Falar
da dor do outro é fácil. Demonstrar solidariedade, levar um abraço, uma palavra
amiga, fazer-se presente. Tudo relativamente simples. A dor do outro não pode
ser medida, avaliada, sentida. Pode-se até, em poucos segundos, transformar o
sofrimento alheio em poesia, palavras bonitas que emocionam e tocam o coração.
Mesmo assim, a dor continua incompreendida em sua plenitude. Por mais que
tentemos nos colocar no lugar da outra pessoa, imaginar-lhe o sofrimento e
procurar amenizá-lo com palavras de conforto, não conseguimos abstrair o que
realmente está acontecendo na alma alheia. Mas quando a dor é nossa, tudo é
diferente.
Quando
é nossa, a dor é sentida, experimentada, sofrida, pesada. Chega devagarzinho e,
ao percebermos, já se instalou em nosso coração. É um sentimento incompreensível.
Descrever em palavras o rosto das feridas da alma é algo completamente
impossível. Nesses momentos, só nós mesmos somos capazes de perceber a dimensão
da dor que perpassa nosso ser. Se existissem olhos capazes de enxergar o nosso
interior, com certeza veriam o retrato desfigurado do infortúnio humano.
Em
momentos de dor, sentimo-nos as pessoas mais miseráveis. Não conseguimos
compreender, em sua totalidade, até onde somos capazes de suportar tamanha
desventura. O rosto, mesmo transfigurado pelo sofrimento, não retrata fielmente
os estragos que foram feitos por dentro. Nem as lágrimas, por mais abundantes
que sejam, conseguem alcançar a tristeza que trazemos no peito. A fisionomia,
carregada de desgosto, é o sinal de que a dor é quase insuportável.
Em
recente situação de luto, pude perceber na pele o quão difícil é convivermos
com a própria dor. Mesmo com toda a formação religiosa e com a certeza da
ressurreição, esses momentos de extrema consternação são inevitáveis. A alma se
torna frágil demais. Os pensamentos são alterados – quase todos são arrebatados
para o passado – e revivem as lembranças, lamentando as oportunidades perdidas,
projetando o vazio da vida pós-perda. Por vários momentos, perdemos até a
capacidade de rezar. Qualquer palavra dirigida a Deus é motivo para aumentar
ainda mais o peso da dor. O vazio que sentimos no peito se transforma em nova
cascata de lágrimas que nos turva os olhos, inunda o rosto e abafa a voz.
Entretanto,
não estamos sozinhos. Deus, em sua suprema sabedoria e bondade, coloca pessoas
ao nosso lado, alguém para nos acompanhar e suprir nossas deficiências nessas
ocasiões de aflição. Foi o que aconteceu comigo e minha família. No momento de
grande desespero, pela perda de nossa mãe amada, quando as forças já não
correspondiam às necessidades e a alma demonstrava sua fragilidade, sentimos a
ação divina na presença das pessoas amigas que nos ajudaram. Foram anjos que
Deus colocou em nosso caminho para nos aliviar o peso da solidão e do silêncio
que retratava o que ia-nos na alma. Anjos que nos dirigiram palavras amigas de
conforto e confiança em Deus e transformaram aquele lugar em um ambiente de
constante oração. Anjos que se revezaram e foram incansáveis em seu papel de
samaritanos.
Assim,
quando a dor é nossa e sentimos o calor humano que nos cerca, devemos valorizar
a presença dessas pessoas que receberam de Deus o dom de fazer-se presente, de
aproximar-se e estender a mão aos que sofrem. Pessoas que sempre encontram um
tempo para deixar-se ficar, para entoar um canto, rezar o terço de Nossa
Senhora, lembrar-nos, através de palavras carregadas de fé, a presença e o amor
de Deus em todos os lugares, em todos os momentos da vida. E que essa mesma
misericórdia nos acompanha depois da morte. Pessoas que, pela constância de sua
missão, merecem nosso reconhecimento, e nossa gratidão mais profunda. Deus lhes
pague.
Luisa Garbazza
Publicado originalmente no Jornal Paróquia
Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho, agosto de 2014.
Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho, agosto de 2014.
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