Quando
somos jovens, a ânsia é pela vida plena, pelos acontecimentos rápidos e
variados que preenchem todos os espaços de cada momento vivido. Queremos correr
contra o tempo. Vinte e quatro horas é pouco para realizarmos tudo quanto planejamos.
Até o sono, algumas vezes, fica em segundo plano. Temos urgência em viver
sempre mais intensamente e construir o amanhã, realizando projetos,
concretizando sonhos. Mas, à medida que vamos nos amadurecendo e olhando a
existência de uma forma mais serena, o futuro já não tem a mesma prioridade e
abrimos espaço para as lembranças. Elas vêm e vão trazendo à tona imagens dos
tempos idos, porém nunca esquecidos.
Como
é terno trazer à memória os primeiros momentos que guardamos na consciência!
Ainda pequenos, a figura dos pais era sinônimo de proteção, carinho, confiança.
Deles vêm os exemplos que nos acompanham pela vida toda. Vêm, também, as
brincadeiras, que divertiam e muito nos ensinavam. Seguem as primeiras
“aventuras” – que hoje já não têm as proporções de antes – marcando o início de
nossa independência; as primeiras letras abrindo o caminho do saber; as mãos
que se juntavam em preces “ao papai e à mamãe do céu”. Tudo muito simples e
verdadeiro.
Depois
vêm as recordações da vida em família onde tudo era em comum. A companhia dos
irmãos nos momentos bons ou ruins; a presença dos pais que nos ensinavam a arte
de amar, de repartir, de respeitar uns aos outros; a catequese, reforçando a
onipotência de Deus, nos preparando para o sacramento da Penitência e para
receber Jesus na Eucaristia pela primeira vez. Cada conquista era motivo de
orgulho, tanto para nossos pais quanto para nós mesmos.
Um
tempo forte de lembranças é a adolescência/juventude. Ah! Essa fase! Cheia de
encantos, certezas, ilusões. Vivemos em paradoxos: ora uma tristeza profunda
nos faz sentir solitários sem razão alguma; ora uma alegria desmedida, gratuita
nos impulsiona a rir e celebrar a existência. Ali nos preparamos para a vida:
questionamos muito; tentamos consertar o mundo; tivemos um encontro mais sólido
com Deus (Crisma); firmamos amizades; formamos nossos próprios conceitos.
O
tempo passa e remontamos à fase jovem/adulta. Os estudos, que agora precisam
ser levados mais a sério; a corrida para conseguir aprovação no vestibular; a
procura por um emprego digno que preencha nossos anseios. Paralelamente, outras
lacunas vão sendo preenchidas. Uns se consagram a Deus, outros permanecem sós.
A maioria procura um amor “que seja bom pra mim” e constituem nova família
gerando filhos que, de uma forma ou de outra, vão trilhar os mesmos caminhos
continuando assim o ciclo da vida.
Nessas
ocasiões de volta ao passado, muitas coisas ficam guardadas para sempre nas
gavetas do inconsciente. Outras voltam, de vez em quando, provocando sorrisos ou
apertos no coração. São todas bem-vindas, pois fazem parte da construção da
nossa história. As alegrias são combustíveis em nossa caminhada para a tão
sonhada realização pessoal. As quedas nos ensinam que somos seres humanos
imperfeitos e a felicidade almejada é uma busca constante.
De
volta ao presente, vamos intercalando os momentos vividos em tempo real com os
devaneios das curvas do passado. O último mês do ano se adianta. Estamos
vivendo mais uma vez o tempo do advento – preparação para a vinda do Messias.
Então, quando cessarem as confraternizações natalinas e terminar o dia de
Natal, aproveitemos o 26 de dezembro – Dia da Lembrança – para reviver a
alegria dos encontros, o carinho dos abraços, os presentes trocados, os
momentos de oração e, acima de tudo, o nascimento de Jesus, que permanece dia a
dia em nosso meio.
Luisa
Garbazza
Dezembro de 2012
Publicado originalmente no jornal "Paróquia"
Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho - mês de dezembro.
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