segunda-feira, 4 de abril de 2016

Povo que reza

Em toda a história do povo de Deus, encontramos passagens que relatam os momentos de encontro com o Criador através da oração. Muitas vezes, os líderes e profetas subiam até o alto dos montes para se sentirem mais próximos do Senhor e escutar sua voz, conforme fez Moisés e Abraão.
Também Jesus nutria o costume de subir ao alto da montanha para rezar e dirigir ao povo seus ensinamentos. Outras vezes, retirava-se para um lugar isolado e direcionava ao Pai suas súplicas. Com Jesus aprendemos a força da oração. Foi Ele mesmo quem nos disse que “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. (Mateus 18:20). Ou, “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho”. (João 14:13). E ainda, “Pedi, e vos será concedido; buscai, e encontrareis; batei, e a porta será aberta para vós”. (Mateus 7:7).
Hoje temos os templos, erguidos em honra a Deus e aos santos, que nos acolhem para os momentos de oração. Em nossa paróquia, além dos momentos celebrativos, a igreja permanece aberta, durante todo o dia, para receber os cristãos, de todos os cantos da cidade, que sobem as escadas, como se subissem o monte para ficar mais perto de Deus, e aqui vêm fazer suas orações. Jesus está ali, no sacrário, dia e noite, “esperando que cheguem as almas ansiosas, ferventes, para o visitar”.
A procura é tanta que, durante todo o dia, todos os dias da semana, a igreja nunca fica completamente vazia. É interessante observar o vai e vem que marca a presença da Igreja viva, formada pelos filhos e filhas de Deus. De vez em quando, aproveito a oportunidade para observar, de forma mais sistemática, a presença das pessoas na Igreja Matriz.
Há os que passam apressadamente: quase que atravessam apenas de uma porta a outra, com uma paradinha de alguns segundos para cumprimentar Jesus. E os que se sentam no último banco e olham de longe, cientes de que dali também serão ouvidos.
Há aqueles que se aproximam do altar, levantam os braços, abaixam a cabeça e deixam que fale o coração. Alguns caminham até a frente, sobem os degraus para alcançar o presbitério, aproximam-se do sacrário e ali, diante do Santíssimo Sacramento, ajoelham-se em oração.
Houve um rapaz, jovem ainda, que entrou, andou vagarosamente até o altar, subiu os degraus e, em atitude de entrega, prostrou-se literalmente diante do sacrário, com a testa encostada no chão e os braços estendidos. Permaneceu assim, silencioso e inerte, por alguns minutos. Depois levantou-se e seguiu seu caminho.
Entrou em seguida uma menina – quinze anos talvez – e ajoelhou-se em um dos bancos, mais à frente. Em instantes, a oração ficou mais visível. A impressão que se tinha é de que ela estava em outra dimensão, tamanha sua concentração: rezava movimentando os lábios, batia as mãos no peito, depois as juntava em preces, elevava as mãos postas, balançava a cabeça positivamente, depois se aquietava. Repetiu esses gestos algumas vezes e, parecendo convicta da eficácia de sua oração, retirou-se sem pressa.
Havia várias pessoas rezando, quando entrou um senhor. Seguindo em silêncio, ajoelhou-se no primeiro banco, elevou os braços – e com certeza a mente e o coração – e começou a rezar em alta voz. As pessoas dirigiram-lhe o olhar, sem fazer alarde. Ele continuou, sem se intimidar – ou até mesmo sem perceber. Com sua voz clara e fervorosa, rezou todo o terço mariano. Terminada sua oração, inclinou-se piedosamente e levantou-se, retirando-se do lugar sagrado.
Naquele instante, também me retirei. Não sem antes fazer minhas orações e pedir a misericórdia de Deus para esse povo que sofre, que reza, implora, bate no peito, suplica, verbaliza suas orações e sai dali com a alma aliviada. Cada um leva consigo a certeza de que não está sozinho e pode contar sempre com a presença de um Deus que é Pai, rico em misericórdia e perdão.
Aos poucos vamos aprendendo que o sofrimento é sempre um bem para a alma e a oração é a maior arma que temos para atravessar as intempéries da vida sem perder a fé e a confiança em Deus.  
 Luisa Garbazza

Publicação do Jornal Paróquia N. S. do Bom Despacho
Abril de 2016 

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