Os quintais me fascinam. Não os de hoje, quase todo cimentados, cheios de
modernidades. Os de ontem. Aqueles bem naturais, com árvores frutíferas,
flores, muita terra e, os mais privilegiados, um rego de água limpa que
refrescava, umedecia o solo e o ar. E ainda deixava o ambiente mais belo e
acolhedor.
Vivi minha primeira infância em uma casa com quintal assim. Essa imagem
bucólica ficou impregnada em meu ser. Até hoje faz parte das minhas lembranças.
Ou melhor, da minha vida. É parte de mim. Quantos momentos foram vividos ali! Momentos
de encanto e magia. A terra foi, muitas vezes, a matéria prima de longas
brincadeiras. E aí entravam também as pedras, as plantas, as flores e os
insetos.
Atualmente, morando mais no centro da cidade, o espaço é curto para
quintais. “Vamos morar em um apartamento.” – ouvi muitas vezes de meu esposo. Com
toda essa obsessão por quintais – e com a generosidade de meu marido – convenci-o
a morarmos em uma casa. “Que tenha pelo menos um pequeno espaço onde eu possa
cultivar algumas plantinhas.” – foi o meu argumento. Assim se fez.
No fundo da casa, com poucos metros de extensão, reina meu cantinho de
céu, meu paraíso: dois canteirinhos, onde cultivo algumas hortaliças, um
canteirinho com minhas ervas medicinais e outro espaço dividido entre meu pé de
acerola e o de pitanga. Perto dos pés de frutas, o chão rústico, todo coberto
de galhos e folhas secas, traz-me à lembrança os lugares de minha infância. É o
meu refúgio. Ali debaixo, abraçada pelos galhos verdes e amparada pela sombra
fresca, sinto-me protegida. A mente concentra-se em cada detalhe do lugar, acolhe
a mensagem de quietude e simplicidade e devolve-me a paz de espírito de que
tanto preciso. Não sei explicar o sentimento que me envolve nesse lugar, mas
meu subconsciente, esse, com certeza, saberia esclarecer, palavra por palavra,
essa conexão perfeitamente incrível.
Estamos em setembro. A primavera, recém-chegada, consegue driblar o
rigor do sol e da falta de chuva e permitir que as plantas floresçam. A pitangueira
floriu lindamente e se enfeitou de branco. Depois, frutas e folhas tomaram um
tom único confundindo os olhares mais desatentos. Agora já mudou a arranjo: o
laranja dominou tudo. Pequenas e deliciosas, lá estão as pitangas,
destacando-se de tudo o mais, convidando-me a aproximar e saboreá-las. Qualquer
tempo livre, sinto-me atraída e lá vou eu aproveitar uma oportunidade que me
fascina e me emociona: o prazer de pegar a fruta ainda no pé. Evito apenas o
rigor da “volta do dia”, com o sol muito forte. A fruta fica quente por demais
e o sabor não é o mesmo.
Meu pedacinho de quintal: aqui é o meu lugar. Onde eu me afasto das
preocupações, do corre-corre e da tecnologia, que tudo domina. Aqui vejo as
mudanças de cada estação, as folhas caindo no outono, sofrendo com o inverno e
renascendo na estação seguinte. Observo, embevecida, os inquilinos que dividem
o espaço: os costumeiros pardais; um sabiá, que gosta de vir cantar pela manhã;
bem-te-vis, com seu canto forte; vários outros passarinhos bem pequenos; e as
delicadas rolinhas, que vêm constituir famílias. – Recentemente acompanhei a
história de uma delas: namoro, construção do ninho, depois os ovinhos e o
crescimento dos filhotes. – É enternecedor perceber a presença de seres tão frágeis
em meu cantinho. Vê-los assim tão perto, ao alcance da mão. Sentir-me responsável
por eles.
Assim vou seguindo minha história. Abro um leve sorriso lembrando meu
quintalzinho e meu amor por ele. Sei que ainda vou viver muitos momentos nesse recinto
encantado. Quem sabe a vida toda? Um pouquinho a cada dia. A dose necessária
para não me deixar esquecer das origens. A quantidade certa para alimentar
minha sensibilidade, minhas emoções e para conservar o carinho que sinto pelas
criaturas de Deus. A vida tem mais sabor quando conservamos as coisas mais
simples e puras alimentando nosso coração. E o melhor lugar para isso é em
contato com a mãe natureza, mesmo que seja em miniatura.
Luisa Garbazza
3 de outubro de 2014
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