É surpreendente observar as maravilhas que nos cercam.
Belezas de toda a espécie adornam e encantam: cores, formas, movimentos, tudo para agradar, seduzir, arrebatar.
As convenções atuam nos olhos, nas escolhas, nos gostos. O bonito passa a ser o aceito pela sociedade. Então valorizamos mais a estética que os sentimentos.
É bonito ser magra, ou magro, seguir os ditames da moda, acompanhar as tendências de tudo e para tudo. Uma roupa que se usa sem passar pelos testes da modernidade é motivo para discriminações ou olhares enviesados.
É lindo o amor “imortal enquanto dura”, esse que se encaixa em todas as convenções. Que seja jovem, belo, bem de vida, tolerante.
É belo o novo, o atual, o ágil. Perdeu essas qualidades, são descartáveis. Inclusive as pessoas. Beleza e elegância passaram a ser fundamentais. São ótimas enquanto podem produzir, atuar, gastar, enfeitar os salões e passarelas. Tudo pela aparência. Depois disso, muita gente torna-se invisível.
Mas quando a aurora da vida vai ficando para trás, mudam-se os valores e encontram-se belezas distintas e divinas.
E essa formosura sutil e verdadeira se espalha.
Outro olhar agora contempla a roseira. O olhar que antes se detinha nos botões entreabertos e de cores vivas, agora consegue pousar nas flores envelhecidas, frágeis, desbotadas pelo sol. Aquela rosa mais pálida, com as pétalas penduradas, ainda conserva a vida, a graça e o orgulho de enfeitar meu jardim. Receberá muito cuidado e as honrarias de gratidão.
Com as pessoas, então, o prisma é ainda mais apurado.
Quando se tem uma mãe amada, já velha e cansada, a dirigir-nos um sorriso, ali se encerra toda a beleza do mundo. Ao ver aqueles olhos, que por pouco estão cerrados, a vida toma outra dimensão. Ali está todo o encanto da vida. Um corpo gasto pelas penúrias da vida, doação total aos filhos, sentindo o desgaste de tantas provações, tanto peso carregado, tanto esforço. Por isso, a despeito de qualquer marca, é tão formoso.
Belas são aquelas mãos que tanto acariciaram, acalentaram, serviram. Hoje quase não se mexem. Movimentos limitados e morosos.
Belos são os cabelos prateados que adornam a cabeça e escondem tantos pensamentos que hoje se misturam e confundem-se entre as lembranças vividas e as imaginadas.
Bela e suave é a voz que sai, tênue e rouca, de seus lábios para dizer – minha filha.
Profundamente belo é o amor que emana em todo o meu ser, transborda e enche-me de gratidão sincera e eterna.
Para sempre e sempre – minha mãe.
Luisa Garbazza
5 de junho de 2014
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