A
vida, constituída de pequenos instantes que se somam dia após dia, às vezes nos
reserva momentos de extrema inquietude. Alguns, conseguimos modificá-los, ou
contorná-los; outros, por mais difíceis que sejam, temos que vivê-los, mesmo
contra nossa vontade. Para nós, cristãos, são os desígnios de Deus, nem sempre
compreendidos. Não é fácil, mas precisamos fazer valer a máxima do “Seja feita
a vossa vontade.”. Foi algo assim que vivi nos últimos dias, quando vi meus planos
mudarem da noite para o dia:
A
Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora está vivendo tempos
áureos: o Processo de Beatificação do Servo de Deus Padre Júlio Maria De
Lombaerde. Padre Júlio Maria foi o fundador da congregação sacramentina. Sacerdote
que veio da Bélgica, homem de fé, devoto de Nossa Senhora, exemplo de força e
de santidade. Por amor a Deus e aos irmãos, cruzou mares e fronteiras para
levar o Evangelho a um grande número de pessoas. Deixou como herança um amor
especial por Maria e a devoção a Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento. Mais
que isso, foi um desbravador: trabalhou, construiu, educou, cuidou, catequizou
e ainda nos deixou muitos ensinamentos por intermédio de seus livros. Merece a
glória dos altares.
Para
a abertura oficial desse processo, foi programado, em meados de 2014, o
Simpósio Julimariano, marcado para os dias 22 a 26 de janeiro de 2015. No
início de novembro de 2014, o simpósio foi divulgado na internet. Desde então,
fui acompanhando as publicações e vendo crescer em mim a vontade de participar
do evento. Mais ainda, quando vi o programa e soube que meu filho, Matheus
Garbazza, seminarista sacramentino, seria o comunicador da oficina sobre “Pe. Júlio
Maria De Lombaerde e a vida paroquial”. Tratei de fazer minha inscrição e
escolhi justamente essa oficina para eu participar.
Continuei
seguindo as atualizações sobre o simpósio: fotos, convites para as
conferências, oficinas sobre o pensamento e a espiritualidade do Servo de Deus,
mesa redonda, com nosso pároco, Padre José Raimundo da Costa, SDN, para
lançamento da revista ‘O Lutador’ e a abertura oficial do processo de
beatificação.
Foi
com o pensamento voltado para esse evento que vivi os últimos dias de 2014 e os
primeiros dias de janeiro. A ansiedade aumentava a cada dia. Na terça-feira,
dia 20, vi meu filho partir rumo a Manhumirim. Despediu-se com um até lá.
Estava pronta para a viagem. Tinha certeza de que seria muito proveitosa. Tudo
combinado e organizado. Entretanto meus sonhos se desmoronaram quando uma forte
indisposição se apossou de mim, na quarta-feira, dia 21. E foi piorando. À
noite, percebi que não poderia viajar. Mesmo assim, não perdi as esperanças.
Rezei e pedi a Deus que me concedesse melhoras. Mas não foi essa a vontade de Deus.
Ao acordar, no dia seguinte, constatei que não daria conta. Senti-me muito
decepcionada: tristeza por ver os planos se dissiparem; coração de mãe apertado
por não estar lá e participar com meu filho; desapontamento por não estar
presente nesse momento ímpar da congregação dos Missionários Sacramentinos.
Somente ao me levantar e cruzar o olhar com a estampa do Sagrado Coração de
Jesus é que percebi o que havia acontecido: essa era a minha vontade; esses, os
meus planos. Os de Deus foram outros. Não consigo entender, mas posso aceitar.
Acompanhei o evento pela internet. Não deixou nada a desejar. Iniciou-se a
jornada pela beatificação do Padre Júlio Maria. Há muito trabalho ainda pela
frente. Agora serão outros os caminhos a serem percorridos para se conseguir
esse objetivo.
São
acontecimentos como esse que nos colocam em nosso devido lugar. Sabemos que, em
nossa passagem pela terra, temos a responsabilidade de fazer o melhor que
pudermos para bem vivermos com nós mesmos e com nossos irmãos. No entanto,
quando as coisas fugirem de nosso controle, deixemos que Deus nos oriente. Não
tenhamos vergonha de pedir ajuda e de abandonarmo-nos nas mãos divinas. E
quando rezarmos, entendamos que Deus está à frente de tudo e digamos com
propriedade e confiança: “Seja feita a vossa vontade assim na terra como no
céu.”
Luisa Garbazza
Crônica publicada no jornal "PARÓQUIA" - fevereiro de 2015
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