Quinta-feira, quatro de
junho de 2015 – Dia de Corpus Christi.
O dia abriu suas janelas e
presenteou-nos com uma manhã clara e fria. Os primeiros raios de sol
limitavam-se a tocar o topo dos edifícios quando saímos de casa em missão:
enfeitar as ruas, no entorno da Praça da Matriz, para a procissão.
Quando chegamos à praça, um
grupo reduzido de pessoas já nos esperava, aguardando que fosse dada a largada
para o início dos trabalhos. Nada ainda havia sido providenciado. Nesse
momento, chegou o caminhão trazendo a serragem – matéria-prima para os enfeites
– que foi distribuída em vários pontos da praça.
Olhei aquelas pessoas aqui e
ali. Passei os olhos pela extensão das ruas. Observei os impressos dos desenhos
em minhas mãos. “Não vai dar tempo. É muito trabalho a ser feito!” Sem criar
expectativas, fui distribuindo as cópias dos desenhos. Havíamos combinado três
grupos, que se responsabilizariam por determinado espaço com um tema
específico: para o primeiro grupo, o tema seria “O Ano da Vida Consagrada”;
para o segundo, o “Ano da Paz”; o terceiro grupo homenagearia “Dom Aristeu”, o
recém-ordenado bispo da Diocese de Luz.
O tempo se adiantava. As
ruas foram interditadas. Esperávamos os desenhistas que haviam confirmado
presença. Uma ponta de insegurança perpassou meus pensamentos. Tratei logo de
afastá-la: “A obra é de Deus. Há de dar certo!” E assim aconteceu. Algumas
mulheres chegaram com vassouras e baldes e começaram a varrer as ruas e
recolher o lixo. Alguém trouxe pedaços de gesso que serviriam para riscar os
desenhos. Delimitados os espaços, as imagens foram surgindo no chão duro e
cinza. Quem tinha o dom, traçava os desenhos mais complexos com facilidade.
Outros arriscavam, cheios de vontade. Alguns descobriram o dom, ali mesmo,
impelidos pelo desejo de ajudar.
Acudindo aqui e ali, fui percebendo os fatos.
Uns riscavam, outros carregavam serragem e espalhavam, cuidadosamente,
observando cores e espaços. Com delicadeza, faziam os contornos e os riscos
ganhavam vida e beleza. Era um trabalho demorado. O sol já ia alto. Havia muito
a ser feito. Lembrei-me da frase: “A messe é grande e poucos os operários.”
No tempo de Deus é que as
coisas acontecem. Mais pessoas vieram ajudar. Uns carregavam serragem, outros
espalhavam, alguém ia mais longe buscar uma cor específica, tudo na mais bela
fraternidade: jovens, adultos, crianças, – Algumas bem pequeninas, que passavam
por ali, com os pais, e pediram para ajudar. – todos trabalhando,
incansavelmente. Alguns moradores dos prédios ofertaram café com quitandas
deliciosas: energia para continuar o trabalho. Outros iam ao encontro das
pessoas e serviam água, em um indo e vindo constante, o tempo todo, saciando a
sede do corpo já cansado e castigado pelo sol.
Nesse ritmo, a missão foi
cumprida. A praça, circundada por belíssimos desenhos, ganhou vida e cores. Os
últimos retoques ainda estavam sendo feitos e já alguns cuidavam da limpeza e
do recolhimento dos utensílios usados e das sobras. Uns tiravam fotos, outros
admiravam o fruto do trabalho – belo e significativo – feito por mãos humanas,
abençoadas por Deus.
No final da tarde, a
procissão com o Corpo de Cristo, passando sobre aqueles tapetes coloridos, foi
um momento de extrema espiritualidade e emocionou muita gente. No entanto, ali
na praça, naquela manhã fria de outono, em meio a tantos fiéis empenhados na
mesma missão, Deus também se fez presente e o milagre aconteceu.
Luisa Garbazza
Texto publicado no jornal "PARÓQUIA"
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