quinta-feira, 9 de outubro de 2014

“Deixai vir a mim os pequeninos”



Mais uma vez, outubro estampa os calendários. O mês vem recheado de datas importantes e esperadas. Muitos santos são lembrados neste mês. São Francisco de Assis se destaca no início com seu carisma, sua simplicidade, seu amor incondicional a Deus. Mais no final, vem São Judas Tadeu, por tantos invocado. Nos meados do mês, as honras são para Nossa Senhora Aparecida, nossa padroeira. No mesmo dia, também se comemora o Dia das Crianças, que necessita ser lembrado menos por seu valor comercial e mais pelo emocional. Festejar a pureza, a ternura, a alegria sincera. Sentir refletida, nos olhos da criança, a imagem de Deus, que tanto as ama. Lembrar as palavras de Jesus quando disse: “Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas.” (Lc 18,6)
Muito se tem feito para garantir os direitos das crianças e ainda há muito a fazer. Todas merecem ser tratadas com carinho e respeito. Todas devem ser acolhidas, ouvidas e convidadas a participar da vida em família, na escola e na sociedade. Também na Igreja, muitas são as funções próprias das crianças. Enternecedor é vê-las em ação com a singeleza e o encanto próprios. Durante as celebrações, gosto de observá-las no desempenho de suas funções.
 Nos últimos dias, chamou-me à atenção uma menina, coroinha recém-chegada: Isabela. Menina pequena, moreninha, cabelos ondulados – quase sempre, parcialmente presos. Jeito simples, voz baixinha, olhos acanhados, não demonstra os 10 anos que tem. Lembro-me da primeira vez que a vi ajudar na celebração. Semblante apreensivo, sério, passos hesitantes, seguia as orientações da Adélia – coordenadora – e do outro coroinha. – Dava até para imaginar seu coraçãozinho acelerado dentro do peito. Muito atenciosa, realizou as primeiras tarefas. Concentrada, sentou-se ao lado do sacerdote no momento da Liturgia da Palavra. A cadeira grande do altar abraçou-lhe o corpinho miúdo. Os pés ficaram suspensos. Vez ou outra, tocava o chão com a pontinha dos pés. Não se deixou intimidar e continuou seu trabalho com a mesma atenção do começo.
Nesse dia, reparei que a veste – uma roupa antiga, há muito nos armários – estava bem amarrotada. A sobrepeliz, amarelecida pelo tempo. Mas isso não foi suficiente para lhe tirar o brilho do olhar nem a sublimidade da missão.
Dias depois, encontro Isabela novamente na Igreja. Observando-a, ainda notei certo nervosismo e necessidade de alguém para orientá-la. Porém pude perceber a alvura de sua sobrepeliz. – Lágrimas vieram-me aos olhos quando as lembranças me trouxeram meus dois filhos, ainda crianças, servindo no altar do Senhor. Grande era o prazer que eu tinha ao preparar as vestes: lavar, clarear muito a sobrepeliz e passar tudo bem passado. Maior ainda a emoção que sentia ao vê-los juntos no presbitério. – Voltei minha atenção para o momento presente e, depois da celebração, aproximei-me para elogiar a roupa branquinha. – Mérito da mãe.
Por várias vezes acompanhei o desenvolvimento dessa menina que foi aprendendo a ter mais confiança em seus atos. Agora a vejo em situação diferente. Com a mesma concentração, e ares de gente importante, – embora ainda tenha muito a aprender – ela ensina o que sabe e orienta a pequena Luiza, que agora é iniciante. Quase do mesmo tamanho, quase da mesma idade. Observei as duas durante a bênção do Santíssimo, na quinta-feira. Muito juntinhas, uma se apoiando emocionalmente na outra, em uma sintonia perfeita. Olhares, sussurros, movimentos sincronizados. E tudo vai dando certo.
Olho as duas meninas com muita ternura. Duas crianças. Duas almas puras transmitindo uma grande lição, ensinando-nos que a vida pode ser bem mais simples. E vem novamente a voz de Jesus a nos comunicar: "Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus.” (Mt 18,3) Por isso, olhemos para nossas crianças dia 12 de outubro e sempre. Peçamos a Deus proteção para todos esses pequeninos que fazem a vida mais bela e pura. Peçamos também por nós, para que possamos enternecer cada vez mais o nosso coração e viver com mais brandura.
Luisa Garbazza

Publicado originalmente no jornal "Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho"
Outubro de 2014

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