Quando terminei de
desfilar, olhei para o alto da rua, ainda cheia de pessoas e cores, mas, já
cansada pelas horas de espera sob o sol quente, desisto de permanecer no local
e desço de volta para casa.
Ao abandonar a rua
principal, já distante dos sons típicos de desfile cívico-militar, percebo a
diferença nos ares. Entro na Rua Palmital – onde fica minha residência. A rua é
ampla e comprida. Do alto, vejo bem toda a sua extensão. Não é uma rua muito movimentada;
está, no entanto, mais erma ainda. Nenhum movimento, ninguém nas ruas, ausência
total de sons.
Em um instante de
loucura, dirijo-me ao centro da pista, marcado com traços amarelos. Uma sensação
de liberdade se apodera de minha mente. O vento ajuda com suas lufadas, leves –
de boas-vindas –, depois fortes – incentivando minha “loucura”. Como se me
ajudasse na brincadeira, dava-me asas, levantando-me os cabelos e propiciando
momentos de leveza, de amplitude, de êxtase.
Continuei minha
caminhada, pisando levemente o asfalto com as pontas dos pés, como se fosse
levantar voo a qualquer momento. A rua continuava completamente vazia. O silêncio,
quebrado apenas pelo ruído das folhas sendo levadas pelo vento, ou pelo latido
de algum cão, invadia tudo, reinava absoluto, dando a mim a sensação de que
estava sozinha no mundo. Olhava ao longe e ninguém havia para quebrar aquele
encantamento. Os passos agora, tal qual os de uma dançarina, eram delicados, vagarosos
e cadenciados. O coração, que sabe responder prontamente a cada emoção, estava
em festa: inquieto, enchia o peito e sorria como criança. O rosto, feliz, também se iluminou. E por
alguns instantes, era somente eu, numa valsa embalada pela doce brisa.
Desci toda a rua
nesse ritmo agradável e único. Às vezes, por precaução, olhava para trás para
certificar-me de que o trânsito estava mesmo ausente, ou se alguém me olhava
com ares de censura. Tarefa necessária, mas inútil. Nada, nem ninguém, veio
atrapalhar meu devaneio nesta manhã fria de domingo.
Mais próximo de casa,
afastei-me do meio da rua e aproximei-me da calçada. Atitude sensata, pois havia
um entroncamento, apesar de a outra rua também se encontrar deserta. Antes de
entrar, dei uma última olhada para o alto da rua. Ainda conservava sua
liberdade. Poderia servir de palco para outras façanhas de algum coração pleno
de vida.
Luisa Garbazza
Manhã de domingo - 1º de junho de 2014
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