Mais
uma vez, outubro estampa os calendários. O mês vem recheado de datas
importantes e esperadas. Muitos santos são lembrados neste mês. São Francisco de
Assis se destaca no início com seu carisma, sua simplicidade, seu amor
incondicional a Deus. Mais no final, vem São Judas Tadeu, por tantos invocado.
Nos meados do mês, as honras são para Nossa Senhora Aparecida, nossa padroeira.
No mesmo dia, também se comemora o Dia das Crianças, que necessita ser lembrado
menos por seu valor comercial e mais pelo emocional. Festejar a pureza, a
ternura, a alegria sincera. Sentir refletida, nos olhos da criança, a imagem de
Deus, que tanto as ama. Lembrar as palavras de Jesus quando disse: “Deixai vir
a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que
se parecem com elas.” (Lc 18,6)
Muito
se tem feito para garantir os direitos das crianças e ainda há muito a fazer.
Todas merecem ser tratadas com carinho e respeito. Todas devem ser acolhidas,
ouvidas e convidadas a participar da vida em família, na escola e na sociedade.
Também na Igreja, muitas são as funções próprias das crianças. Enternecedor é
vê-las em ação com a singeleza e o encanto próprios. Durante as celebrações,
gosto de observá-las no desempenho de suas funções.
Nos últimos dias, chamou-me à atenção uma
menina, coroinha recém-chegada: Isabela. Menina pequena, moreninha, cabelos
ondulados – quase sempre, parcialmente presos. Jeito simples, voz baixinha,
olhos acanhados, não demonstra os 10 anos que tem. Lembro-me da primeira vez
que a vi ajudar na celebração. Semblante apreensivo, sério, passos hesitantes,
seguia as orientações da Adélia – coordenadora – e do outro coroinha. – Dava
até para imaginar seu coraçãozinho acelerado dentro do peito. Muito atenciosa,
realizou as primeiras tarefas. Concentrada, sentou-se ao lado do sacerdote no
momento da Liturgia da Palavra. A cadeira grande do altar abraçou-lhe o
corpinho miúdo. Os pés ficaram suspensos. Vez ou outra, tocava o chão com a
pontinha dos pés. Não se deixou intimidar e continuou seu trabalho com a mesma
atenção do começo.
Nesse
dia, reparei que a veste – uma roupa antiga, há muito nos armários – estava bem
amarrotada. A sobrepeliz, amarelecida pelo tempo. Mas isso não foi suficiente
para lhe tirar o brilho do olhar nem a sublimidade da missão.
Dias
depois, encontro Isabela novamente na Igreja. Observando-a, ainda notei certo
nervosismo e necessidade de alguém para orientá-la. Porém pude perceber a
alvura de sua sobrepeliz. – Lágrimas vieram-me aos olhos quando as lembranças
me trouxeram meus dois filhos, ainda crianças, servindo no altar do Senhor.
Grande era o prazer que eu tinha ao preparar as vestes: lavar, clarear muito a
sobrepeliz e passar tudo bem passado. Maior ainda a emoção que sentia ao vê-los
juntos no presbitério. – Voltei minha atenção para o momento presente e, depois
da celebração, aproximei-me para elogiar a roupa branquinha. – Mérito da mãe.
Por
várias vezes acompanhei o desenvolvimento dessa menina que foi aprendendo a ter
mais confiança em seus atos. Agora a vejo em situação diferente. Com a mesma
concentração, e ares de gente importante, – embora ainda tenha muito a aprender
– ela ensina o que sabe e orienta a pequena Luiza, que agora é iniciante. Quase
do mesmo tamanho, quase da mesma idade. Observei as duas durante a bênção do
Santíssimo, na quinta-feira. Muito juntinhas, uma se apoiando emocionalmente na
outra, em uma sintonia perfeita. Olhares, sussurros, movimentos sincronizados.
E tudo vai dando certo.
Olho
as duas meninas com muita ternura. Duas crianças. Duas almas puras transmitindo
uma grande lição, ensinando-nos que a vida pode ser bem mais simples. E vem
novamente a voz de Jesus a nos comunicar: "Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como
crianças, jamais entrarão no Reino dos céus.” (Mt 18,3) Por isso, olhemos
para nossas crianças dia 12 de outubro e sempre. Peçamos a Deus proteção para
todos esses pequeninos que fazem a vida mais bela e pura. Peçamos também por
nós, para que possamos enternecer cada vez mais o nosso coração e viver com
mais brandura.
Luisa
Garbazza
Publicado originalmente no jornal "Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho"
Outubro de 2014
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