprendamos de Jesus a lição de humildade. Aprendamos de Maria a lição de estar sempre pronta a atender a vontade do Pai: “Faça-se em mim segundo a vossa palavra”.
Dai-nos, Senhor, a graça de entender a nova aliança proposta por Jesus: “um novo reino de justiça e esperança, fraternidade, onde todos têm lugar”. Ajudai-nos, a não cairmos na tentação do egoísmo, do orgulho, da audácia de pensar que somos melhores que qualquer um de nossos irmãos e irmãs. Concedei-nos sabedoria para vivermos a verdadeira humildade, essa que nos leva a crer que somos todos iguais e precisamos de nos amar e de cuidar uns dos outros como aprendemos de vós. Amém.
Luisa Garbazza 

Publicação do jornal "Paróquia"
Abril de 2019

segunda-feira, 11 de março de 2019

Verdadeira fraternidade


Manhã de domingo, em minha casa, é quase sempre a mesma rotina: levantar cedo e se preparar para participar da Santa Missa. No último domingo, entretanto, como teríamos função na missa da noite, mudou-se a rotina: levantamos cedo, e o Flávio convidou-me para uma caminhada.
O ar fresco da manhã e a conversa amena tornavam agradável o caminhar. No meio do caminho, no entanto, algo quebrou nosso encantamento: em frente à cadeia, um grupo de mulheres aguardava o momento das visitas. Aquela cena muito nos sensibilizou. A partir daí, então, a conversa foi sobre a Campanha da Fraternidade 2019, sobre políticas públicas, para qual estamos nos preparando, pois sabemos que muitos dos presos são jovens que se envolveram no mundo das drogas.
Em preparação para a Campanha da Fraternidade, tivemos, no último sábado, um encontro de formação para a liderança da paróquia. Convidamos o promotor público, Dr. Giovani Vieira, para falar para nós sobre as políticas públicas. Muito interessante as palavras do Giovani, que nos dizia o quanto a Constituição Federal do Brasil é rica e completa. Triste é vê-la tão desvalorizada. Ali entendemos que há, sim, leis que protegem os menores, o meio ambiente, os idosos, a família, que privilegiam a educação e a saúde. Pena que os políticos não cumprem – pelo menos não em sua totalidade – o que dita nossa constituição. E as consequências? Vemo-las no meio de nós: pessoas desamparadas, idosos sem amparo, muitos doentes sem socorro, infância desvalida, jovens sem perspectivas, educação precária e o meio ambiente cada vez mais devassado.
Vendo tanto descaso por parte dos políticos, nós cristãos não podemos nos acomodar. É aí que entra a verdadeira fraternidade. Precisamos tomar consciência da nossa obrigação de filhos e filhas de Deus e partir para a prática do “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.  Esse é o mandamento deixado por Jesus. Esse deveria ser o maior de todos os mandamentos, e às vezes fica esquecido. Abramos nosso coração. Há tanto a ser feito! Podemos apoiar o irmão que sofre, cobrar dos políticos que seja cumprido o que nos propõe a Constituição Federal. Está tudo lá, nas leis. É necessário apenas que haja forças para vencer a corrupção e colocar em prática a lei dos direitos iguais para todos, em quaisquer circunstâncias, a começar pelo direito à saúde, à educação e a uma vida com dignidade. Posso estar sendo muito otimista, mas creio que se todos tivessem acesso a esses direitos, haveria bem menos violência, menos revolta, menos tragédias.
Tomara que, nesta Campanha da Fraternidade, possamos, todos juntos, olhar com mais compaixão para nossos irmãos que sofrem e fazer alguma coisa para ajudá-los a conseguir o que lhe é de direito. Nem todos se conformam com a situação em que vivemos. Juntos, com a certeza da graça de Deus, que se fará presente em nossas atitudes, podemos melhorar a vida dos nossos irmãos e a nossa também. A certeza de que Deus está conosco, nos dará forças na caminhada de fé e de fraternidade.
Aqui me lembro de outro fato da última semana: saindo bem cedo de casa, passei perto de uma construção civil e ali, sentado ao lado de um monte de areia, aguardando a hora de começar o trabalho, um jovem, de cabeça baixa. Ao me aproximar, notei que ele tinha nas mãos uma Bíblia – já amassada e um pouco suja – e um lápis, com o qual ia marcando algumas palavras. Tenho certeza de que aquele jovem também sofre as consequências do regime de privilégios em que vivemos. Mas sei também que ele coloca todas as suas esperanças em Deus, o qual estava ouvindo através da Palavra.
Luisa Garbazza

