quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A menina em mim

                Ano de 2013. Outubro se adianta. Nas redes sociais a brincadeira é postar fotos da infância em homenagem ao dia das crianças que se aproxima. Fiquei muitos dias curtindo aquelas fotos, todas com uma beleza em comum: a inocência. Resolvi entrar na brincadeira. Demorei um pouco para encontrar essa foto – a mais antiga que possuo. Já estava com dez anos. Postei assim mesmo. Como diz o poeta: “Pra gente ser feliz, tem que mergulhar na própria fantasia”.
                Surpresa com o carinho dos amigos – mais de uma centena curtindo e comentando carinhosamente – decidi olhar com mais atenção a menina daquela foto. Foi como se voltasse no tempo e me deparasse com um mundo muito diferente.
Perdida em meus pensamentos, dei-me conta do quanto aquele cenário estava fora da minha realidade. Talvez por isso tenha me encantado tanto. Esse arranjo, enorme, enfeitando a mesa, por exemplo. Em minha casa, as flores ficavam apenas no jardim. Havia apenas uma pequena mesa em casa. E muitas crianças para estudar. Não sobrava espaço para flores. As cortinas? Tão dispensáveis em janelas de madeira! O telefone era algo muito distante. Nunca havia nem tocado um antes. Além dos livros sobre a mesa – nessa época não havia nem um livro em casa – e o ursinho enfeitando a cortina.
O coração se derreteu olhando aquela pequena menina. Lembro-me do cabelo, ondulado e muito rebelde, difícil de pentear, ficava sempre preso em uma comprida trança. O corpinho magro, vestido com o uniforme velho e um pouco amarrotado, com muitos consertos, detalhes que não se tornaram visíveis na foto. Os braços finos, colados ao corpo, e as mãos inseguras sem saber ao certo como agir sugerindo  uma timidez sem limites. O rosto  revela um semblante sereno, um olhar quase triste, um esboço de sorriso num misto de espanto, curiosidade e alegria. Meus olhos se enchem de água ao analisar aquela face singela, tão conhecida e o aperto no peito é muito doído quando se dá conta da distância que nos separa.
A memória não quis se aquietar, deixou-se voltar no tempo e trouxe os dias de então. Fui uma criança muito feliz! Vivi muitas aventuras por lugares incríveis oferecidos pela mãe natureza. As coisas mais simples era motivo de grandes emoções. Hoje tenho consciência de como a vida era difícil naquela época. Sei todas as necessidades que tivemos de suportar. Mas aquela menininha da fotografia não sabia nada disso.  Para ela, a vida era encantada. Cada minuto era vivido com intensidade. Não tinha percepção das diferenças sociais. Na pobreza em que vivia não lhe faltava nada. Como no momento dessa imagem em que se sentiu alguém muito, muito importante.
O presente se impõe. A foto volta a ser apenas a lembrança de uma época venturosa que será lembrada para sempre. Tomara consiga resgatar essa maneira ingênua, pura, leve de lidar com os percalços da vida. No coração ficará continuamente uma ternura enorme por essa criança que continua viva em mim.
 Luisa Garbazza
10 de outubro de 2013

Agradecimento a todos os amigos que curtiram minha foto motivando-me a escrever essa crônica.

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