quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Renascer sempre


Durante o mês de agosto, a natureza se reserva.  Simplesmente adormece para restaurar suas forças e aguardar o momento de despertar mais admirável e encantadora. Uma aridez seca domina a paisagem dos campos, das praças, dos jardins, insinuando uma completa desolação. Muitas espécies passam pela poda tradicional – retirada de pequenos galhos e de partes já sem vida – para se fortalecerem, vestirem seus trajes de gala e se apresentarem com mais graça.
Amante da natureza que sou, o jardim em frente a casa é imprescindível. Nesta manhã, logo que o sol nos presenteou com seus primeiros raios, adiantei-me na prazerosa tarefa de regar as plantas. A grama, que mantém seu manto verde a despeito da falta de chuva e umidade, recebe a água fresca e agradece com sua aparência vívida. Observo que cada planta reage de forma diferente durante o sono da mãe. Quando chega a vez da roseira, recém podada para reabastecer as forças, procuro sinais de vida nova. Nada. É preciso dar tempo ao tempo. Mas, vejam só! Lá embaixo, bem próximo à grama, em um galhinho tão fino que não foi cortado por um descuido a vida começa a renascer. O primeiro broto da roseira. Nasceu naquele galho mais frágil, imperceptível aos olhares menos minuciosos. Está ali, mostrando sua capacidade e sua vontade de voltar à vida.
Em minha mente, naquele instante, brotou outro pensamento. A natureza é mãe e ali está ela nos ensinando mais uma lição. Na vida também é assim. Por vezes costumamos descartar certas pessoas em nossos convívios sociais – trabalho, escola, igreja, comunidade – por entender que não são inteligentes, que não gostam de ajudar ou que sejam frágeis demais. Ficam isoladas, sentindo-se inúteis ou incapazes, esquecidas em um canto qualquer. Porém, quando surge uma oportunidade, somos surpreendidos constatando sua competência. São pessoas reservadas, aparentemente alheias, mas que possuem habilidade e disposição para ajudar a todos.
Outras vezes, essa lição se ajusta a nós mesmos, ou a alguns momentos de nossa vida. Quantas vezes as vicissitudes da vida nos tira o brilho dos olhos e uma névoa cinzenta e fria cobre-nos o caminho nos impedindo de subir os degraus da existência. Quantas vezes o sorriso que exibimos se restringe aos lábios, escondendo um coração apertado, sem saber como reagir, que caminho escolher, que solução poderia haver para nossas dificuldades. Sentimo-nos como um galho podado, buscando em vão recuperar nossas forças e esperando pela primavera que nunca chega. Então, sem nos darmos conta, a luz surge bem longe e vai se aproximando timidamente, vai dissipando o nevoeiro, clareando-nos os pensamentos e ajudando-nos a reencontrar o caminho certo. Assim como aquele primeiro brotinho da roseira, vencemos os obstáculos, retornamos à subida degrau por degrau e conseguimos voltar a sorrir por inteiro.        
Podemos ter certeza de que, “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos”, haveremos de encontrar a roseira toda florida, revestida de tamanha beleza que prende nossos olhares embevecidos. Por muito tempo vai nos brindar com formosos botões que assim amanhecem e vão se abrindo lentamente sob os raios e o calor do sol.
Assim também na vida. Quando conseguimos driblar os entraves que nos impedem de progredir, sentimo-nos preparados para viver com mais intensidade.  Voltamos a acreditar no sonho de viver a vida em plenitude, pois, como disse o poeta: "Viver por um projeto, uma causa, uma missão, um ideal ou mesmo uma utopia é o que imprime sentido à vida." 

Luisa Garbazza
 08 de agosto de 2012

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