quarta-feira, 9 de março de 2016

Via dolorosa

A Quaresma é um tempo propício para uma reflexão acerca de nosso modo de viver a vida e de conviver com nossos irmãos em Cristo. Como nos deixou escrito o Servo de Deus Pe. Júlio Maria (Comentário de Vida Litúrgica do Evangelho Dominical, p. 174): "Que tempo pode haver mais favorável para inspirar-nos um verdadeiro ódio ao pecado, do que o tempo da Quaresma, consagrado à paixão e morte do Salvador? (...) As graças são mais abundantes, e todos os ofícios da Igreja, bem como todos os ensinamentos da Liturgia, tem por fim excitar em nós o ódio ao mal e a vontade de fazer o bem." Um desses “ofícios da Igreja”, proposto para esse tempo de conversão, é a Via-sacra: um exercício religioso de oração e meditação.
O exercício da Via-sacra surgiu na época das Cruzadas, nos séculos XI a XIII, época em que os fiéis vinham de longe, percorriam os lugares santificados pela vida, paixão, morte e glorificação de Cristo e quiseram reproduzir, no ocidente, toda essa peregrinação. Reproduziram então em 14 quadros representando as estações, quer dizer, a via dolorosa que nos apresenta as principais cenas da Paixão de Cristo a serem meditadas.
Aqui, na Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho, sempre houve o costume de se fazer a “Via Sacra”. Individualmente ou em grupos, os fiéis reservam um tempo, durante esses quarenta dias, para caminhar com Jesus por essa “Via Crucis”. Além dos textos tradicionais para se meditar nessa caminhada, temos a proposta sugerida pela CNBB, que abrange, além dos passos de Jesus, o tema da Campanha da Fraternidade. Em 2016, meditamos sobre “CASA COMUM, NOSSA RESPONSABILIDADE”. É um apelo para tratarmos o planeta, nossa casa comum, com uma dose extra de carinho. Se é uma casa comum, é dever de todos cuidar para que seja preservada.
Essa Via-sacra, proposta pela CNBB, está sendo realizada, em todas as comunidades, como parte dos encontros propostos para a Campanha da Fraternidade. Na Igreja Matriz, estamos rezando toda quarta e sexta-feira, às 18 horas. A cada dia, um número crescente de fiéis junta-se a nós para esse momento de oração. Um grupo que se une em preces, que eleva o pensamento e a voz a Deus, reza, pede, agradece, canta. Com a participação de todos, vamos andando, sem pressa nem atropelos, em volta da igreja, acompanhando os passos de Jesus.
Em cada passo, a presença de Jesus: que enfrenta a prisão; é condenado por Pilatos diante da multidão; cai por terra e ora ao Pai: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice!”; encontra-se com sua mãe; recebe ajuda de Simão, o Cirineu; obtém instantes de refrigério quando Verônica enxuga-lhe o rosto; cai pela segunda vez; consola as mulheres de Jerusalém; sucumbe, pelo peso da cruz, e cai por terra pela terceira vez; é despido de suas vestes; é crucificado; morre na cruz; José de Arimateia retira o corpo de Jesus; Jesus é sepultado. Todo esse sofrimento foi para nossa salvação.
Em cada estação, os pedidos de socorro para nós e para essa terra – nossa casa comum: justiça para todos; libertação de todo aprisionamento que prejudica a vida; reerguimento de todos os abandonados e esquecidos da terra; ajuda para que as religiões cresçam no diálogo que promove o cuidado com a vida; eficiência no cuidado da família global; saída de nós mesmos para mudar a sociedade; prática da justiça e da verdade; valorização, no interior da Igreja, da atuação pastoral; combate à corrupção que impede o desenvolvimento de políticas sustentáveis; avivamento das comunidades cristãs; desejo da prática do bem; trabalho para a criação de um mundo onde os limites sejam superados; cura da maldade que destrói a vida; perdão pelas vezes que prejudicamos a criação com a nossa poluição; o compromisso de fazer alguma coisa para que o mundo seja melhor.

No final, a vitória de Cristo e o pedido: Ó Pai, ajudai-nos a descobrir que estais vivo em cada criatura, para manifestar a glória do Ressuscitado. E, ainda, o agradecimento, pois o cansaço do corpo é compensado pela leveza da alma que se eleva a Deus e dá graças por todos os benefícios que Ele nos concede.
Luisa Garbazza
Publicação do Jornal "Paróquia N. S. do Bom Despacho"
Março de 2016

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