Durante
o mês de agosto, a natureza se reserva.
Simplesmente adormece para restaurar suas forças e aguardar o momento de
despertar mais admirável e encantadora. Uma aridez seca domina a paisagem dos campos,
das praças, dos jardins, insinuando uma completa desolação. Muitas espécies
passam pela poda tradicional – retirada de pequenos galhos e de partes já sem
vida – para se fortalecerem, vestirem seus trajes de gala e se apresentarem com
mais graça.
Amante
da natureza que sou, o jardim em frente a casa é imprescindível. Nesta manhã,
logo que o sol nos presenteou com seus primeiros raios, adiantei-me na
prazerosa tarefa de regar as plantas. A grama, que mantém seu manto verde a
despeito da falta de chuva e umidade, recebe a água fresca e agradece com sua
aparência vívida. Observo que cada planta reage de forma diferente durante o
sono da mãe. Quando chega a vez da roseira, recém podada para reabastecer as
forças, procuro sinais de vida nova. Nada. É preciso dar tempo ao tempo. Mas,
vejam só! Lá embaixo, bem próximo à grama, em um galhinho tão fino que não foi
cortado por um descuido a vida começa a renascer. O primeiro broto da roseira.
Nasceu naquele galho mais frágil, imperceptível aos olhares menos minuciosos.
Está ali, mostrando sua capacidade e sua vontade de voltar à vida.
Em
minha mente, naquele instante, brotou outro pensamento. A natureza é mãe e ali
está ela nos ensinando mais uma lição. Na vida também é assim. Por vezes
costumamos descartar certas pessoas em nossos convívios sociais – trabalho,
escola, igreja, comunidade – por entender que não são inteligentes, que não
gostam de ajudar ou que sejam frágeis demais. Ficam isoladas, sentindo-se
inúteis ou incapazes, esquecidas em um canto qualquer. Porém, quando surge uma oportunidade,
somos surpreendidos constatando sua competência. São pessoas reservadas,
aparentemente alheias, mas que possuem habilidade e disposição para ajudar a
todos.
Outras
vezes, essa lição se ajusta a nós mesmos, ou a alguns momentos de nossa vida.
Quantas vezes as vicissitudes da vida nos tira o brilho dos olhos e uma névoa
cinzenta e fria cobre-nos o caminho nos impedindo de subir os degraus da
existência. Quantas vezes o sorriso que exibimos se restringe aos lábios,
escondendo um coração apertado, sem saber como reagir, que caminho escolher,
que solução poderia haver para nossas dificuldades. Sentimo-nos como um galho
podado, buscando em vão recuperar nossas forças e esperando pela primavera que
nunca chega. Então, sem nos darmos conta, a luz surge bem longe e vai se
aproximando timidamente, vai dissipando o nevoeiro, clareando-nos os
pensamentos e ajudando-nos a reencontrar o caminho certo. Assim como aquele
primeiro brotinho da roseira, vencemos os obstáculos, retornamos à subida
degrau por degrau e conseguimos voltar a sorrir por inteiro.
Podemos
ter certeza de que, “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos”,
haveremos de encontrar a roseira toda florida, revestida de tamanha beleza que
prende nossos olhares embevecidos. Por muito tempo vai nos brindar com formosos
botões que assim amanhecem e vão se abrindo lentamente sob os raios e o calor
do sol.
Assim
também na vida. Quando conseguimos driblar os entraves que nos impedem de
progredir, sentimo-nos preparados para viver com mais intensidade. Voltamos a acreditar no sonho de viver a vida
em plenitude, pois, como disse o poeta: "Viver por um projeto, uma causa,
uma missão, um ideal ou mesmo uma utopia é o que imprime sentido à vida."
Luisa
Garbazza
08 de agosto de 2012
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