Às vezes, apesar da agitação em que vivemos, a
vida nos impõe, em algumas circunstâncias, pequenas pausas, instantes de vida
que se concretizam no ócio – inevitável e criativo.
Em um momento assim, vivido no Terminal Rodoviário
de Belo Horizonte, senti-me esvaziando a mente para deixá-la absorver o que
acontecia à minha volta. Enquanto aguardava meu embarque, a vida seguia em suas
diferenças, em seus inexplicáveis contrastes:
a pressa de quem não quer perder o ônibus;
a morosidade dos que ainda têm tempo de sobra
e, de braços cruzados, caminham de um lado para outro, despercebidos;
as mãos dadas dos casais enamorados, para os
quais não há limites de tempo ou espaço;
o casal de velhinhos, tão simpáticos, que,
surpreendentemente, se despedem, bem à minha frente, com um beijo na boca e um
abraço;
a criança que alça voo, correndo, sentindo-se
livre, mas que se desespera ao se dar conta de que estava só;
a demonstração de saudade da adolescente que
corre e se atira nos braços do namorado;
o casal de surdo-mudo que se desentende e tenta
ajustar as contas: gesticulam, nervosos, demonstrando impaciência, como se os
sinais fossem insuficientes para traduzir o que queriam dizer um ao outro;
a diversidade de pessoas e de roupas,
adereços, bolsas e malas, muitas malas,
que ajudam a compor o cenário humano que movimenta o lugar;
os vigilantes, guardas, serviço de limpeza,
zelando pela organização e segurança dos transeuntes;
e as vozes, muitas vozes: das pessoas entre
si, nos guichês das empresas de ônibus, as irritantes e intermináveis conversas
aos celulares e a incansável voz do serviço de som anunciando os próximos
embarques e outras falas de interesse público.
A vida impõe suas condições; nossas escolhas
nos fazem enfrentá-las. Seguimos em frente. Para cada dia, sua dose de trabalho,
alegria, tristeza, agito... e espera.
Assim, com a mente emprestada, observando a
vida que fluía à minha volta, nem senti o tempo passar. Minha pausa terminara. Outros
lugares me esperam agora.
Luisa Garbazza
Manhã de 6 de maio de 2017
Enquanto esperava meu filho Matheus para
seguirmos até o aeroporto, rumo a São Paulo
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