Os dias que antecedem
o Natal vêm acompanhados de instantes especiais. São momentos em que
abandonamos a correria do dia a dia e nos reunimos para uma reunião festiva,
alegre, a fim de nos relacionarmos de maneira mais informal. Ali o destaque é
para o ser humano puro e simples, sem rótulos nem hierarquias. Todos formando
uma só família, em que o convidado especial é Jesus, que quer nascer em cada
coração. Participei de um momento assim na última sexta-feira.
O ambiente estava
muito acolhedor. Logo na entrada, a árvore iluminada chamava à atenção. À
direita, a cena era outra: uma mesa, toda enfeitada: flores vermelhas, um bolo
bem branquinho e um pequeno presépio, simples, como devem ser os presépios,
pois estão representando aquela família simples e humilde que marcou sua época,
encantou todas as gerações desses dois milênios e continua nos seduzindo. No
salão todo, mesas espalhadas e gente feliz.
Depois
de um momento de espiritualidade, começou a festa da entrega dos presentes de
amigo-oculto, que causa tanta alegria e algazarra. Uns chamam pelo nome, outros
falam das qualidades e características da pessoa, ainda as características ao
contrário. Seguem a maratona para descobrir o contemplado e as palmas. A
descoberta do presente e os agradecimentos. Tudo com muito respeito e tranquilidade.
Sentada bem atrás,
longe do local da troca dos presentes, minha atenção era desviada a todo
momento. Perto da porta, ao lado da mãe – penso eu, pois não a conhecia –, uma
garotinha de uns três anos mais ou menos. Muito inquieta, andava de um lado
para outro, cantava, pulava, fazia a sua festa particular. Tinha a pele morena
e os cabelos crespos, divididos em mechas e presos no alto da cabeça. Seus
olhos negros, muito vivos, contrastavam com o vestido branco de bolinhas
vermelhas que usava. Uma fita vermelha realçava sua cintura completando o
visual infantil, tão lindo. – Impossível não me lembrar da historinha da “Bonequinha
preta”, que ouvi de minha mãe, contei muitas vezes para meus alunos, para meus
filhos e pela qual tenho tanto carinho até hoje. – Tão feliz fiquei com a cena,
que sorri algumas vezes para ela e para sua mãe, mas acho que nem perceberam.
Continuei dividida entre a festa e seu balé no fundo da sala.
Quando terminou, no
entanto, a entrega dos presentes, a animadora da festa chamou-nos para perto da
mesa, a fim de cantar parabéns para o aniversariante e partir o bolo. Foi então
que a menininha afastou-se da mãe e, com toda sua inocência, postou-se perto do
bolo e dele não desgrudou os olhos. Ficou ali, estática, esperando o momento
mágico de vê-lo sendo cortado e repartido. A moça cortou então o bolo. Ela
acompanhou com os olhos. Não era seu ainda. Olhei aqueles olhos fixos e fiquei
imaginando o coraçãozinho, como devia estar aflito. Toda angústia deve ter
cessado ao receber o “seu” pedaço de bolo. Um pedaço grande, na mão tão
pequenina daquela menina. Ela foi rapidamente para onde estava a mãe, que a
conduziu até a mesa. O pedaço de bolo foi ali colocado. Depois flagrei nossa
personagem em um movimento contínuo em que passava o dedinho delicadamente para
retirar o glacê da cobertura do bolo e levá-lo à boca.
A festa continuou com
muita alegria. Não pude permanecer por muito mais tempo. Saí deixando o salão
ainda cheio de convidados. Antes, porém, aproximei-me daquela “bonequinha” para
saber seu nome. “Maria Cecília.” – disse um pouco enrolado. A mãe confirmou.
Mas o que valeu e comoveu-me o coração, foi a ternura que recebi da menininha.
Agachei-me e ela se aproximou de mim e deu-me um abraço tão doce e inocente!
Não resisti e dei-lhe um beijinho no rosto. Imitando-me ela retribuiu, dando-me
um beijo todo melado de glacê. Mas quem se importa, se o que prevalece é o
calor que aquece o coração e a inocência presente naquele encontro?
Luisa Garbazza
19 de dezembro de 2014
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