sábado, 20 de maio de 2017

Instantes

Às vezes, apesar da agitação em que vivemos, a vida nos impõe, em algumas circunstâncias, pequenas pausas, instantes de vida que se concretizam no ócio – inevitável e criativo.
Em um momento assim, vivido no Terminal Rodoviário de Belo Horizonte, senti-me esvaziando a mente para deixá-la absorver o que acontecia à minha volta. Enquanto aguardava meu embarque, a vida seguia em suas diferenças, em seus inexplicáveis contrastes:
a pressa de quem não quer perder o ônibus;
a morosidade dos que ainda têm tempo de sobra e, de braços cruzados, caminham de um lado para outro, despercebidos;
as mãos dadas dos casais enamorados, para os quais não há limites de tempo ou espaço;
o casal de velhinhos, tão simpáticos, que, surpreendentemente, se despedem, bem à minha frente, com um beijo na boca e um abraço;
a criança que alça voo, correndo, sentindo-se livre, mas que se desespera ao se dar conta de que estava só;
a demonstração de saudade da adolescente que corre e se atira nos braços do namorado;
o casal de surdo-mudo que se desentende e tenta ajustar as contas: gesticulam, nervosos, demonstrando impaciência, como se os sinais fossem insuficientes para traduzir o que queriam dizer um ao outro;
a diversidade de pessoas e de roupas, adereços, bolsas e  malas, muitas malas, que ajudam a compor o cenário humano que movimenta o lugar;
os vigilantes, guardas, serviço de limpeza, zelando pela organização e segurança dos transeuntes;
e as vozes, muitas vozes: das pessoas entre si, nos guichês das empresas de ônibus, as irritantes e intermináveis conversas aos celulares e a incansável voz do serviço de som anunciando os próximos embarques e outras falas de interesse público.
A vida impõe suas condições; nossas escolhas nos fazem enfrentá-las. Seguimos em frente. Para cada dia, sua dose de trabalho, alegria, tristeza, agito... e espera.
Assim, com a mente emprestada, observando a vida que fluía à minha volta, nem senti o tempo passar. Minha pausa terminara. Outros lugares me esperam agora.

Luisa Garbazza

Manhã de 6 de maio de 2017
Enquanto esperava meu filho Matheus para seguirmos até o aeroporto, rumo a São Paulo

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