terça-feira, 2 de junho de 2015

“Fazer da vida uma oblação”

Nós, seres humanos, frágeis e limitados, passamos pela vida – Tão efêmera! – enfrentando as intempéries inevitáveis que o dia a dia se encarrega de trazer até nós. A vida é muito incerta. Nunca estamos totalmente preparados para ultrapassar as barreiras, nem estamos livres delas. Vamos aprendendo, aos poucos, com força de vontade e confiança em Deus, vivendo um dia de cada vez, colocando-nos nas mãos do Todo-Poderoso.
Muitas vezes a vida nos impõe desafios difíceis de serem superados. De um dia para outro, vemos desmoronar tudo que construímos – seja de concreto, seja em sonhos para o futuro. Hoje estamos bem, amanhã temos de enfrentar uma doença grave, nossa ou de algum familiar; um dia nos saímos bem financeiramente, outro dia passamos por crises desanimadoras; esperançosos, concluímos um curso e não conseguimos avanços profissionais; estamos felizes ao lado de alguém e Deus vem ceifar a vida de quem mais amamos. Nesses momentos de aflição, nossa e dos irmãos, às vezes nos desesperamos e não sabemos mais como continuar. Durante o processo de perda, seja ele qual for, é normal passarmos por um período de desolação, afinal somos seres humanos. Somos vulneráveis, física e emocionalmente, carregados de sentimentos e sensibilidade. Mas também somos dotados de uma grande força espiritual e de fé em Deus. Somos, por isso, capazes de nos reerguer das quedas inevitáveis de nossa existência.
Como motivação para a vida, nesse sentido, vem uma frase, de que gosto muito, do escritor e palestrante brasileiro Carlos Hilsdorf: “Não podemos escolher o que a vida vai colocar à nossa frente. Mas podemos escolher como agir diante do que ela nos apresenta.” Quanto mais penso nessa frase, mais me convenço de que seu autor tem razão. Por mais dura que tenha sido a provação, de nada adianta nos ausentarmos do mundo ou nos revoltarmos com a vida. Passados os momentos de tristeza, em que é comum nos sentirmos desamparados, precisamos acreditar na misericórdia divina, renascer, tentar outros caminhos. A vida não para nem espera ninguém. Nós somos responsáveis por nossa caminhada. Muitas vezes não é fácil, mas é urgente sairmos do estado de prostração, do sentimento de autopiedade e mudar o rumo da vida.
Exemplo concreto dessa superação, observo durante a missa do domingo, na Igreja Matriz: A igreja cheia de fiéis, mas sempre cabe mais um cristão que vem buscar, na palavra de Deus, o alento para a semana. Vejo entrando um casal com uma menininha ao lado. – Uns cinco anos, talvez. – O esposo, com semblante tranquilo, empurra devagar sua própria cadeira de rodas, posicionando-a, mais à frente, onde consiga ver o altar. A esposa, que vejo sempre sorrindo, vem logo atrás, senta-se em um banco próximo ou fica em pé. A menina, netinha do casal, acompanha-os e fica por ali, ora ao lado da avó, ora ao lado do avô. Em certo momento, a menina se aproxima do avô e sobe, ternamente, em seu colo. Acolhida e abraçada por ele, permanece ali, naquele aconchego, recebendo o carinho que buscara. Cena emocionante e tão afetuosa que nos revela a presença de Deus.
Acho que todos ali os conhecem: São carinhosamente chamados de Luisinho e Ritinha. E a neta Isabela. Esse casal passou por momentos difíceis, de provações, tristezas, desânimos. Mas, com certeza, os dois souberam como agir diante da situação que a vida colocou à sua frente. Com força e fé, ultrapassaram as barreiras, colocaram-se no colo de Deus e continuam a caminhada, firmes e confiantes. É isso que Deus espera de nós: que, a despeito de qualquer barreira que possa surgir em nosso caminho, depositemos toda nossa confiança em suas mãos misericordiosas, façamos da vida uma oblação e sigamos rumo ao seu reino.

Luisa Garbazza

Publicação do Informativo Igreja Viva
Paróquia N. S. do Rosário
Junho de 2015.

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