Certas
emoções me sensibilizam consideravelmente. Sobretudo quando envolve
relacionamento entre mãe e filhos. Daí vêm as alegrias mais intensas, mas
também as dores mais amargas. O esforço que se faz necessário para criar um
filho e o amor a ele dispensado é imensurável e por mais que os outros
reconheçam, nunca será devidamente compreendido, nem há recompensa à altura. Merece
gratidão eterna.
No
último final de semana, presenciei um momento entre mãe e filha que me deixou
incomodada. Domingo à noite, estava auxiliando em barraquinhas beneficentes em
frente à Igreja Matriz, no centro da cidade - vendas de caldos e canjica. Havia
uma movimentação constante no local e, embora às vezes diminuísse bastante,
sempre aparecia alguém querendo apreciar as guloseimas.
Após
a missa, muitas pessoas foram se aglomerando no local e a animação foi maior
ainda. Transformou-se em um momento de confraternização, de conversa amiga, de
brincadeiras, que foi se estendendo noite a dentro. No vaivém das pessoas, nos
encontros, nos abraços, ia fortalecendo os laços de amor fraterno tão divulgado
no cristianismo. Colocar-se a serviço foi uma experiência tão gratificante que
nem percebi o cansaço chegar.
Após
muita andança, meus pés pediram arrego. Afastei-me um pouco e sentei-me na
beirada de um canteiro de rosas, ao lado de um casal conhecido. Pessoas de uma
simplicidade tamanha, dessas que amolecem o coração. Ali não importa beleza,
riqueza ou aparência; precisa apenas de um sorriso nos lábios e um pouco de boa
vontade. Tudo o mais se torna supérfluo. A mulher humilde se agiganta e me trás
à memória uma frase de Jesus: “Felizes os puros de coração, porque verão a
Deus.” Em sua singeleza, em seus trajes humildes, em sua fala despreocupada,
foi o que senti – alguém puro de coração.
Poucos
minutos de conversa e vejo aproximar duas mocinhas. Pude perceber que era a
filha dessa senhora e a amiga dela. Chegou, sem dar muita importância, com
certa reserva. O pai logo foi comprar cachorro-quente para agradá-la. A mãe,
toda preocupada, perguntando coisas, querendo saber novidades. Porém, por mais
que se esforçasse, só recebia monossílabos. Em dado momento ela tirou do bolso
uma sacolinha plástica com algumas balas e com carinho entregou à filha. “Guardei
pro cê.” Não consegui assimilar o comportamento da garota. Ela abriu a sacola,
e reclamou ao ver seu conteúdo. “Só isso?” A mãe, sem jeito: “Eu dei uma prum
menino, ele deixou a bala cair e tive que dar outra.” A menina, em um gesto até
brusco, jogou a sacolinha no colo da mãe, que continuava sentada na borda do
canteiro, e deu-lhe as costas. Sem nenhuma reação negativa, dirigiu-se a mim:
“A gente guarda as balinhas com tanto carinho. Olha o que ela faz!” Percebi uma
pontinha de decepção naquela fala, fiquei muito sem graça com a situação e respondi
para que ela não se preocupasse com aquilo. Mas sei que foram palavras vazias,
sem nenhum efeito. Nem eu me convenci do que havia falado. Como não se
preocupar? Mães assim vivem em prol do filho e querem agradá-lo sempre, vê-lo
sorrindo, de bem com a vida. O contrário
é sempre motivo de desapontamento.
A
mãe ainda tentou se comunicar com a filha sem muito sucesso. Em instantes o pai
chegou com o cachorro-quente e eles se afastaram para ir embora. Na despedida
ainda pude olhá-la nos olhos e constatar que não havia sobrado nem uma sombra. Em
seu coração, ingênuo talvez, não há lugar para mágoa nem tristeza. Saiu feliz,
ao lado do marido e da filha, como se fossem as pessoas mais importantes da
terra.
Em
mim ficou uma ternura muito grande por aquela mulher tão simples, tão generosa.
Pessoas assim, aparentemente tão humildes, possuem sabedoria suficiente para
serem felizes com tão pouco e têm tanto a nos ensinar. É a história dos lírios
do campo, tão verdadeira e que temos tanta dificuldade em assimilar. Aos poucos
vou aprendendo a ver, em pequenos episódios que se apresentam diante de meus
olhos, lições de vida, de gratuidade, de doação sem limite, que traduzem a
essência da vida.
Luisa
Garbazza
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