Em toda a história do povo de Deus, encontramos passagens
que relatam os momentos de encontro com o Criador através da oração. Muitas
vezes, os líderes e profetas subiam até o alto dos montes para se sentirem mais
próximos do Senhor e escutar sua voz, conforme fez Moisés e Abraão.
Hoje temos os templos, erguidos em honra a Deus e aos
santos, que nos acolhem para os momentos de oração. Em nossa paróquia, além dos
momentos celebrativos, a igreja permanece aberta, durante todo o dia, para
receber os cristãos, de todos os cantos da cidade, que sobem as escadas, como
se subissem o monte para ficar mais perto de Deus, e aqui vêm fazer suas orações.
Jesus está ali, no sacrário, dia e noite, “esperando
que cheguem as almas ansiosas, ferventes, para o visitar”.
A procura é tanta que, durante todo o dia, todos os dias da
semana, a igreja nunca fica completamente vazia. É interessante observar o vai
e vem que marca a presença da Igreja viva, formada pelos filhos e filhas de
Deus. De vez em quando, aproveito a oportunidade para observar, de forma mais
sistemática, a presença das pessoas na Igreja Matriz.
Há os que passam apressadamente: quase que atravessam
apenas de uma porta a outra, com uma paradinha de alguns segundos para
cumprimentar Jesus. E os que se sentam no último banco e olham de longe,
cientes de que dali também serão ouvidos.
Há aqueles que se aproximam do altar, levantam os braços,
abaixam a cabeça e deixam que fale o coração. Alguns caminham até a frente,
sobem os degraus para alcançar o presbitério, aproximam-se do sacrário e ali,
diante do Santíssimo Sacramento, ajoelham-se em oração.
Houve um rapaz, jovem ainda, que entrou, andou
vagarosamente até o altar, subiu os degraus e, em atitude de entrega,
prostrou-se literalmente diante do sacrário, com a testa encostada no chão e os
braços estendidos. Permaneceu assim, silencioso e inerte, por alguns minutos.
Depois levantou-se e seguiu seu caminho.
Entrou em seguida uma menina – quinze anos talvez – e
ajoelhou-se em um dos bancos, mais à frente. Em instantes, a oração ficou mais
visível. A impressão que se tinha é de que ela estava em outra dimensão,
tamanha sua concentração: rezava movimentando os lábios, batia as mãos no
peito, depois as juntava em preces, elevava as mãos postas, balançava a cabeça
positivamente, depois se aquietava. Repetiu esses gestos algumas vezes e,
parecendo convicta da eficácia de sua oração, retirou-se sem pressa.
Havia várias pessoas rezando, quando entrou um senhor.
Seguindo em silêncio, ajoelhou-se no primeiro banco, elevou os braços – e com
certeza a mente e o coração – e começou a rezar em alta voz. As pessoas
dirigiram-lhe o olhar, sem fazer alarde. Ele continuou, sem se intimidar – ou
até mesmo sem perceber. Com sua voz clara e fervorosa, rezou todo o terço
mariano. Terminada sua oração, inclinou-se piedosamente e levantou-se,
retirando-se do lugar sagrado.
Naquele instante, também me retirei. Não sem antes fazer
minhas orações e pedir a misericórdia de Deus para esse povo que sofre, que
reza, implora, bate no peito, suplica, verbaliza suas orações e sai dali com a
alma aliviada. Cada um leva consigo a certeza de que não está sozinho e pode
contar sempre com a presença de um Deus que é Pai, rico em misericórdia e
perdão.
Aos poucos vamos aprendendo que o sofrimento é sempre um
bem para a alma e a oração é a maior arma que temos para atravessar as
intempéries da vida sem perder a fé e a confiança em Deus.
Luisa Garbazza
Publicação do Jornal Paróquia N. S. do Bom Despacho
Abril de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário