Muito já ouvimos falar em “sinais dos tempos”.
Percebemos isso no dia a dia. Cada tempo tem os seus sinais. Estamos vivendo
agora o tempo das urgências: todos têm pressa; a paciência fica em segundo ou
terceiro plano; ninguém pode esperar. Mas ultrapassar o tempo, isso não
podemos. Senti essa urgência exagerada neste ano: novembro ainda nem figurava
no calendário quando as lojas começaram a exibir os primeiros enfeites de
Natal.
Quando saí pelas ruas no finalzinho de outubro e vi
luzes piscando em uma loja, achei que havia alguma coisa errada. Mais alguns
passos. Outra loja com enfeites de Natal. E não era para vender, e sim para enfeitar
a loja mesmo. Em algumas casas, os famosos pisca-piscas já funcionavam. Fiquei
perplexa. Ainda faltavam dois meses para a data e já estavam se preparando.
Ainda nem estávamos no Advento e já se preparavam. Aprontavam vitrines
coloridas, chamativas, principalmente sob os olhares das crianças, que já
começam a exigir esse ou aquele presente. As lojas cheias, barulhentas, iluminadas,
já se diziam preparadas. Não para essa grande festa, com certeza. Preparados,
sim, para a materialização dessa festa. Uma
pena! Quisera se preparassem para o verdadeiro Natal, aquele que começa com o
Advento, passa por um período de análise de vida e conversão e chega ao
presépio, para adorar o Menino que acaba de nascer.
Longe do burburinho das ruas comerciais do centro
da cidade, o pensamento vai além das urgências. Fico imaginando as diferenças
sociais neste mundo tão desigual... Enquanto para uns a urgência é o leite e o
pão, para outros é o que vai servir de diferente nas festas natalinas; se para
uns é urgente uma roupinha para o filho vestir, outros gastam fortunas em
roupas que serão usadas apenas uma vez; uns irão às ruas apenas olhar as vitrines,
deixar os filhos se encantarem com o colorido da cidade, enquanto outros saem
das lojas com mais compras que os braços conseguem carregar. Nesse sentido, podemos
enumerar ainda algumas diferenças e inúmeras urgências supérfluas que preenchem
o universo dos endinheirados.
O pensamento vai mais longe... A alma torna-se
criança: “Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino do Céu.” já
nos dizia Jesus. Se o mundo fosse governado por uma criança, tudo seria mais
humano, mais simples, mais igual. A pureza de coração dos pequenos é visível na
facilidade com que se aproximam uns dos outros, na simplicidade com que se
misturam, combinam as brincadeiras, trocam os brinquedos, dividem seus lanches.
Assim, como em um universo infantil, imagino o
Natal e a vida: todos teriam “brinquedos”, pois quem tivesse dois ou mais
dividiria com quem não possuísse nenhum; ninguém ficaria triste, ou sozinho,
pois a comunidade estaria reunida; ninguém passaria a noite com fome, pois a
mesa farta seria partilhada; e, o mais importante, todos se reuniriam em torno
do presépio, pois é ali que se encontra a razão divina e sublime desta festa
universal. Sei que é utopia, mas bem que poderia se tornar realidade, conforme
diz o poeta: “Se a gente é capaz de espalhar alegria, se a gente é capaz de
toda essa magia, eu tenho certeza que a gente podia fazer com que fosse Natal
todo dia”.
Nesse tempo de Advento, tempo de oração, vigilância
e possíveis mudanças de vida, rezo a Deus por seu povo – santo e pecador –
nesta estrada da vida rumo ao Natal e ao céu: Ajudai-nos, ó Deus, a rever
nossas urgências. A vida é tão transitória! Ajudai-nos a distinguir o que
realmente é urgente do que são apenas caprichos para preencher uma vida vazia
demais. Ajudai-nos a perceber o verdadeiro sentido do Natal. Só assim poderemos
perceber que a maior urgência de nossa vida é o caminho do céu e a única
maneira de encontrá-lo é de mãos dadas.
Luisa Garbazza
Publicação do Jornal Paróquia N. Sra. do Bom Despacho
Novembro de 2017