sábado, 10 de dezembro de 2016

Gente que vem, gente que vai



Viver é um mistério.
A vida, efêmera como é, encarrega-se de ir descortinando, à nossa volta, os quadros que farão parte da galeria de nossa existência. Nem sempre eles se apresentam como perfeitas obras de arte. Às vezes trazem borrões, sombras, partes ocultas; às vezes, aparecem cenas inacabadas. Muitas vezes, entretanto, a aquarela da vida nos brinda com cores vivas e belas imagens que nos proporcionam alegria e paz, nos impulsionam e nos dão força e equilíbrio na caminhada do dia a dia.
Nesses trilhos da vida, sejam cheios de luzes e cores ou ofuscados pelas sombras, nunca estamos sós: são muitos os que acompanham nosso viver. Uns nos acompanham a vida toda; outros, por um longo tempo. Alguns ficam por pouco tempo; outros, por algumas horas, instantes talvez. E nós também estamos sempre cruzando os passos de outras pessoas. A vida vai determinando o tempo e o lugar para cada encontro: cada chegada, cada partida.
No entanto não é o tempo de convivência que determina a força da presença de alguém em nossa vida, e sim as circunstâncias, o modo de agir, os acontecimentos. Há os que estão por perto a vida toda e nem se aproximam de fato. Há os que andam de mãos dadas conosco em certos percursos da caminhada. E há, ainda, aqueles tão especiais que algumas horas são suficientes para se tornarem inesquecíveis.
Em uma dessas idas e vindas da vida, ela nos trouxe uma pessoa muito especial. Alguém que aqui veio há uns seis anos, com jeito desconfiado e ares de “o que eu estou fazendo aqui”.  Alguém que chegou com certo receio do desconhecido, mas trouxe à sua frente a fé e a marca da presença de Nosso Senhor Jesus Cristo: Padre Mundinho. Parecia um pouco distante, mas, passado “o susto”, concentrou-se em sua missão e, com responsabilidade, determinação e muito trabalho, tornou-se um pároco prestativo, popular e respeitado. 
Durante esses seis anos, Padre Mundinho foi conduzindo o povo, fortalecendo as comunidades, fazendo amizades, criando laços. Agora chega a vida – com suas voltas que nem sempre são fáceis de absorver – traçando um novo quadro: outros caminhos, outras cores, novas paisagens. Quando contemplamos a nova realidade imposta pela vida, percebemos a ausência de algumas pessoas e notamos outras que sequer imaginávamos. Nessa reviravolta, encontramos novamente o Padre Mundinho. É dele a silhueta que falta nessa nova paisagem. É dele a ausência sentida. O barco da vida veio e chamou-o para navegar em outras águas. E permanece ali, ancorado, lembrando que o dia da partida – já marcado e sabido de todos – se aproxima, seja o tempo favorável ou não.
Ainda bem que temos esse tempo de espera. Assim podemos ir nos acostumando com a ideia. Podemos aproveitar os últimos dias para demonstrar afeto, amizade, carinho. Temos tempo para dizer-lhe o quanto lamentamos sua partida. Dizer-lhe que sua presença – que começou um pouco apagada, tal e qual a maioria dos começos – ganhou força, brilhou, tornou-se fundamental entre nós. Temos tempo para falar da segurança que sentimos em sua companhia, da confiança e do reconhecimento por tantos projetos realizados em prol da paróquia. Tempo ainda para dizer do coração apertado, para desejar-lhe uma partida serena e uma estada feliz. Que o barco da vida possa levá-lo para águas serenas e férteis na fé e no acolhimento. Que sua presença possa transmitir luz e cor naquela paisagem.
Padre Mundinho, obrigada pela confiança e pelo privilégio de trabalhar com o senhor durante todo o seu ministério aqui, na Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho. Foi um tempo de muito trabalho, mas de muita alegria. Que Deus o abençoe em sua nova missão. Quem sabe um dia a vida nos pinte uma bela aquarela e, entre as paisagens sugeridas para os próximos anos, possamos enxergá-lo novamente nessas paragens!?!
Luisa Garbazza
Publicação do jornal "Paróquia N. S. do Bom Despacho"
Dezembro de 2016

Homenagem ao pároco Pe. Mundinho.





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