Dia quinze de abril
de 2014. Terça-feira Santa. A Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho faz
memória a Nosso Senhor dos Passos. Depois da Celebração Eucarística, em uma
procissão piedosa, organizada e bem participada, os fiéis saem, pelas ruas da
cidade, seguindo os passos de Jesus rumo ao calvário. Os homens conduzem o
andor – imagem de Cristo com a Cruz aos ombros – destino à Capela do Bom Jesus,
na Cruz do Monte.
A subida é lenta.
Vários grupos se organizam em oração constante. Oração pelos que sofrem, por
nós mesmos e por nossos pecados. Orações e preces de um povo que lamenta a falta
de fé, a maldade, a violência e a escravidão que ainda reina mundo afora. Outro
grupo solta os lamentos em forma de cantos que trazem ao presente, através das
palavras e da melodia, o sofrimento de Cristo. Para quem carrega o peso do
mundo, a subida é longa demais. Em cada parte do caminho, a dor se multiplica.
Sofre ao encontrar as mulheres que choram buscando consolação; ao cair, por
terra, cansado e abatido pelo peso da cruz; ao registrar no seu o olhar de
agonia da mãe amada; ao enfrentar as dores e as quedas com amor e resignação. –
A causa é nobre demais! E o amor, maior ainda!
Ao final da
caminhada, diante da capela do Bom Jesus, uma parada para reflexão.
Acompanhando as palavras do Padre Antônio Otaviano, refletimos sobre o objetivo
daquele momento em nossa vida e na vida da Igreja de Cristo. Em seguida, em um instante
de deslumbramento, ouvimos a Ave-Maria e a Salve Rainha cantadas, em Latim, por
duas freiras que visitam a cidade – Irmã Diana e Irmã Maria de Lourdes. Depois,
em uma só voz, sobe aos céus nossa prece por toda a cidade de Bom Despacho
através da oração do Pai-nosso.
No momento seguinte,
a imagem de Jesus é levada para dentro da capela e inicia-se a peregrinação do
povo de Deus, que tanta necessidade tem de sentir a presença de Jesus, em
emoções concretas, através do toque das mãos. Sem se importar com a morosidade
dos passos ou com a demora, continuam a caminhada, um a um, aproximando-se de
Nosso Senhor dos Passos. Os olhares buscam o rosto ensanguentado e os olhos
tristes de Cristo. Um instante de intensa conexão com o Pai do Céu. Ali são
depositados os anseios e as interrogações contidas no coração. Todos que por
ali passam, deixam transparecer a fé e a ânsia por algo que o mundo não pode
lhes oferecer. Gestos e olhares denunciam a sede de Deus.
Sentada no banco,
conservando a emoção do momento, posso observar a reação daquelas pessoas. Uns
olham para Jesus fixamente, não só com os olhos, senão com o coração. Outros lhe beijam os pés em uma manifestação
de humilde pertença. Algumas pessoas deslizam as mãos por suas vestes como se
ali depositassem todos os seus anseios. Há os que desejam ardentemente uma
proximidade maior: toques e gestos vão se sucedendo. E os que sobem em algum
lugar para tocar a coroa de espinhos daquele homem, que tanto sofreu para nos
salvar, pedindo alento para as próprias dores. A cruz também é tocada em sinal
de compaixão. Em dado momento, visualizo uma senhora: olhar sofrido e ares de
cansaço. Aproxima-se, sem pressa, arrastando os pés. Chega bem perto da imagem.
Passa as mãos pelas vestes de Jesus, toca-lhe os pés e beija-os, ergue os
braços e segura-lhe as mãos. Olhando-o fixamente nos olhos, fica inteiramente
imóvel. Parece que o tempo parou. Seguem-se alguns minutos de silêncio. Ninguém
empurra nem reclama. A senhora continua seu diálogo silencioso com o Mestre dos
mestres até saciar a sua sede de Deus e sentir-se completa. Depois, passa as
mãos pelas faces de Jesus e retira-se devagar. A peregrinação continua.
Luisa Garbazza
Publicação do mês de maio no jornal "Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho".
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