Publicação do jornal "Paróquia"
Março de 2019

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Tempo de agradecer


O tempo é um mistério. O homem tenta dominá-lo em vão. Conforme as peculiaridades, o tempo foi sendo divido: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, séculos... Mas, na corrida do dia a dia, o passar do tempo continua sendo um mistério: às vezes vai rápido demais, outras vezes parece que está estacionado; às vezes acontecem tantas coisas, outras vezes vivemos o marasmo da existência. De uma coisa podemos ter certeza: o único que domina esse mistério é o Criador. Ele, sim, sabe o tempo certo para cada coisa acontecer. Ou deixar de acontecer.

Nós, da Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho, estamos vivendo o tempo de agradecer. Celebramos, em 2019, os oitenta anos da presença sacramentina em Bom Despacho. É com alegria que elevamos ao Pai cânticos e preces de louvor e ação de graças pela dádiva de sermos guiados pelos discípulos do Padre Júlio Maria De Lombaerde, hoje servo de Deus.
Quando se conhece um pouco da história do Padre Júlio Maria, é fácil visualizá-lo chegando nestas terras: um homem alto, barbas longas, olhar calmo, alma serena. Homem sério, trabalhador, generoso, ciente de sua vocação e de sua missão como consagrado: evangelizar, pregar e praticar o amor, a solidariedade, a justiça. Tinha um amor muito grande por Jesus Eucarístico e pela Mãe da Eucaristia. Seu lema era “Amor e sacrifício”. Onde passava, deixava pegadas de fé e marcas de Deus. Assim ele viveu. Assim ele quis que vivessem as três congregações que criou.
Na década de 1930, Padre Júlio Maria veio por estas bandas com o firme propósito de assumir a Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho, e o fez, oficialmente, no dia 1º de janeiro de 1939, instituindo como primeiro pároco o Padre João Balke, SDN. A partir dessa data, muitos foram os sacerdotes sacramentinos que passaram por estas terras. Alguns aqui permaneceram por muitos anos, foram incansáveis missionários e marcaram a vida de tantas pessoas. Lembro-me das histórias de minha mãe: a espiritualidade e o jeito severo do Padre Antenor; a caridade e o amor às Sagradas Escrituras do Padre João Heffels; a incansável solicitude do Padre Henrique. Não podemos nos esquecer dos sacramentinos bom-despachenses: Padre Robson, Padre Jayme, Padre Antônio Otaviano. E tantos outros, cada um com seu carisma, com suas particularidades, mas todos imbuídos dos ideais julimarianos, tão sublimes e tão necessários na vida dos cristãos.
Primeiro de janeiro de 2019: são 80 anos de missão sacramentina entre nós. Primeiramente em toda a cidade; agora, com a divisão de paróquias, a missão continua na Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho. A cada dia conhecemos mais a história do fundador e nos empenhamos para ajudar os sacerdotes a concretizar os ideais propostos por ele. A cada dia nos convencemos de que seus ideais são admiráveis e necessários para uma boa vivência cristã, pois são os mesmos pregados pelo Mestre Jesus.
Por isso é tempo de agradecer. Estamos vivendo o “Ano jubilar”. Em 2019, vamos fazer memória dos oitenta anos da presença sacramentina em Bom Despacho. Durante todo o ano, teremos ações concretas e celebrativas em comemoração a esse jubileu. Demos graças a Deus pelo privilégio de participarmos de uma paróquia sacramentina. Graças por propagarmos o nome do servo de Deus Padre Júlio Maria e rezarmos para que ele alcance a glória dos altares. Graças por todos os missionários sacramentinos que aqui viveram: pelos que estão vivos e pelos que Deus chamou para si. E graças pelos que estão conosco neste ano jubilar: Padre Jayme, Padre Antônio, Padre Márcio e Padre André. Amém.

Luisa Garbazza
Publicação do Jornal "Paróquia"
Fevereiro de 2019