domingo, 28 de fevereiro de 2016

Novo dia

Uma claridade acanhada mexe com as cores do horizonte.
O negrume da noite se entrega e deixa ser invadido.
Algo novo acontece de novo: luz.
Não uma luz qualquer: uma luz que atinge, indistintamente, todos os rincões da terra;
uma luz que clareia onde as luzes noturnas da cidade não consegue atingir.
É dia outra vez. 
Outro momento, outra manhã.
Um novo quadro, encoberto, que vai se desenhando, paulatinamente, ante nossos olhos.
A nós, cabe abrir, lentamente, a cortina que nos impede de viver as cenas da vida:
sair de nós mesmos, ir ao encontro do outro;
estar presente;
ser presença que aquece e alegra;
cantar, sorrir, abraçar.
E, na dança da vida que recomeça,
olvidar a indiferença,
olhar nos olhos e dizer:
“Bom dia!”
Luisa Garbazza
28 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A vivência da misericórdia

O Papa Francisco decretou: 2016 é o “Ano da Misericórdia”. A palavra misericórdia é composta pelos termos latinos MISERATIO, derivado de MISERERE, que significa “compaixão”, e CORDIS, derivado de COR, “coração”. Juntas, significam “‘dar o coração àqueles que são vítimas da miséria”. Essa palavra aparece muitas vezes nas Sagradas Escrituras, tanto para mostrar a compaixão de Deus para com a humanidade, quanto para nos ensinar a ter misericórdia para com nossos irmãos.
No Antigo Testamento, Deus se compadece de seu povo, que sofria os maus tratos da escravidão no Egito, e depois, quando sentia as más condições do deserto em busca da Terra Santa. E na caminhada do povo de Deus, até a vinda do Salvador, muitas foram as interferências do Criador para amenizar as dores dos seus filhos e filhas. No Novo Testamento, enquanto estava entre nós, Jesus deixou vários exemplos para que entendêssemos que devemos ter misericórdia uns para com os outros. Em uma das parábolas, enquanto o sacerdote e o levita viram o homem jogado no chão, ferido, quase sem vida, e passaram adiante, o samaritano agiu com misericórdia e ajudou-o a recuperar a dignidade. E o próprio Jesus estendeu a mão e teve misericórdia dos doentes, do cego, da viúva, da pecadora arrependida, dos leprosos e do ladrão crucificado ao seu lado.
Muitos séculos se passaram e a humanidade não aprendeu os ensinamentos de Jesus. Pelo contrário, continuam a viver numa busca desenfreada pelo poder acima de todas as coisas. Cada Nação quer ser mais poderosa e, para isso, declaram guerra, agem com violência, matam milhares de inocentes. A humanidade está cada vez mais necessitada de clemência: misericórdia para com as pessoas que lutam pela sobrevivência; com as crianças que são privadas de viver plenamente a infância; com os idosos não compreendidos e, às vezes, esquecidos; com os que são discriminados e oprimidos. Também necessitam da misericórdia de Deus os poderosos que detêm o poder, incapazes de praticar a justiça e a solidariedade; os ditadores que fecham os olhos para a evolução da humanidade; os que se enriquecem às custas do sofrimento de muitos; os que idolatram os valores mundanos e teimam em deixar fechados os olhos da fé.
Nós, católicos, também precisamos repensar o sentido dessa palavra em nossas ações diárias. Não basta ir à igreja uma vez por semana e depois fechar os olhos ao que ouviu. Também não basta ir à igreja todos os dias e agir como se isso fosse suficiente. O que mais importa é a vivência da misericórdia. E os que mais precisam praticar essa vivência, são os que estão a serviço da Igreja. Ali, colocando os dons à disposição, somos todos iguais. Precisamos agir com misericórdia. Precisamos ser samaritanos com os que nos relacionamos. Trabalhar em comunhão uns com os outros, em comunhão com os sacerdotes e em comunhão com Deus. Só assim, nosso trabalho será agradável aos olhos daquele que nos criou.

