domingo, 22 de outubro de 2017

No palco do infinito

Tarde quente.
Calor e secura o tempo maltrata, afeta as pessoas.
Subitamente...
uma aragem,
uma brisa fresca,
uma nuvem que sobe.
O vento ajuda:
muitas nuvens deslizam num céu de chumbo.
Da minha janela:
rajadas embalam os galhos da mangueira;
os frutos maduros despencam em queda livre;
os ouvidos assimilam a melodia das folhas,
leves, numerosas,
bailando de cá, de lá,
enroscando-se nos galhos.
Enfeitando o céu, surgem as maritacas,
em bando, barulhentas, atrapalhadas.
Em revoada, enchem o palco do infinito,
voam, fazem acrobacias, vão e vem,
voam baixo, alto, seguem para o lado,
desavisadas, sem defesa,
como que levadas pelo vento.
Então param,
refugiadas entre os galhos.
Nuvens espessas, escuras,
fecham o tempo, anunciam a tempestade.
Inesperadamente...
As maritacas recomeçam o voo,
voltam,
recolhem-se na mangueira.
Depois alçam voos mais altos, mais distantes,
e se calam.
As nuvens se aquietam.
O vento silencia.
O azul começa a se mostrar outra vez.
Foi-se a esperança.

A chuva ainda não chegou.

Luisa Garbazza
22/10/2017

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