O
dia 26 de julho, dia de Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus, conforme consta
na literatura, é dedicado aos avós, de maneira generalizada. Mas, nessa
sociedade contemporânea que valoriza ao extremo o culto ao corpo e ninguém quer
envelhecer, é comum vermos avós de quarenta anos, ou até menos, que nem gostam
dessa denominação. Por isso costumo pensar nesses santos representando os
“velhinhos”.
As
imagens que temos de Santa Ana e São Joaquim nos mostram um idoso casal, numa
época em que os anciãos eram respeitados pela experiência de vida, pela
sabedoria acumulada e transmitida de geração em geração. Os dois já estavam com
idade avançada e ainda não tinham filhos, o que era motivo de vergonha entre os
judeus. Mas a esperança e a fé em Deus foram mais fortes. Eles não desistiram
e, apesar da idade, santa Ana ficou grávida de Maria. Benditos sejam!
Hoje
a relação da sociedade com os idosos é bem diferente. Muitos não são cuidados
como necessitam, nem amados, nem sequer ouvidos. Com uma valorização abaixo do
merecimento, porém dignos de admiração, eles ficam ali, quietos, às vezes até
“invisíveis”, com uma aura de nostalgia que a uns enleva e a outros incomoda.
Por tudo que viveram e construíram, mesmo que em mínima escala, são merecedores
de respeito e veneração. E precisam ser valorizados pelos que nos prestaram.
Está tudo ali, assinalado no semblante, na fala cansada, na lentidão, no modo
de andar e de agir.
O
rosto estampa as marcas de toda uma vida. Em cada ruga a vida se incumbiu de
registrar as dificuldades vividas, os desafios vencidos ou contornados, os
conflitos superados. No olhar, por vezes tão distante, pesado – fechando-se
durante alguma conversa –, percebe-se a sabedoria adquirida dia a dia durante
todos os anos da existência. Bem no fundo dos olhos é visível a riqueza de pensamentos,
de aprendizados e de vivência, disponíveis a qualquer um que se dispuser a
ouvi-los. Mesmo que a voz não ajude muito eles gostam de transmitir seus
feitos. Ah!... As histórias dos velhos! Não há quem não aprenda com elas.
Os
cabelos, grisalhos ou brancos, são sinais de muita peleja. Em cada fio de
cabelo branco está gravada uma lembrança. Todas estão ali acumuladas. Aquelas
que se traduziram em plena felicidade e ainda provocam risos e saudades
imensas; as que machucaram profundamente e que de vez em quando voltam em forma
de lágrimas silenciosas; e as que nem merecem ser lembradas, por serem
insignificantes ou por terem sido superadas.
E as
mãos? Qualquer olhar consegue perceber a debilidade em que se encontram. Hoje
tão pouco requisitadas vão perdendo os movimentos. A pele fina, envelhecida,
manchada; alguns dedos encurvados... São traços deixados pelo trabalho – às
vezes duro, sob o sol escaldante –, pelas ações solidárias, pela luta na terra.
Mas essas mãos, apesar de enfraquecidas, ainda querem ser úteis e estão sempre
prontas para abençoar e se unir em oração. É a maneira mais concreta de
permanecer em sintonia com Deus.
Aqueles
pés fatigados, que andam pouco ou nem isso conseguem, carregam o peso da
caminhada, da construção da própria vida, da luta pela sobrevivência, da
formação da família, do apoio aos filhos e tantas outras trilhas paralelas que
a vida foi lhes reservando.
Por
tudo isso, eles precisam ser tratados com amor e ternura. Mais que leis
estampadas em um estatuto, muitas vezes sem serem cumpridas, precisamos de
práticas de amorização e respeito por essas pessoas que já fizeram tanto por
nós e que já escreveram sua página na história da humanidade. Gostaria que não
fosse utopia o desejo de ver nossos idosos ocuparem um lugar privilegiado na
sociedade, nas famílias e no coração das pessoas. Assim seria mais fácil
conservar alguns valores que fazem tanta diferença na construção de um mundo
mais justo, humano e cristão.
Luisa
Garbazza – 23 de junho de 2012
Crônica publicada originalmente no jornal "PARÓQUIA",
da Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho no mês de julho de 2012.
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