sábado, 20 de dezembro de 2014

Inocência





Os dias que antecedem o Natal vêm acompanhados de instantes especiais. São momentos em que abandonamos a correria do dia a dia e nos reunimos para uma reunião festiva, alegre, a fim de nos relacionarmos de maneira mais informal. Ali o destaque é para o ser humano puro e simples, sem rótulos nem hierarquias. Todos formando uma só família, em que o convidado especial é Jesus, que quer nascer em cada coração. Participei de um momento assim na última sexta-feira.
O ambiente estava muito acolhedor. Logo na entrada, a árvore iluminada chamava à atenção. À direita, a cena era outra: uma mesa, toda enfeitada: flores vermelhas, um bolo bem branquinho e um pequeno presépio, simples, como devem ser os presépios, pois estão representando aquela família simples e humilde que marcou sua época, encantou todas as gerações desses dois milênios e continua nos seduzindo. No salão todo, mesas espalhadas e gente feliz.
         Depois de um momento de espiritualidade, começou a festa da entrega dos presentes de amigo-oculto, que causa tanta alegria e algazarra. Uns chamam pelo nome, outros falam das qualidades e características da pessoa, ainda as características ao contrário. Seguem a maratona para descobrir o contemplado e as palmas. A descoberta do presente e os agradecimentos. Tudo com muito respeito e tranquilidade.
Sentada bem atrás, longe do local da troca dos presentes, minha atenção era desviada a todo momento. Perto da porta, ao lado da mãe – penso eu, pois não a conhecia –, uma garotinha de uns três anos mais ou menos. Muito inquieta, andava de um lado para outro, cantava, pulava, fazia a sua festa particular. Tinha a pele morena e os cabelos crespos, divididos em mechas e presos no alto da cabeça. Seus olhos negros, muito vivos, contrastavam com o vestido branco de bolinhas vermelhas que usava. Uma fita vermelha realçava sua cintura completando o visual infantil, tão lindo. – Impossível não me lembrar da historinha da “Bonequinha preta”, que ouvi de minha mãe, contei muitas vezes para meus alunos, para meus filhos e pela qual tenho tanto carinho até hoje. – Tão feliz fiquei com a cena, que sorri algumas vezes para ela e para sua mãe, mas acho que nem perceberam. Continuei dividida entre a festa e seu balé no fundo da sala.
Quando terminou, no entanto, a entrega dos presentes, a animadora da festa chamou-nos para perto da mesa, a fim de cantar parabéns para o aniversariante e partir o bolo. Foi então que a menininha afastou-se da mãe e, com toda sua inocência, postou-se perto do bolo e dele não desgrudou os olhos. Ficou ali, estática, esperando o momento mágico de vê-lo sendo cortado e repartido. A moça cortou então o bolo. Ela acompanhou com os olhos. Não era seu ainda. Olhei aqueles olhos fixos e fiquei imaginando o coraçãozinho, como devia estar aflito. Toda angústia deve ter cessado ao receber o “seu” pedaço de bolo. Um pedaço grande, na mão tão pequenina daquela menina. Ela foi rapidamente para onde estava a mãe, que a conduziu até a mesa. O pedaço de bolo foi ali colocado. Depois flagrei nossa personagem em um movimento contínuo em que passava o dedinho delicadamente para retirar o glacê da cobertura do bolo e levá-lo à boca.
A festa continuou com muita alegria. Não pude permanecer por muito mais tempo. Saí deixando o salão ainda cheio de convidados. Antes, porém, aproximei-me daquela “bonequinha” para saber seu nome. “Maria Cecília.” – disse um pouco enrolado. A mãe confirmou. Mas o que valeu e comoveu-me o coração, foi a ternura que recebi da menininha. Agachei-me e ela se aproximou de mim e deu-me um abraço tão doce e inocente! Não resisti e dei-lhe um beijinho no rosto. Imitando-me ela retribuiu, dando-me um beijo todo melado de glacê. Mas quem se importa, se o que prevalece é o calor que aquece o coração e a inocência presente naquele encontro?
Luisa Garbazza
19 de dezembro de 2014








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