domingo, 9 de dezembro de 2012

Lembranças


Quando somos jovens, a ânsia é pela vida plena, pelos acontecimentos rápidos e variados que preenchem todos os espaços de cada momento vivido. Queremos correr contra o tempo. Vinte e quatro horas é pouco para realizarmos tudo quanto planejamos. Até o sono, algumas vezes, fica em segundo plano. Temos urgência em viver sempre mais intensamente e construir o amanhã, realizando projetos, concretizando sonhos. Mas, à medida que vamos nos amadurecendo e olhando a existência de uma forma mais serena, o futuro já não tem a mesma prioridade e abrimos espaço para as lembranças. Elas vêm e vão trazendo à tona imagens dos tempos idos, porém nunca esquecidos.
Como é terno trazer à memória os primeiros momentos que guardamos na consciência! Ainda pequenos, a figura dos pais era sinônimo de proteção, carinho, confiança. Deles vêm os exemplos que nos acompanham pela vida toda. Vêm, também, as brincadeiras, que divertiam e muito nos ensinavam. Seguem as primeiras “aventuras” – que hoje já não têm as proporções de antes – marcando o início de nossa independência; as primeiras letras abrindo o caminho do saber; as mãos que se juntavam em preces “ao papai e à mamãe do céu”. Tudo muito simples e verdadeiro.
Depois vêm as recordações da vida em família onde tudo era em comum. A companhia dos irmãos nos momentos bons ou ruins; a presença dos pais que nos ensinavam a arte de amar, de repartir, de respeitar uns aos outros; a catequese, reforçando a onipotência de Deus, nos preparando para o sacramento da Penitência e para receber Jesus na Eucaristia pela primeira vez. Cada conquista era motivo de orgulho, tanto para nossos pais quanto para nós mesmos.
Um tempo forte de lembranças é a adolescência/juventude. Ah! Essa fase! Cheia de encantos, certezas, ilusões. Vivemos em paradoxos: ora uma tristeza profunda nos faz sentir solitários sem razão alguma; ora uma alegria desmedida, gratuita nos impulsiona a rir e celebrar a existência. Ali nos preparamos para a vida: questionamos muito; tentamos consertar o mundo; tivemos um encontro mais sólido com Deus (Crisma); firmamos amizades; formamos nossos próprios conceitos.
O tempo passa e remontamos à fase jovem/adulta. Os estudos, que agora precisam ser levados mais a sério; a corrida para conseguir aprovação no vestibular; a procura por um emprego digno que preencha nossos anseios. Paralelamente, outras lacunas vão sendo preenchidas. Uns se consagram a Deus, outros permanecem sós. A maioria procura um amor “que seja bom pra mim” e constituem nova família gerando filhos que, de uma forma ou de outra, vão trilhar os mesmos caminhos continuando assim o ciclo da vida.
Nessas ocasiões de volta ao passado, muitas coisas ficam guardadas para sempre nas gavetas do inconsciente. Outras voltam, de vez em quando, provocando sorrisos ou apertos no coração. São todas bem-vindas, pois fazem parte da construção da nossa história. As alegrias são combustíveis em nossa caminhada para a tão sonhada realização pessoal. As quedas nos ensinam que somos seres humanos imperfeitos e a felicidade almejada é uma busca constante.
De volta ao presente, vamos intercalando os momentos vividos em tempo real com os devaneios das curvas do passado. O último mês do ano se adianta. Estamos vivendo mais uma vez o tempo do advento – preparação para a vinda do Messias. Então, quando cessarem as confraternizações natalinas e terminar o dia de Natal, aproveitemos o 26 de dezembro – Dia da Lembrança – para reviver a alegria dos encontros, o carinho dos abraços, os presentes trocados, os momentos de oração e, acima de tudo, o nascimento de Jesus, que permanece dia a dia em nosso meio.
Luisa Garbazza
Dezembro de 2012

Publicado originalmente no jornal "Paróquia" 
 Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho - mês de dezembro.

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