sexta-feira, 10 de agosto de 2012

“Missionário que veio de longe”



Na história da humanidade, é grande o número de pessoas que atenderam ao chamado de Deus. Ouviram a voz divina e a colocaram em prática mesmo sem entender seus objetivos. São exemplos de pertença e entrega total ao Criador de todas as coisas. É Abraão preparando o sacrifício de seu filho Isaac; Salomão com sua sede de sabedoria; Maria com seu sim – “Eis aqui a serva do Senhor!”; os discípulos que largaram tudo para propagar a boa-nova de Jesus; São Paulo, que se converteu em plena perseguição aos cristãos; e tantos outros que entregaram até a própria vida para que os ensinamentos divinos prevalecessem entre os homens.
Essa missão de semear a luz divina entre os povos e propor um modelo de vida mais humano e fraterno fez e ainda faz parte da vida de muitas pessoas que se entregam parcial ou integralmente a serviço do reino de Deus aqui na terra. "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me". (Mateus – 19,21) Para muitos, esse é o único caminho capaz de preencher as lacunas causadas pelo anseio de Deus.
Foi esse o exemplo que nos deixou o saudoso padre Júlio Maria De Lombaerde, “missionário que veio de longe” e fundou, entre tantos outros, a Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, cujo carisma, nós bom-despachenses, conhecemos tão bem.
Júlio Emílio – seu nome de batismo – nasceu na aldeia de Beveren, na Bélgica, dia 7 de janeiro de 1878. Era filho de José de Lombaerde e Sidônia Steelant. Antes de concluir seus estudos, sentiu o chamado de Jesus: “Vem e segue-me.” Foi atraído pela vida missionária e serviu a Deus na África, na Holanda, França e Brasil. Escolheu a vida religiosa consagrada e com muito entusiasmo viveu em comunidade obedecendo aos votos de pobreza, obediência e castidade.
Sacerdote do ‘‘Amor Sacrifício’’, padre Júlio Maria, nome que ele mesmo adotou por amor a Maria, foi transferido para o Brasil em 1912. Não conhecia o Brasil nem a língua portuguesa, mas obedeceu confiando inteiramente em Deus e em Nossa Senhora e não mediu esforços para bem cumprir sua grande missão de anunciar o Evangelho de Cristo através de Maria e da Eucaristia.
Começou seu trabalho missionário em Macapá (1913) com um povo carente em todos os aspectos. Não bastava evangelizar. Ele, que viera “salvar almas”, não só rezava muito, celebrava missa e dava catecismo para crianças, jovens e adultos, mas também cuidava da saúde, da instrução e da alimentação daquele povo tornando-se amigo de todos. “Desse modo, ele era o médico, o farmacêutico, o mestre-escola, o amigo e pai dos pobres, o encanto das criancinhas.”
Ali fundou a Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria – irmãs que cuidavam da educação e formação geral das crianças abandonadas. A urgência daquele povo sofrido falou mais alto, porém a ousadia de criar uma congregação sem aprovação prévia da Santa Sé lhe causou enorme sofrimento. E quanto mais padecia, mais crescia a adoração a Jesus sacramentado, o espírito de oração e o amor ao sacrifício.
Do norte do Brasil, seguiu para o sul de Minas para concretizar um sonho: fundar uma Congregação masculina de padres e missionários. Conseguiu, após muita luta e paciência, concluir seus planos, em Manhumirim – MG, aonde chegou dia 24 de março de 1928. Deixou como herança na cidade a Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora – que ainda em seu tempo se expandiu para outras terras, inclusive em Bom Despacho; a Congregação das Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora; o jornal O Lutador; o Patronato Santa Maria (para acolhimento dos órfãos); o Seminário Apostólico; e outros.
Foram trinta e quatro anos de trabalho missionário em nosso país. A semente foi lançada. O semeador partiu para junto do Pai. Faleceu em um trágico acidente de carro, dia 24 de dezembro de 1944, pronunciando as palavras: “Meu Deus, meu Deus! Nossa Senhora do Carmo! Meu Deus!” Por tudo que viveu, fez e ensinou, “É bem pouco pra ti sepultura / Necessário se faz um altar”. “O Pe. Júlio Maria De Lombaerde, foi, sem dúvidas, um santo que marcou o seu tempo. Foi um homem profundamente entusiasmado com o que fazia. Aspirava com todas as forças do seu coração salvar as pessoas para Cristo, atraindo-as aos pés de Jesus Eucarístico pela materna intercessão de Maria Santíssima, a quem chamava e ensinava a chamar de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento.”
Hoje, cem anos depois de sua chegada ao Brasil, data que está sendo comemorada com o devido merecimento, o Ideal Julimariano ainda contagia muitos cristãos. Neste “momento de glória”, relembramos e reavivamos a chama deixada por esse missionário arrebatado pela Eucaristia e enlevado pela Virgem Maria. Assim, pela coragem em transpor continentes e barreiras; pela determinação em difundir o amor a Jesus e Maria; pelo trabalho incansável servindo de exemplo a ser seguido; pela fé na providência divina; pela vida de sacrifícios, de pobreza, desapego e humildade; e por seu coração tão generoso, “o nome do Padre Júlio Maria, há de ser, para sempre, relembrado na história”.  

Luisa Garbazza
Julho de 2012 
Crônica originalmente publicada no jornal "Paróquia" 
 Paróquia N. S. Do Bom Despacho

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