Curioso
e intrigante é ver como convivemos com o tempo. Muitos o têm como amigo e outro
tanto, quase como inimigo. Alguns são escravos, outros o tratam com
indiferença. Há ainda os que querem o tempo sempre a seu favor. Assim, no dia a
dia em que vai se dissipando nossa existência, transparece, pelo menos em algum
momento da vida, certa insatisfação a respeito do tempo.
Em
cada fase da vida o tempo tem um valor peculiar. É a infância com seu encanto
próprio, horas que passam lentamente, sem indagações, como magia. É a fase da
adolescência e da juventude, quando o tempo nunca é suficiente para fazer tudo
que almeja. São os adultos aproveitando cada ocasião para colocar as coisas em
seus devidos lugares. E a velhice, época em que se tem a impressão de que o tempo
parou. Contudo, na adolescência e juventude a sucessão das horas é mais
questionada. Trava-se uma luta severa contra esse inimigo invisível que teima
em contrariar as vontades, enganar as previsões, trair os decretos. Tudo nessa
fase é urgente. O amanhã é agora. Depois, é tarde demais.
Um
detalhe que me chama à atenção é o modo como os jovens lidam com o tempo.
Principalmente com os dias da semana. Ninguém gosta da segunda-feira. Os dias
da semana se arrastam numa lentidão enorme deixando todos ansiosos. A
sexta-feira é comemorada com palmas, fogos e folguedos. O final de semana passa
rápido demais, domingo à tarde já é o fim do mundo. E a segunda retorna - mal
amada, triste, pesadona. Parece até que tem culpa de algum infortúnio que possa
acontecer, ou não acontecer, na vida de alguém. E quando o final de semana
passa e não acontece nada de extraordinário? Ou acontece algo negativo
desmoronando algum sonho? Aí, a espera pelo próximo fica ainda mais penosa. A
segunda será mais desprezada e cada hora é contada com aflição à espera de uma
nova oportunidade.
Nesse
sentido, faz-se necessário uma reflexão sobre tempo e vida. A vida é o nosso
dom mais precioso e o tempo deve ser nosso aliado na arte de bem vivê-la. Saber
viver bem é valorizar cada dia como único. Valorizar cada hora do dia sem
querer que ele se esvazie rapidamente para um novo amanhecer. Agir
conscientemente, apreciando cada tarefa, tenha a dimensão que tiver. Desde um
sorriso dado, até o ofício mais complexo, cada ato faz parte do momento de agora
e deve ser realizado com alegria e esmero.
Outro
ponto que merece destaque é a rotina. Essa nossa companheira deve ser amada
também, por que não? Nossos dias passam rápido, cada um com uma movimentação
diferente. Não temos novidades, festas, encontros, baladas, trabalhos,
companhias todos os dias. Nem temos resistência para tanto. Necessitamos de
períodos de descanso para relaxar o corpo e a mente, para pensarmos sobre
nossos atos, para programar o futuro.
A
rotina é indispensável para nossa existência e precisamos aprender a gostar
dela. E principalmente gostar do que fazemos. Se hoje é segunda ou terça-feira
e estamos sobrecarregados de tarefas, façamos uma a uma, com a cabeça erguida e
a certeza de que aquele momento é único em nossa vida. Seja o trabalho mais
ínfimo, mas que seja realizado com amor para nos proporcionar o prazer do dever
cumprido e nos deixar com a consciência tranquila. Percebemos isso até na
Igreja, quando organiza o calendário litúrgico. Vivenciamos as grandes festas,
como Natal, Quaresma, Páscoa e Corpus Christie, mas a rotina aparece nos
Domingos do Tempo Comum.
Na
passagem exclusiva da vida, quem não gosta da rotina é porque ainda não
aprendeu a gostar de si mesmo. A rotina incomoda os que têm dificuldade de
conviver consigo mesmo e precisa ter sempre alguém ou algo novo para preencher
o vazio deixado pela falta de amor próprio. Enquanto buscarmos nossa realização
pessoal em outras pessoas e em outras coisas, de preferência novas a cada dia,
a rotina vai ser um fardo por demais pesado e dará trabalho para carregar. Nisso,
também, a Igreja nos ajuda. Temos, no domingo, a oportunidade de participarmos
da Santa Missa, momento oportuno para recebermos as graças necessárias para bem
vivermos a semana vindoura. Assim sendo, quando percebermos que a alegria vem
da graça de Deus e está dentro de nós, enfrentaremos com mais tranquilidade as
vicissitudes da vida, cada dia terá seu encanto e seremos muito mais
felizes.
Luisa
Garbazza
Fevereiro de 2013.
Versão publicada no Jornal Paróquia
Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho em março de 2013.
Fevereiro de 2013.
Versão publicada no Jornal Paróquia
Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho em março de 2013.
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