sábado, 6 de setembro de 2014

Diante do altar





“Aqui do meu lugar, eu olho o seu altar e fico a imaginar...”
Como é gratificante fazer uma pausa na correria do dia a dia, esquecer-se de tantas coisas – algumas até desnecessárias – que povoam nossa mente, para nos colocar diante do altar do Senhor. Aqui, cônscios da presença real do Corpo de Cristo no Sacrário, sentimo-nos tão perto de Deus! Nessa proximidade, e na certeza de estarmos sendo ouvidos, torna-se fácil abrir o coração e explicitar nossos medos e nossos anseios mais profundos.
A experiência de se colocar diante do altar é enriquecedora. Vale cada minuto. Seja durante a Celebração Eucarística, seja de joelho dobrado diante do Santíssimo exposto ou durante o dia, quando reservamos um pouco do nosso tempo para nos colocar em atitude de contemplação e adoração.
É diante do altar do Senhor que melhor expomos nossas misérias. Não digo misérias materiais, já que perante Deus somos todos iguais. Falo das misérias existenciais, da carência humana, da dor de não se encontrar em meio ao caos do mundo – dito evoluído. É tanta modernidade, são tantos meios para facilitar a vida, que nos perdemos, e, muitas vezes, temos dificuldade em encontrar os autênticos caminhos da caminhada cristã.
Aqui, no silêncio do templo, contemplando o altar sagrado, a alma fica irrequieta, deixa-se elevar diante de Deus e reza. São momentos de extrema conexão com o Pai. Oportunidade para abrir o livro da existência e apresentar a Deus aspirações, queixas e súplicas.
Os pais se prostram para colocar diante do altar os filhos que Deus lhes confiou. Agradecer pelo comportamento de um filho, pedir auxílio para saber conduzir o outro, pedir perdão pelas vezes que não foi suficientemente firme, que não agiu no momento oportuno ou por ter se esquecido dos momentos de ternura, tão necessários ao crescimento do ser humano.
Nesse mesmo lugar, vimos os filhos, principalmente os jovens, em posição de humildade, apresentando a Deus seus pedidos. Difícil posição a dos jovens de hoje, que veem os valores cristãos serem bombardeados por todos os lados. Não é fácil ser jovem e seguir Jesus em um mundo, tão dominado pelos valores pagãos, onde reina o egoísmo e a busca por prazeres cada vez mais efêmeros e corações cada vez mais vazios. Somente aqui o jovem encontrará a força necessária para preencher-se de Deus e enfrentar o mundo sem desanimar.
Com os olhos no altar, pensamos nas desigualdades que assolam um mundo que deixou em segundo plano – ou terceiro – o mandamento do amor. Pensamos nas guerras que destroem milhares e apresentam rostos desfigurados e suplicantes. Tudo o que querem é viver em paz e são colocados como alvo dos poderosos nesta luta desumana pelo poder a qualquer custo. Não há como ficar indiferente a tanta covardia, tanta disputa, tanto sangue derramado. É no altar do Senhor que depositamos todas as pessoas que estão sofrendo os horrores da guerra. E também os que a provocam, para que sejam tocados pelo Espírito de Deus e tenham um coração manso e humilde como sempre pedimos a Jesus.
No silêncio deste lugar, deixamos o coração à larga e almejamos ouvir a voz do Senhor a clarear nossas ideias, a mostrar os melhores caminhos, a acender em nós o desejo de continuar sua missão. Quando Deus nos fala, através das palavras do Evangelho, precisamos nos concentrar para buscar nas entrelinhas qual recado Ele nos quer dar. E isso acontece também, ante esse altar.
Com os olhos no altar, pedimos a Deus que aumente a nossa fé. Queremos nos afastar daqui fortalecidos pelas graças de Deus. Queremos ter a certeza de que nada vai nos separar daquele que se doou por nós todos. Nada vai abalar nossa crença em um Criador que é Pai, Filho e Espírito Santo. E essa certeza, só o próprio Deus pode nos conceder, um pouco a cada dia, todos os dias, sempre.
É daqui deste lugar, perante o Deus do amor, que sairemos com a alma mais leve e o coração ardendo pela presença do fogo do Espírito. Daqui iremos a outros lugares, dispostos a propagar o que vivenciamos e a lutar pela paz tão utopicamente pregada e ainda pouco vivida. Missão difícil, mas, se vivermos no dia a dia o que aprendemos, serviremos de exemplo para muitos e levaremos adiante o projeto do Pai.
Luisa Garbazza 
Texto publicado originalmente no jornal da Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho 
no mês de setembro de 2014

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