sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Música e vida



Um acorde solitário fez-se ouvir.
E outro e mais outro soaram.
A melodia encheu o lugar.
De repente, a música ganhou vida.
Moveu-se timidamente:
era uma mocinha 
desabrochando-se para a vida.
Transformada em alegria,
saltava alegre pelos campos verdes.
De vez em quando parava quase totalmente
qual borboleta que pousa na flor mais bela.
Depois saía esvoaçante
dançava
bailava freneticamente nos campos floridos.
No auge da sua alegria
parou para respirar
e recebeu os aplausos do público.
Assim, inerte, ficou alguns segundos.
Quando voltou à cena
assustou-se imensamente.
Olhou em todas as direções.
Não conseguiu compreender o que havia acontecido.
Ficou enlouquecida.
Os movimentos mudaram o ritmo.
A alma assombrada, aterrorizada.
O tempo fechou-se totalmente,
tornou-se pesado, escuro, denso.
Os olhos arregalados temiam alguma coisa.
Não sabiam o que era.
Corria, tentava se esconder,
porém o campo, aberto demais,
deixava-a desamparada.
Corria para um lado, arredia,
esgueirava-se para outro.
A perseguição continuava.
Fatigada, caiu na relva, sem forças.
Voltou aos poucos.
Mexeu um braço, o outro.
Levantou cuidadosamente a cabeça.
Olhou entre as frestas dos cabelos que, despenteados, pendiam-lhe pela testa.
Olhou entre as folhas tentando alcançar ao longe.
O olhar cansado nada captava.
Ficou parada, pensativa, amedrontada, apreensiva.
Ora a natureza devolvia o silêncio,
ora o som ritmado do vento.
Levantou-se com brandura.
Deu um passo.
Hesitou.
Outros passos vieram,
rápido, mais rápido.
Andou, pulou, correu.
Deteve-se subitamente.
O tempo parou.
Desespero total.
O vento, abafando tudo,
cessou completamente.
Algumas borboletas vieram fazer-lhe companhia.
Um raio de sol apareceu por entre as nuvens.
Os lábios quase sorriram.
Fechou os olhos. Apertou bastante.
Ao abri-los, tudo havia mudado.
Tudo havia sumido.
Quando achou que estivesse perdida e só,
Virou-se calmamente.
Surpresa!
Ganhou novamente os aplausos do público.
O som, que se misturara com a alma,
era apenas música outra vez.
Luisa Garbazza
1º de agosto de 2014
Poema escrito sob as emoções da música do Quarteto Libertas.
Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Despacho

Nenhum comentário:

Postar um comentário