Aproveitemos este Ano da Misericórdia para pedirmos a Deus este dom e praticá-lo em nosso dia a dia. Tenhamos, primeiramente, misericórdia de nós mesmos, para vivermos na simplicidade dos lírios do campo, como nos ensinou Jesus, e na humildade do cordeiro, como Ele mesmo nos deu o exemplo. Desta forma, estaremos prontos para agir com misericórdia e acolher a todos os que precisam de nossa ajuda, de nossa compreensão, de nosso sorriso, de nossos conhecimentos dentro e fora da Igreja. É assim também que alcançaremos a misericórdia infinita de Deus Pai, que nos ama e nos acolhe, sempre de braços abertos.
Luisa Garbazza

Publicação do Jornal Paróquia N. S. do Bom Despacho 
Fevereiro de 2016

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A prática do bem

Estamos vivendo – e vivenciando – o “Ano da misericórdia”. É um tempo de graça, para que possamos implorar a misericórdia de Deus. Deus está sempre disposto a nos acolher, a perdoar nossas faltas, a nos receber de volta. Isso porque Deus é bom o tempo todo e nos ama incondicionalmente. Depois que recebemos a graça de Deus, passamos a ser seus colaboradores e recebemos a missão de propagar o seu reino de amor e justiça. Somos convidados a difundir a prática do bem.
Precisamos fazer o bem ao nosso semelhante. Caminhar ao lado daqueles que necessitam de nosso auxílio, ajudá-los a trilhar as veredas da fé, superar obstáculos, anular pensamentos e atitudes que possam provocar o distanciamento de Deus, reinventar a vida cultivando os valores cristãos e dar testemunho da força do amor.
Da mesma forma, é necessário praticar o bem para com a casa que nos acolhe: o planeta. Este ano – 2016 – a Campanha da Fraternidade vem nos lembrar – mais uma vez – o quão urgente é o cuidado com o meio ambiente. “Casa comum, nossa responsabilidade”. A “casa” é de todos nós, portanto somos todos responsáveis por sua conservação. A campanha traz ainda o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca.” (Am 5, 24), para nos mostrar que todos somos filhos da mesma terra e herdeiros dela. Não dá para conviver indiferentemente com tanta injustiça, com a exploração das riquezas da terra para o enriquecimento de uma pequena parte da população. Defendendo os direitos das pessoas e lutando pela preservação do meio em que vivemos, estaremos também praticando o bem.
A Campanha da Fraternidade vai enfocar ainda a questão do saneamento básico. Existem tantos irmãos nossos vivendo em condições mínimas de higiene. Todos são igualmente filhos de Deus e têm o direito a uma vida digna. Estão necessitados de alguém que caminhe à luz da fé e interceda por eles e por todo o planeta, promovendo o bem e buscando políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa “Casa Comum”.
Entretanto, para cuidarmos do outro, precisamos, antes de tudo, cuidarmos de nós mesmos. Precisamos ver o que pode ser feito para que nos tornemos mais justos, mais responsáveis, mais dignos de sermos chamados “filhos de Deus”. Para ser filho de Deus, no significado pleno dessa expressão, é necessário muito mais que aparências. É preciso despojar-se de tudo que afasta do Pai: desamor, injustiça, egoísmo, falsidade. É preciso ser verdadeiro em tudo que se fala e faz. Aí, sim, estaremos preparados para praticar o bem, a nos tornar disponíveis, a nos alegrar com o progresso do outro, a andar de mãos dadas em busca de uma comunidade fraterna a caminho da santidade.
Portanto, ao analisarmos essas palavras, perceberemos que a prática do bem deve ser a marca de todo cristão. E é tão fácil viver fazendo o bem! Quando nos conscientizamos disso, torna-se natural dar testemunho do amor de Cristo, zelando pelos irmãos, valorizando a vida em quaisquer circunstâncias. A começar pela nossa própria vida.

Aproveitemos a Campanha da Fraternidade e o Ano da Misericórdia e façamos essa experiência. Veremos como a vida ficará mais leve. Assim seremos merecedores da misericórdia de Deus e podemos anunciar as graças incontáveis que ele nos concede a cada dia. Amém.

Luisa Garbazza
Publicação do Informativo Igreja Viva
Fevereiro de 2016

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Horizonte da vida



O véu da noite vai perdendo a densidade.

Deixa-se substituir.

Vem rompendo, morosamente, o amanhecer.

Os primeiros sinais do sol abrem a cortina do tempo.

A imensidão enegrecida perde forças e se entrega às nuanças da primeira claridade.

O sol se aproxima. As primeiras réstias de sua luz dá vida ao horizonte. Depois ganham o céu e se espalham pela terra penetrando lugares sombrios, distribuindo luz e calor.

É outro dia que desponta. Nova oportunidade no horizonte da vida. Tempo para viver, amar, sonhar e realizar.

Que seja um dia alegre! Feliz!

Que seja um dia de verdade: dia de lutas e vitórias. 

Que possamos aproveitar essa dádiva, esse sopro de vida, essa luz que nos impele a algo mais.

Que possamos realizar algo de bom, que nos preencha o coração e a alma, antes que o sol se despeça e o véu da noite cubra a terra mais uma vez.

Luisa Garbazza
8 de fevereiro de 2016