Crônica de viagem
A vida, tão efêmera e tão cheia de surpresas, é um
constante aprendizado. Cada dia é uma experiência nova: uma alegria, uma
tristeza, um sonho, um encontro, um desencontro... Vamos vivendo,
experimentando e aprendendo. Para cada aprendizado, desde a mais tenra idade,
sempre tem uma primeira vez: primeira roupa que usou, primeiro dente que
nasceu, primeiros passos, primeiro dia na escola, primeiro namorado, primeiro
beijo, primeiro filho... E, como dizia uma antiga propaganda, que acabou
virando clichê, “O primeiro sutiã a gente nunca esquece”. A primeira vez serve
sempre como aprendizado e deixa sua marca, feliz ou negativa, daquilo que se
viveu.
No último final de semana, vivi uma sensação
indescritível com uma primeira vez: voar. O objetivo era participar de um
evento literário: lançamento de uma antologia poética da qual faço parte. Nos
dias que antecediam a viagem, fiz de tudo para não me concentrar no voo, para
evitar a ansiedade. Curiosamente, foi uma tarefa bem fácil. Tudo pronto, na
tarde do dia 6 de maio, rumei para o aeroporto, em companhia de meu filho
Matheus. Para ele, acostumado a viajar, uma viagem normal, mas para mim tudo era
novidade. Já havia visitado o Aeroporto da Pampulha, no século passado, mas em
nada se compara ao aeroporto de Confins. Acompanhava os passos largos do
Matheus procurando demonstrar a maior naturalidade possível. Para falar a
verdade, não fiquei nervosa, com medo ou qualquer outro sentimento negativo.
Estava, sim, ansiosa para viver aquela experiência.
Primeira vez no aeroporto, tudo era novidade: a
imensa extensão do lugar; o check-in – feito pelo Matheus no terminal
eletrônico –; a passagem pelo raio x; o burburinho constante entrecortado por
falas em outros idiomas; a grande caminhada para o acesso ao portão de embarque
número 26; o túnel para a entrada no avião. Tudo certo. Depois foi só
identificar o assento, ajeitar a bagagem e aguardar a partida.
Primeira vez dentro de um avião, ouvi a tripulação
dar os cumprimentos e os avisos necessários para um voo tranquilo. Então senti
a aeronave se locomover, bem devagarinho, por uma grande extensão. A
expectativa foi aumentando. Quando o comandante nos comunicou que estava prestes
a decolar, aumentando a velocidade, e os motores emitiram um som
característico, senti-me suspensa no ar. E a mágica aconteceu sem que eu
percebesse: quando olhei pela janela – confesso que a primeira vez causou-me um
pouco de vertigem – o avião já estava no ar e a cidade foi ficando para trás.
O tempo estava nublado. Então, em instantes, minhas
vistas não mais divisaram a terra lá embaixo. Pelo contrário, e para minha
surpresa e alegria, ao olhar pela janela, deparei-me com um imenso colchão de
nuvens brancas que flutuavam logo abaixo do avião. Um sentimento indescritível
dominou-me. Sentia-me extasiada com tudo aquilo. Pena que não tinha como
dividi-lo com alguém, pois estávamos em assentos separados. Olhei para o lado,
para trás, para frente. Acostumados com a situação, ninguém parecia notar o que
estava acontecendo. Então me concentrei novamente em minha janela. As nuvens
haviam ficado para trás. Agora as vistas divisavam, bem lá embaixo, sem muita
nitidez, as matas, as cidades e o curso das águas. Apesar do sol que entrava
por minha janela – as outras estavam quase todas fechadas – fiquei o tempo todo
observando o que havia lá fora. Confesso que fiquei até com dores no pescoço.
Mas valeu a pena! O momento da aterrissagem chegou mais rápido do que eu
esperava: o comandante avisou e logo avistei a grande São Paulo frente aos meus
olhos, também pela primeira vez.
A estada na cidade foi relâmpago. Um olhar pela
janela do hotel confirmava a selva de pedras em que nos encontrávamos. Dia 7, o
evento, durante uma boa parte do dia, e, à noitinha, já estávamos nos aprontando
para o retorno.
O voo de volta foi ainda mais lindo. As luzes, lá
embaixo, hipnotizaram-me. Fiquei novamente com os olhos grudados na janelinha
observando o formato de cada cidade, cada lugarejo, vila ou arraial que exibiam
suas luzes.
Na viagem de volta a Bom Despacho, ainda em êxtase
provocado por tal experiência, confesso que, por duas vezes, surpreendi-me aproximando-me
da janela do ônibus e olhando para baixo.
Luisa Garbazza
9 de maio de 2017
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