domingo, 31 de outubro de 2021

Abastecer-se de Deus

 

Estamos vivendo um tempo de renovação, de redescoberta da vida, inclusive da vida religiosa. Por causa da pandemia, ficamos sem saber o que fazer ou o que poderíamos fazer sem colocar em risco nossa vida e a de outrem. A igreja tornou-se um lugar muito visado. Apesar do distanciamento, muitos fiéis, mesmo sem ser do grupo de risco, optaram por abandonar a “Casa de Deus”. Alguns passaram a acompanhar os ritos religiosos de casa, através das redes sociais. Outros, nem isso. Agora precisamos nos readaptar à vida religiosa participativa. Encontrarmo-nos com a comunidade de fé. Buscarmos o alimento espiritual necessário para bem vivermos nossa vida de cristãos. Afinal, é a partir daí que começamos a trilhar nosso caminho rumo à santidade.

Não basta, no entanto, frequentarmos a igreja. É preciso traçar caminhos, segundo os ensinamentos do grande Mestre, e por eles caminhar firme, sem desviar, sem buscar outros propósitos que não o da confiança ilimitada em Deus. Já sabemos que não é uma estrada fácil de ser transitada. Nela encontraremos pedras, que tentarão atrapalhar nossos passos; labirintos, que dificultarão nossa direção; sombras e escuridão, que nos atrapalharão a visibilidade. Também nos serão ofertados inúmeros prazeres, situações atrativas, que colocarão nossa fé em risco. Por isso é tão importante a vida de oração. É através da oração constante – e da participação na Missa e nos Sacramentos – que estaremos abastecidos de Deus e teremos forças para suportar os reveses da vida sem nos distanciarmos de Jesus: Caminho, Verdade e Vida.

 Exemplos de santidade

Para nos servir de guia, nesta trajetória da vida, temos o exemplo dos inúmeros santos e santas de Deus, homens e mulheres que se dedicaram a Deus e ao próximo, sofreram dores físicas e morais, foram levados ao martírio por causa de sua fé, mas não se deixaram esmorecer. No mês de novembro, mês em que se celebra o “Dia de todos os santos”, celebra-se particularmente muitos dos que alcançaram graças diante de Deus. Como exemplo, no dia 12, temos São Josafá Kuncewicz, que defendia com muita coragem a autoridade do papa como o verdadeiro representante de Cristo e o sucessor de Pedro na terra. Por isso foi espancado, torturado e morto. No dia 22, Santa Cecília, virgem e mártir, que cantava a Deus: Senhor, guardai sem manchas o meu corpo e minha alma, para que não seja confundida.  Dia 30, santo André, primeiro discípulo de Jesus, martirizado por continuar a obra do Mestre. E tantos outros.

A santidade acompanha o povo de Deus em toda sua existência. Todos nós somos chamados a ter uma vida santa. Na era moderna, muitos são os que se anularam por uma causa maior, como Madre Tereza de Calcutá e Irmã Dulce, duas santas mulheres que se dedicaram ao cuidado dos pobres, dos doentes, dos desvalidos. Nós, como paróquia sacramentina, acompanhamos a trajetória, rumo à santidade, do fundador Padre Júlio Maria De Lombaerde. Quem conhece a história desse homem de Deus, fica encantado pela fé grandiosa e pela disponibilidade em fazer o bem, servir os mais necessitados. Padre Júlio Maria abandonou tudo o que tinha e o que seria capaz de conquistar para se tornar padre missionário. Atravessou mares, desbravou florestas e matas, foi aonde o Senhor o chamou. Esqueceu-se de si e cuidou dos pobres, das crianças, dos jovens, dos velhos, das mulheres tão oprimidas. E, imitando o Mestre, fundou uma congregação em que ensinava o amor incondicional a Jesus Eucarístico e a Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento.

Pensando em santidade, sejamos firmes em nossa caminhada. É preciso seguir o exemplo do Padre Júlio Maria, aceitando a estrada do amor e sacrifício. E perseverar. Assim, um passo de cada vez, dia após dia, vamos nos aproximar do ideal proposto por Jesus e acreditar que possamos, um dia, glorificar a Deus ao entregarmos nossa vida.

luisagarbazza@hotmail.com

Luisa Garbazza

Novembro de 2021

Para minha mãe - in memoriam -, a mais santa que já conheci.


terça-feira, 5 de outubro de 2021

Nos caminhos da infância

 



Dos caminhos percorridos nesta vida, as trilhas mais bem vividas são as do tempo de criança. Cada passo dado, cada aprendizado, cada pegada deixada são traços de alegria, real ou magia, guardados na mente. Tempo de brincadeira, de tudo a vez primeira, de emoção verdadeira, que vai bordando a vida qual linha nas mãos da rendeira. As meadas se entrelaçam e, de ponto em ponto, formam corpo, mente, personalidade. É a infância, época de pureza, de ingenuidade, confiança plena, sentimentos que traduzem a essência da vida e moldam o caráter.

