O Papa Francisco decretou: 2016 é o “Ano da
Misericórdia”. A palavra misericórdia é composta pelos termos latinos
MISERATIO, derivado de MISERERE, que significa “compaixão”, e CORDIS, derivado
de COR, “coração”. Juntas, significam “‘dar o coração àqueles que são vítimas
da miséria”. Essa palavra aparece muitas vezes nas Sagradas Escrituras, tanto
para mostrar a compaixão de Deus para com a humanidade, quanto para nos ensinar
a ter misericórdia para com nossos irmãos.
No Antigo Testamento, Deus se compadece de seu
povo, que sofria os maus tratos da escravidão no Egito, e depois, quando sentia
as más condições do deserto em busca da Terra Santa. E na caminhada do povo de
Deus, até a vinda do Salvador, muitas foram as interferências do Criador para
amenizar as dores dos seus filhos e filhas. No Novo Testamento, enquanto estava
entre nós, Jesus deixou vários exemplos para que entendêssemos que devemos ter
misericórdia uns para com os outros. Em uma das parábolas, enquanto o sacerdote
e o levita viram o homem jogado no chão, ferido, quase sem vida, e passaram
adiante, o samaritano agiu com misericórdia e ajudou-o a recuperar a dignidade.
E o próprio Jesus estendeu a mão e teve misericórdia dos doentes, do cego, da
viúva, da pecadora arrependida, dos leprosos e do ladrão crucificado ao seu
lado.
Muitos séculos se passaram e a humanidade não
aprendeu os ensinamentos de Jesus. Pelo contrário, continuam a viver numa busca
desenfreada pelo poder acima de todas as coisas. Cada Nação quer ser mais
poderosa e, para isso, declaram guerra, agem com violência, matam milhares de
inocentes. A humanidade está cada vez mais necessitada de clemência:
misericórdia para com as pessoas que lutam pela sobrevivência; com as crianças
que são privadas de viver plenamente a infância; com os idosos não
compreendidos e, às vezes, esquecidos; com os que são discriminados e
oprimidos. Também necessitam da misericórdia de Deus os poderosos que detêm o
poder, incapazes de praticar a justiça e a solidariedade; os ditadores que
fecham os olhos para a evolução da humanidade; os que se enriquecem às custas
do sofrimento de muitos; os que idolatram os valores mundanos e teimam em
deixar fechados os olhos da fé.
Nós, católicos, também precisamos repensar o sentido
dessa palavra em nossas ações diárias. Não basta ir à igreja uma vez por semana
e depois fechar os olhos ao que ouviu. Também não basta ir à igreja todos os
dias e agir como se isso fosse suficiente. O que mais importa é a vivência da
misericórdia. E os que mais precisam praticar essa vivência, são os que estão a
serviço da Igreja. Ali, colocando os dons à disposição, somos todos iguais.
Precisamos agir com misericórdia. Precisamos ser samaritanos com os que nos
relacionamos. Trabalhar em comunhão uns com os outros, em comunhão com os
sacerdotes e em comunhão com Deus. Só assim, nosso trabalho será agradável aos
olhos daquele que nos criou.
Aproveitemos este Ano da Misericórdia para pedirmos
a Deus este dom e praticá-lo em nosso dia a dia. Tenhamos, primeiramente,
misericórdia de nós mesmos, para vivermos na simplicidade dos lírios do campo,
como nos ensinou Jesus, e na humildade do cordeiro, como Ele mesmo nos deu o
exemplo. Desta forma, estaremos prontos para agir com misericórdia e acolher a
todos os que precisam de nossa ajuda, de nossa compreensão, de nosso sorriso,
de nossos conhecimentos dentro e fora da Igreja. É assim também que
alcançaremos a misericórdia infinita de Deus Pai, que nos ama e nos acolhe,
sempre de braços abertos.
Luisa Garbazza
Publicação do Jornal Paróquia N. S. do Bom Despacho
Fevereiro de 2016