Bom despacho,
como várias cidades de seu porte, cresce a cada dia. Chegou a universidade – tão
sonhada por todos –, aumentou o número de habitantes, de veículos, de
comércios. Presenciamos a expansão geográfica que acontece rapidamente e não conseguimos
acompanhar de perto. Às vezes não sabemos mais que rua é essa ou onde fica
aquele bairro. E nem tudo acontece de
forma positiva.
Pagamos
um alto preço pelo progresso, que veio acompanhado da violência. O ônus mais
alto e negativo desse processo de crescimento são as drogas, disseminadas por
toda parte. As consequências são cruéis, dolorosas, penosas. Estamos sempre nos
solidarizando com as famílias marcadas por alguma tragédia provocada por essa
inimiga implacável.
Por outro
lado, entre tantos atos de agressão ao direito do semelhante, convivemos com
outra ameaça ao sossego de nossas famílias: o desaparecimento de pessoas. De vez
em quando, ouvimos o nome de alguém que saiu de casa e ninguém mais teve
notícias. Uns permanecem na incógnita, outros são encontrados mortos,
brutalmente assassinados, comovendo a cidade inteira.
Inspirado
pela tristeza e pela revolta ao presenciar atos de crueldade tamanha, um grupo idealizou e mobilizou a população para uma chamada de consciência a todos os
bom-despachenses: A primeira caminhada pela paz.
Sábado,
dois de março de dois mil e treze. Às nove horas da manhã iniciou a aglomeração
em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Despacho no centro da cidade.
Começou timidamente por causa da chuva fina que teimava em participar daquele
grito silencioso por dias melhores. Aos poucos foram aumentando o número dos
que não queriam cruzar os braços diante de atos tão indignos do ser humano. Faixas
e balões brancos representavam a paz que também estava presente no branco das
camisas da maioria. A emoção foi maior quando foram chegando os familiares do
Flávio Luciano, jovem e querido cidadão, vítima recente da atrocidade de
pessoas desumanas, indiferentes ao sofrimento do próximo.
Às dez
horas, após uma oração e breve apresentação dos objetivos da caminhada, saímos
pelas ruas, sem alarde, sem pressa, apenas sugerindo o valor de cada um de nós,
filhos de Deus, e o direito que temos de viver com dignidade. No meio do
percurso, a chuva reforçou a ideia de que devemos nos limpar de todo ódio, de
todo desejo de vingança e sermos mais mansos, mais humildes e lutar pela
justiça e pela serenidade.
No final
da caminhada, a emoção tomou conta de todos. No momento em que rezamos juntos,
de mãos dadas e fizemos um minuto de silêncio, o significado desse gesto ficou
mais evidente e muitos não conseguiram segurar as lágrimas. A salva de palmas
quando os balões brancos subiram aos céus levando nossas preces selou o desejo
de cada coração ali presente: Que a paz e a justiça se estendam sobre nossa
amada Bom Despacho.
Tomara
que esse gesto possa dar muitos frutos. Tomara possamos presenciar, aos poucos,
uma tomada de consciência de toda a cidade – poderes públicos, profissionais da
educação, pais, mães, filhos – em especial os jovens – policiais, religiosos,
formando uma só corrente do bem. E quando pararmos para repetir esse momento,
que haja a participação da maioria e o motivo não seja tão calamitoso.
Luisa
Garbazza
Dois
de março de 2013.
Essa crônica é dedicada ao meu ex-aluno Flávio Assis Luciano e à sua família.
Essa crônica é dedicada ao meu ex-aluno Flávio Assis Luciano e à sua família.
Obrigada, Luisa Garbazza por seu registro tão vivo desse ato tão simples quanto grandioso: Caminhada pela PAZ!
ResponderExcluirDE Curitiba,como filha de Bom Despacho,acompanho com carinho nossa caminhada!
Abraço fraterno!
Obrigada, Maria L!
ResponderExcluirSou totalmente pela paz e não poderia desperdiçar a emoção de um momento como esse.
Abraço fraterno para você também.