Em caminhos quase paralelos, a vida: um eterno aprendizado. A vivência da infância acompanha-nos por toda nossa existência. Quanto mais vivemos, mais buscamos o tempo áureo dos bordados, da época em que tudo se transformava em brincadeira, mesmo em tempos de vida difícil, quando poucos eram os recursos.

Há! A minha infância!... Eu a carrego comigo, guardadinha em meu coração. Cada meada de linha, cada ponto, cada novo bordado trazem as cores da minha meninice, permeada de escassez material, mas recheada de simplicidade e alegria. Vez ou outra, abro as gavetas do tempo e envolvo-me naqueles pensamentos. O último foi justamente a história de uma meada de linha...

 História de vida

Vejo-me na escola, na terceira série do Ensino Primário – hoje Ensino Fundamental. A professora, muito dedicada, criava formas diferentes e divertidas para atrair a atenção da meninada. A que mais me encantava era o momento de “Contação de História”, sempre de um jeito novo e em lugares diferentes. Certa vez, ela pediu que, no dia seguinte, cada aluno levasse um tapete para a aula. Saí da escola suspensa. Na precariedade da minha infância, mal sabia o que era um tapete. Em casa não havia um sequer. Consequência: cheguei à escola de mãos vazias. No momento mágico da história, a professora nos levou a um espaço reservado no pátio da escola e pediu que todos colocassem o tapete no chão e se sentassem. Ela fez o mesmo. Todos acomodados e eu em pé. Ela olhou a turma e pediu a uma aluna, que levara um tapete bem grande, que me deixasse sentar junto com ela. Permissão dada, aproximei-me timidamente. Não era um tapete comum, era um tapete grande, bonito, todo brilhante, tecido com fios dourados. Parecia o tapete mágico das histórias. Então me assentei, bem na beiradinha. Em minha mente ingênua de menina da roça, a imagem logo se formou: “São fios de ouro”! A voz da professora prendeu a atenção de todos. Menos a minha. Enquanto ela contava a história – na qual não conseguia me concentrar, vislumbrada com o tapete – comecei a puxar um dos “fios de ouro”, bem devagarinho, para que ninguém percebesse. Cada fala, um puxãozinho. Na mente fértil, cheia de imaginação, fui inventando maneiras de ostentar aquele cobiçado fio dourado. A história já estava quase chegando ao fim – e eu também quase realizando meu sonho de arrancar aquele fio – quando a menina percebeu e reportou tudo à professora. Repreendida, levantei-me depressa, vermelha de vergonha, e fiquei em pé até o fim da aula. O fio de ouro, ora inacessível, permaneceu apenas na minha imaginação.

Depois de tantos anos revivendo essa e outras lembranças, torna-se fácil constatar a presença das marcas deixadas por tudo que vivemos na infância, tanto as marcas que nos fazem sorrir quanto as que nos deixam entristecidos. Por isso, mesmo sabendo serem inevitáveis algumas marcas profundas, não tão felizes, precisamos nos atentar ao cuidado com as crianças. É preciso escolher as cores com cuidado, cortar as meadas na medida certa, fazer as aparas. Oferecer momentos de harmonia, encontro e magia, responsáveis por preencher de alegria os bordados da existência. Amar é cuidar.

Luisa Garbazza

Minha singela homenagem a você, criança!

Criança de corpo ou de alma, que brinca, vive, celebra.

Feliz Dia das Crianças! Deus abençoe.

E a todos os professores:

Feliz Dia dos professores!


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Outubro - mês da maternidade

 


Outubro é mês de pura graça,

da alegria que chega, abraça,

de momentos carregados de saudade:

outubro é o mês da maternidade.

 

Nasceu o filho, o primeiro a chegar,

chegou de mansinho, veio me ensinar,

com seu rostinho tão lindo, seu candor,

a maior lição, a mais bela: o amor.

 

Amor dividido, alegria ao coração,

o segundo filho encheu-me de emoção.

É a capacidade de amar tomando forma,

sentimento puro que tudo transforma.

 

Senti da vida a cor, a leveza,

no rosto dos filhos, doçura, leveza.

Coração em paz, o amor proclama

nos versos de afeto que a alma declama.

 

Outubro é mês de agradecimento,

lembrar de cada filho o nascimento.

Dar graças à vida, celebrar o amor;

dar graças a Deus, nosso Pai Criador.


Luisa Garbazza

Em ação de graças a Deus pelos filhos lindos com os quais me presenteou – ambos nascidos em outubro.