Vozes esparsas, vindas da rua,
chegam-lhe aos ouvidos.
A madrugada aproxima-se
mansamente.
A mente, que não para, contraria
o corpo entregue ao cansaço.
A insônia é saudada pelo som agudo
da saracura:
“Três potes! Três potes! Três
potes!”
Canta repetidas vezes... Para...
Retorna...
Intercala sons e silêncios
em intervalos cuidadosamente
ensaiados.
A cabeça entra no ritmo e espera
o próximo acorde.
Vez ou outra é enganada pela
quebra criativa dos sons:
“Três potes! Três potes! Pote,
pote, pote, pote!”
A mente reprograma e aguarda as
novas notas.
aproveita para analisar seus
próprios dramas.
Fecha os olhos, aperta, priva-os da ausência de luz: nada consegue.
Abre-os novamente, vira e revira
na cama:
o sono não vem.
A saracura exibe seus trinados
mais uma vez.
Um reflexo, ainda ofuscado, entra
pela fresta da cortina.
Reconhece a presença morna que
vem se aproximando.
Abandona a luta vã:
salta da cama e aproxima-se da
janela.
As trevas estão abandonando a
rua.
A saracura, depois do plantão noturno,
recolhe-se ao seu sossego.
A realidade não deixa por menos:
agora é o corpo que não para,
contrariando a mente entregue ao
cansaço.
O novo dia, que chega
reivindicando seus direitos,
saúda o sol que explode no
horizonte.
Luisa
Garbazza
Madrugada de 15 de novembro de 2014
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